'Foi uma noite de horror', diz mulher que viu suas 30 carpas morrerem por água com cloro

Animais têm morrido por causa de água alterada em Salvador e RMS

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 17 de maio de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Chegar do trabalho, acender as luzes da varanda e checar se está tudo bem com a sua criação de peixes. Uma vez por semana, era natural para a corretora de seguros Raymeire Vieira, 37 anos, completar também o nível de água do lago artificial que tem em casa usando uma mangueira. Na última segunda-feira (13), no entanto, a rotina se tornou um pesadelo. Trinta minutos depois de adicionar água ao pequeno lago, Raymeire viu a sua criação com mais de 30 peixes começar a morrer.

As carpas, que Raymeire criava há quatro anos, não resistiram à adição de pouco menos de 50 litros d’água vindos do encanamento da Embasa, que enfrenta um problema na qualidade da água fornecidfa desde o final de semana. Nesta quinta-feira (16), a empresa anunciou um racionamento em nove municípios até solucionar o problema.“Foi uma noite de horror. Em muito pouco tempo, percebi os peixes morrendo. Não sabia o que fazer, fora da água eles morreriam, dentro d’água estavam morrendo também. Eu fiquei desesperada”, conta.O lago artificial do lado de fora da casa da corretora, em Buraquinho, tem, segundo ela, capacidade para aproximadamente 2,5 mil litros. A quantidade de água adicionada, correspondia, portanto, a apenas 2% do total. Para tentar salvar os peixes que não morreram imediatamente, a criadora os transferiu para uma bacia e trocou toda a água do lago. “Quando troquei a água, ela espumava, como se eu tivesse colocado sabão”, lembra ela.

Não adiantou. Os nove peixes que sobreviveram à noite, morreram no início na manhã de terça-feira (14), deixando a dona desolada. “Na terça eu chorei a manhã inteira, nem fui trabalhar. Os peixes são um trabalho de quatro anos, todo um cuidado, um esforço, jogado fora”, lamentou.

Nesta quinta-feira (16), a Vigilância Ambiental de Salvador fez testes na água e constatou um aumento na concentração de cloro, embora está ainda estivesse dentro do limite estabelecido pelo Ministério da Saúde.

Os peixes criados por Raymeire eram, em sua maioria, carpas. Os animais eram de cores diversas: laranja, vermelha, branca, platinada. A criadora tinha até a chamada carpa koi, um tipo mais caro do peixe. Comprados pequenos, depois de quatro anos os peixes já haviam atingido 30 cm de comprimento e seus valores variam de R$ 600 a R$ 800. As 30 carpas de Raymeire não resistiram à água (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Sem entender A corretora conta que ficou abismada com a reação rápida que atingiu os peixes com a adição de tão pouca água. “Eu colocava ainda mais anticloro e nada resolveu. Não sabia o que fazer”, detalhou. Há pouco mais de um ano, por conta de um vazamento na estrutura do lago, Raymeire rotineiramente precisava encher metade da capacidade do lago novamente a cada dia. Naépoca, nada aconteceu.

Dessa vez, uma quantidade infinitamente menor de água adicionada foi suficiente para matar toda a criação de peixes. Além do prejuízo emocional incalculável, a criadora suportou com a morte dos peixes o prejuízo financeiro. Apenas em uma das lojas em que comprava materiais e os próprios peixes, foram R$ 2.100 investidos em quatro anos de criação.

Quando foi buscar respostas, a corretora diz que não encontrou acolhimento. “Liguei para a Embasa e a resposta foi que iria ser registrada a minha insatisfação com a qualidade da água, mas que o meu prejuízo financeiro eu teria que resolver pessoalmente. É uim descaso, parece que não estão nem ai”, reclamou. O Procon acompanha o caso.

Com o lago vazio, a criadora decidiu investir em peixes filhotes e começar de novo. Comprar carpas com tamanho próximo dos que morreram custaria por volta de R$ 200 por peixe.

Animais morrendo Responsável por uma das lojas frequentadas por Raymeire, Amélia Medrado, que há mais de 20 anos trabalha no ramo de criação de peixes, não se assusta com a situação. Só nesta semana, além da cliente de Buraquinho, a empresária recebeu na Coral Pet, loja especializada em peixes, quase dez clientes que tiveram os animais mortos por conta da água. Os 25 peixes de Luislinda que estavam no aquário maior morreram (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Em Salvador, uma das atingidas pelo problema, foi a diarista Luislinda Santana, 53. Há seis meses, a diarista decidiu começar a criar peixes de pequeno porte em casa. Foi comprando aos pouquinhos até concluir a criação, comprando os últimos dez peixinhos na quarta-feira (8).

Uma semana depois, para cuidar dos animais, Luislinda resolveu trocar a água do aquário. Mesmo com anticloro, em trinta minutos, os 25 peixes estavam mortos.“Eu chorei. A gente trabalha, compra os peixes, cuida direitinho e eles morrem assim”, lamenta.Na casa da diarista, apenas um peixinho sobreviveu. Por ficar em aquário menor, que não teve a água trocada, o peixinho não enfrentando o problema.

“Se colocar na água direto eles morrem. Os mais resistentes podem até não morrer imediatamente mas morrem aos poucos. É como se o excesso de cloro queimasse a pele do peixe”, explica Luis Henrique, um dos funcionários responsáveis por criar os peixes vendidos na Coral Pet.

A propria loja, inclusive, tem enfrentado problemas para manter os animais que cria. Segundo Amélia, desde o ano passado os custos têm aumentado. “Antes usávamos um anticloro simples, agora temos que usar um mais potente e mais caro porque a qualidade da água está ruim. Tivemos que instalar todo um sistema extra de filtragem para manter os peixes”, conta a empresária.

A qualidade da água fez aumentar não só o custo de quem trabalha com peixes, mas daqueles que querem criar os animais. Segundo Amélia, quem quiser ter um peixe beta, aquele mais simples que são vendidos em saquinhos nas feiras, precisa investir, no mínimo, R$ 75,60. Antes, o custo era de R$ 22,50.

O que muda é que agora é preciso comprar, para manter o animal, não só um, mas três produtos que garantam a qualidade da água para mantê-los vivos. Além do anticloro potente, é preciso comprar, por exemplo, testes de pH para garantir que a água está alcalina o suficiente. Na loja Coral Pet, Amélia Medrado recebeu 10 clientes cujos peixes morreram (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) *Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro*