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Feijoada de Ogum marca último dia de do tríduo em homenagem ao santo
Gabriel Amorim
Publicado em 13 de junho de 2019 às 17:17
- Atualizado há um ano
Quarenta quilos de feijão e 600 pratos de feijoada servidos. Foi assim os festejos pelo dia de Santo Antônio na sede do Afoxé Filhos de Gandhy, no Pelourinho. O Tríduo que começou a ser celebrado na última terça-feira (11) chega ao fim nesta quinta (13). Durante os três dias de reza, o Afoxé prestou as homenagens a Santo Antônio, em uma tradição que já tem mais de 25 anos. Neste último dia, a famosa Feijoada de Ogum foi distribuída gratuitamente. Às 18h, acontece a última parte do ato religioso, com mais celebração e comida.
Para além da festa e da celebração, trata-se de um evento religioso. É o que explica o atual presidente da agremiação, Gilsonei de Oliveira. “A gente tá fazendo a obrigação mais um ano, seguindo o calendário religioso. Ogum é um dos regentes da nossa casa. Filhos de Gandhy não é só Carnaval, mas também a parte religiosa que a gente preserva e mantém dentro da nossa cultura”, destaca.
Para começar a servir o feijão a quem já esperava na fila, uma cerimônia foi realizada para marcar o caráter religioso da comemoração. Sentados à mesa, os primeiros a comer rezaram pai-nosso e ave-maria, para logo depois entoar cânticos ligados ao candomblé. Quem assistia pôde perceber que as portas da casa da agremiação estavam abertas para todos, independente do credo religioso. Os primeiros a comer rezaram um pai-nosso e uma ave-maria (Marina Silva/ CORREIO) Com a casa cheia, as motivações e religiões eram as mais variadas, e isso não pareceu incomodar a direção do Afoxé. “Tem gente que vem por Santo Antônio, outros por Ogum, esse orixá que abre caminho, esse orixá de luta, e tem gente que vem pelos Filhos de Gandhy, pela tradição da instituição. O Gandhy hoje é laico, aqui é uma casa ecumênica, que respeita a religião de cada um. Deus é um só, e religiões são caminhos, então, a gente abre para todos, independente de serem adeptos do Candomblé, da Umbanda, da Igreja Católica. A casa oferece amor e força”, defende Gilsonei.
Mão na massa Um dos responsáveis por servir a feijoada ao público, Paulo Axé, 52, está há 21 nos FIlhos de Gandhy. Desde o primeiro ano na agremiação, Paulo assumiu a função de coordenar as panelas da famosa feijoada. Enquanto conversava com o CORREIO, não parava de servir a fila de pessoas que esperavam para comer. “É com máximo prazer, mesmo com a noite perdida”, explica. Paulo Axé serve os 600 pratos da Feijoada de Ogum (Foto: Marina Silva/CORREIO) Paulo conta que começa os trabalhos para preparar a feijoada apenas quando o dia de Santo Antônio se inicia, na meia-noite do dia 13. Depois de uma noite cozinhando, ele não perde a alegria. E se engana quem pensa que o trabalho acabou com a feijoada, Depois de servir 600 pratos, Paulo vai voltar para a cozinha. “Agora tem a comida para depois da reza. Tem bolos, canjica, amendoim, milho”, conta.
Casa cheia A casa cheia é, inclusive, uma alegria para quem praticamente nasceu dentro do Afoxé. Ademir Santos, 44, por exemplo, está nos Filhos de Gandhy há 32 anos. Vendo a fila grande e a sede cheia de homens e mulheres, praticantes ou não do Candomblé, ele se diz feliz. “A nossa religião não tem preconceito e abraça a todos. Você já viu terreiro vazio? É assim, e não sai ninguém com fome”, avisa ele, que já tinha garantido o seu feijão.
Amigo de Ademir, Rigner Luciano, 33, tem 27 anos de Gandhy. Hoje percusionista no Afoxé, ele destaca a importância do momento. “A gente vem para agradecer, é um dia de muita alegria, de fé, de uma crença muito forte. Tem que vir todo ano, não dá para passar sem”, explica.
Quem concorda com Rigner é a auxiliar administrativa Itainá Rodrigues, 29, que veio mesmo grávida de quase 9 meses. Segundo ela, o pequeno Enzo Gabriel já estava aproveitando, antes mesmo de nascer; “A gente come o feijão e chega fica lerdo. Esse aqui já vai nascer na tradição”, conta ela, que garante a presença no próximo ano, de bebê no colo.
Aqueles que ainda quiserem celebrar o dia de Santo Antônio com os Filhos de Gandhy podem comparecer à reza que acontece hoje, às 18h, na sede da agremiação, no Pelourinho.