Fórmulas simples não explicam a complexidade que nos rodeia

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  • Da Redação

Publicado em 30 de agosto de 2019 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Semana passada, no último dia 20 de agosto, chamou atenção o comportamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, que comemorou, de forma patética, a morte do sequestrador que mantinha 37 reféns em um ônibus. A comemoração efusiva, para um cristão e um representante eleito, num Estado Democrático de Direito, é um tanto contraditória. Não? Várias pessoas foram na mesma onda e também celebraram a perda de uma vida humana. Talvez um mal maior tenha sido evitado, mas a reação foi bastante doentia e preocupante.

Muita gente se olha no espelho e acredita não ter mácula; se enxerga como cidadão de bem, devoto religioso, seguidor de mandamentos tradicionais, trabalhador obediente, bom pagador de impostos. Mas, no fundo, creem numa fórmula pobre e reducionista: os problemas sociais serão resolvidos pela eliminação do outro, retirando o empecilho da "correta” convivência. O contraditório, as vozes e comportamentos dissonantes, as ideologias divergentes, os corruptos, comunistas, artistas devassos, esquerdistas, gaysistas, globalistas, ateístas, atrapalham o país (será?) e deveriam ser varridos. Não seria melhor colocar essa turma no divã?

Todos nós somos potencialmente perigosos! Não fique chocado. Para o psiquiatra e psicanalista Anthony Storr, falecido em 2001, que escreveu a Agressividade Humana, obra pouco conhecida, a própria agressividade seria inata em nossa espécie, não um efeito de frustações ou atividades externas. Para ele, sendo a agressividade algo biológico, deveria ser canalizada a coisas construtivas, positivas, e não ser altamente reprimida, com risco de criar efeito colateral ao próprio indivíduo (transtornos psíquicos) e à sociedade. “Somente quando o ímpeto agressivo é bloqueado ou frustrado, ele pode se tornar contestável e perigoso”.[1] Então é necessário que instituições e representantes estejam operando para favorecer que pessoas, com variados graus de agressividade (loteria biológica), descarreguem-na sem prejudicar as relações sociais, impedindo-as de serem lesivas à coletividade.

Quando autoridades louvam a morte de uma pessoa estão colocando toda a culpa no indivíduo e desprezando a espécie. Suas palavras também reverberam e dão vazão a comportamentos rudes, abrindo a caixa de pandora, permitindo que toda a desgraça reprimida venha à tona, vide a explosão de milicianos justiceiros. Também há fracasso na civilização em não ter socializado a vítima, considerando que seu padrão cognitivo seja reversível. Com isso, não quero dizer que todo indivíduo bem socializado se comportará, inevitavelmente, em completa sintonia com a lei, o que é uma grande falácia. Mas desprezar o poder dos aparelhos sociais, é, sem dúvida alguma, uma completa ignorância e sinal de pobreza psíquica, de gente que odeia usar a racionalidade.

 Fórmulas simples não explicam a complexidade que nos rodeia, somente fortalece crenças infundadas.

STORR, Anthony. A Agressividade Humana. Tradução Cleci Leão. São Paulo: Benvirá, p. 46, 2012.

Alan Rangel é doutor em Ciências Sociais/UFBA. e Professor da Faculdade Fundação Visconde de Cairu. 

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