Forças policiais propõem criação de comitê de segurança do Centro Histórico 

Grupo se reuniu em debate virtual, promovido pelo Instituto ACM e Ache

  • Foto do(a) author(a) Marcela Vilar
  • Marcela Vilar

Publicado em 30 de abril de 2021 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/Arquivo CORREIO

A vendedora ambulante Érica dos Santos 40, que mora no Barbalho e trabalha no Pelourinho há mais de 20 anos, nunca passou por nenhum inconveniente no Centro Histórico. Para ela, ali é um local seguro. “Nunca aconteceu nada comigo nem com minha família, ninguém nunca mexeu com a gente”, relata. Contudo, ela confessa que sempre vê “meninos vagando” e “fazendo besteira”. Ela se refere aos furtos e roubos que acontecem naquela região da cidade, em que o principal alvo são turistas.  

O CORREIO conversou com moradores, comerciantes e lojistas do Centro Histórico, na tarde de ontem (29), e todos relataram a mesma coisa: com eles, que são “da área”, nada havia acontecido. Porém, com visitantes e com quem “vem de fora”, as ocorrências são frequentes. Com o objetivo de unir forças para combater o sentimento de insegurança que paira sobre essa parte da cidade, forças policiais propõem a criação de um Comitê de Segurança Pública do Centro Histórico.  

A proposta foi trazida pela delegada Maritta Souza, titular da Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), localizada no Pelourinho, durante um debate virtual realizado pelo Instituto Antonio Carlos Magalhães de Ação Cidadania e Memória (IACM), em seu canal do youtube (reveja aqui). O IACM é uma organização privada sem fins lucrativos que visa promover a cultura contemporânea, patrimônio e educação. A apresentação ficou a cargo de um dos programa do instituto, o Patrimônio Bahia, atuante na valorização do patrimônio material e imaterial baiano. 

“Iríamos apresentar fatos delituosos que têm ocorrido e como trabalhar em cima deles, poderíamos apresentar projetos e execução desses projetos para o Centro Histórico, também trazer à luz o que poderíamos fazer, de imediato, para a solução de algum tipo de algum crime que tenha aumentado naquela semana, com operações em conjunto”, enumera Souza, em relação às possíveis funções do Comitê.  

Os membros dessa comissão, que teria caráter permanente, seriam os mesmos que estiveram na roda de conversa virtual: o delegado Maurício Moradillo, titular da 1ª Delegacia da Polícia Civil; o tenente coronel Antonio Magalhães, do Batalhão Especializado de Policiamento Turístico (BEPTur); o tenente coronel Carlos Albuquerque, comandante do 18º Batalhão de Polícia Militar da Bahia (PM-BA), Maurício Lima, diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência da Guarda Civil Municipal (GCM) de Salvador e a assessoria da 1ª Vara da Infância e Juventude, Manuela Lima.  Debate virtual propõe união entre forças da segurança pública para mais policiamento no Centro Histórico de Salvador. Crédito: Reprodução/Youtube. A transmissão, ao vivo pelo YouTube, também foi feita pela Associação do Centro Histórico Empreendedor (Ache), criada em 2020, e ativa no fortalecimento do turismo, do comércio, da cultura e união dos empreendedores do Centro Histórico de Salvador. O mediador foi o vice-presidente da Ache, o empresário Leonardo Régis. O apoio é da Rede Bahia. O debate, que teve como tema “Segurança Pública e Uma Gestão Compartilhada”, foi o segundo da série “Patrimônio Bahia: Centro Histórico em Ação – Diálogos”.  

União pela segurança pública  A delegada propôs ainda que fossem acrescentadas a 2ª e 3ª delegacias da Polícia Civil, a Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI) e o Conselho Tutelar. “Visto que muitos desses jovens que praticam delitos no Centro Histórico são adolescentes, precisa ter esse acompanhamento também”, argumenta Maritta.  

A assessora da 1ª Vara da Infância e Juventude, Manuela Lima, apoia a criação do comitê. “A criação do comitê é de extrema importância, incluindo os conselhos tutelares e as varas de ato infracional”. Na região do Pelourinho, o órgão trabalha há mais de 20 anos em um posto físico, onde existem 30 agentes. Ele uniria forças ao comitê. "Estamos ali para orientar e ajudar, de forma protetiva, crianças, famílias que estejam em situação de vulnerabilidade com crianças e crianças na rua em situação maus tratos. Os agentes as abordam e vão tentar, junto com a rede de assistência, resolver esse tipo de demanda”, esclarece.  

Para o delegado Maurício Mauradillo, essa união entre os órgãos públicos para garantir uma segurança mais efetiva no Centro Histórico - considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco desde 1985 e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) - é essencial para o avanço das investigações em curso. 

“Há uma necessidade de trocas de informações entre unidades policiais, de pessoas que corriqueiramente vêm praticamente crimes na área do Centro Histórico. Vai possibilitar que essas ações de controle e de policiamento não só do Centro, mas do entorno, melhore bastante”, acredita o delegado. De acordo com Mauradillo, isso já rendeu bons frutos. Em um mês, período que ele está na gestão da 1ª Delegacia da Polícia Civil, quatro pessoas foram autuadas em flagrante. “É um sinal que as polícias estão trabalhando, prisões estão sendo feitas”, pontua.  

Além da interação entre as forças de polícia, o tenente coronel Antonio Magalhães diz que o objetivo é também trabalhar com a comunidade local. “Precisamos fazer uma integração maior com a comunidade local porque já temos uma interação muito boa entre as instituições de policias. Temos que ter um olhar voltado ao cidadão residente, aos comércios locais, sempre de acolhimento do que vem de fora e pra quem se encontra nesses locais com o objetivo que reconheçam o papel da polícia e tenham um respeito, para fazer um policiamento de eficácia”, afirma.   

Com isso, haveria, também, um cuidado maior do espaço por parte dos soteropolitanos. “Essa gestão compartilhada vai fazer com que os interesses sejam comuns, da população, das policias e da sociedade como um todo, da prefeitura, governo do estado, e o zelo pelo Centro Histórico vai reverberar pela cidade toda", avalia o vice-presidente da Ache, Leonado Regis.  

Local seguro O coronel Carlos Albuquerque alega que o Centro Histórico é sim um espaço seguro. “Quem tem esse pensamento é minoria e certamente é aquela pessoa que não conhece, não conversa com que conhece a realidade do Centro Histórico. Temos uma quantidade muito grande de policiais distribuídos ao longo de todas as ruas, com vários pontos de policiamento em pontos estratégicos, onde você não encontra em nenhum lugar na Bahia”, argumenta.  

Essa ação dos policiais é não só para proteger os moradores, turistas e comerciantes de delitos, mas também proteger o patrimônio histórico da região. Os furtos, segundo ele, poderiam ser evitados com algumas precauções. “A pessoa estando atento ao celular, aos locais onde anda, evitando estar com uma corrente ostensiva, que chame muito a atenção, certamente entrará e sairá com boas recordações do Centro Histórico”, aconselha.  

Segundo a Deltur, os principais delitos registrados são de roubo de correntes – normalmente de ouro ou prata – e que, historicamente, o índice de crimes graves, como homicídios e latrocínios, é extremamente baixo. Até os próprios bandidos confessam que há segurança no local, motivo pelo qual saem de seus bairros de origem para roubar no Centro. “Muitas vezes ele respondem que, mesmo praticando delito, sabe que não será morto. Até o próprio meliante se sente mais seguro aqui, por isso pratica crimes aqui muitas vezes e não do local onde veio”, relata a delegada Maritta. 

Salvador receberá R$ 15 milhões para rede de monitoramento  O diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência da Guarda Civil Municipal (GCM) de Salvador, Maurício Lima, revelou, no debate virtual, que a prefeitura receberá um investimento de R$ 15 milhões do Banco Mundial, através do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (Prodetur), para a segurança pública. O montante será destinado a implementação de uma rede de monitoramento, que será coordenado e localizado na GCM.  

“É um investimento bem robusto, já estamos com estrutura física pronta aqui na sede, e ele tem foco na área turística, na orla atlântica e Centro Histórico. A obra física teve investimento na ordem de R$ 500 mil e, agora, a gente vem acompanhando o processo licitatório da tecnologia aplicada a essa central de monitoramento”, anuncia Lima. A previsão é que, das 200 câmeras de segurança que serão instaladas na central, 62 fiquem no Centro Histórico.  O diretor não mencionou data, mas que há grande possibilidade da quantidade de equipamentos aumentar, em um segundo momento.   

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro