Flávia Azevedo: a louca da minha ex

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 23 de setembro de 2017 às 10:11

- Atualizado há um ano

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Há mulheres desequilibradas que transformam vidas de homens em verdadeiros infernos. Sim, elas existem. Mas, não são a regra e você sabe. Curiosamente, no entanto, quase todo homem com quem a gente começa a sair, já encontrou uma dessas exceções. Ou várias. É "a louca da minha ex", que a maioria deles tem. Normalmente a mãe dos filhos. Às vezes, uma ex-namorada. Fato é que "a louca da minha ex" é personagem conhecida nas relações entre homem e mulher.

De onde sai tanta "maluca"? Eu sei. Da covardia dos caras que não suportam perder e dizem que "as uvas estavam verdes", como a raposa de Esopo. Da autoestima doentia que depende de desqualificar alguém ("separamos porque sou bem melhor que ela"). Da aposta alta que eles fazem na nossa competitividade. E do mole que a gente dá quando não corta, logo na raiz, esse clássico da desonestidade masculina. 

Se eu começo a sair com um cabra e ele ensaia falar mal da ex, já entro num certo tédio e acendo meu sinal amarelo. Porque é assunto chato e o problema não é meu. Se ele chama ela de "louca", já sei, na hora, que se eu ficar ali, há grandes chances de que a próxima "louca" seja eu. 

Mais cedo ou mais tarde, eu vou pra esse lugar. Porque "a louca da minha ex" é uma necessidade masculina. O rótulo preferido na desqualificação da mulher que foi embora e/ou não se comportou como ele gostaria. E que insiste em "desobedecer". Essa mulher não pode ser ouvida, querida, respeitada. Ela não pode ser legal, interessante, nem, sequer, "normal". Tem que ser "louca". Pois é.

("Louca" é o adjetivo depreciativo mais facilmente aceito quando associado às mulheres. Veio substituir o "histérica" que caiu em desuso, na linguagem popular. Gruda na gente, desqualifica e eles sabem disso. Se você é uma mulher, já deve conhecer essa "técnica").

A "louca da minha ex" é muito útil para que eles ganhem processos judiciais. É famosa nos encontros familiares. É conhecida nas rodas de amigos. Nas relações com as novas namoradas, ela recebe um acréscimo de complexidade: a ex, normalmente, ainda "não aceitou a separação". Ela pode ter pedido, ela pode já ter casado outra vez, ela pode cagar pra ele. Não importa. Ela ainda quer.

Na fala de cada homem que diz "a louca da minha ex", para uma nova mulher, há a sugestão de que há um grão de amor ali. Ou uma tara. Uma obsessão. Isca mordida. Insegurança plantada. Competitividade estabelecida. Ciúmes na área. Pronto. Cenário confortável para grandes egos masculinos.

Com a ex desqualificada e a atual lutando pra ser "mais legal do que ela", mar de almirante pro marmanjo tomando cerveja diante da televisão. Até que a relação se aprofunde, a roleta gire e tudo comece outra vez. Ele, sem culpa de nada. A nova namorada rapidamente transformada em a "a louca da minha ex". 

Um joguinho que funciona. Sim, porque muitas de nós ainda enxergam, em toda mulher, uma rival. Não é. Não somos. A ex não é minha rival. E nem a mulher depois de mim. Meu rival é o homem que, sem um pingo de vergonha, esculaxa a mãe dos filhos, a primeira namorada, a garota com quem ele esteve até a semana passada. Porque "elas" são "nós", entenda. Não é necessário amar cada uma para defender quem somos, coletivamente. É questão, apenas, de conhecer o meu lugar. Eu sei. Saiba também. 

(Nem vem que não tem)

(Vamos acordar)

(A próxima "louca" eu quero ouvir)

(Vou convidar pra jantar)