Fórum Agenda Bahia 2018: Você sabe o que é Big Data?

Do filme na Netflix à geração de negócios, a ciência dos dados está por trás de tudo

Publicado em 22 de julho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Você já parou para se perguntar como é que o seu celular ou computador ‘sabem’ tudo sobre seus hábitos de consumo e gostos? Ou, já pensou no que faz a Netflix acertar a indicação dos filmes e séries que você gostaria de ver? 

Pois se nunca se fez essas perguntas antes, saiba que o mecanismo por trás disso vai além de um simples algoritmo de programação. Na verdade, é uma combinação deles, e atende pelo nome de Big Data, conjunto de informações ilimitadas disponíveis em meio online e que podem ser acessadas em tempo real. É também a capacidade de analisar essa infinidade de dados, transformando tudo nas informações que nos cercam no dia-a-dia. 

O Big Data - um dos temas que serão tratados no seminário Sustentabilidade do Agora, em 8 de agosto, durante o Fórum Agenda Bahia 2018 - tem uma infinidade de aplicações na nossa rotina. É o que explica Marcio Soussa, professor de Redes e Análise de Sistemas do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge).

Do exemplo trivial da Netflix, ao marketing eleitoral, passando pelo monitoramento do trânsito até a automação nas indústrias, tudo tem a chamada ‘ciência dos dados’ atuando nos bastidores.

CONFIRA TODAS AS NOTÍCIAS DO AGENDA BAHIA“Veja como mudou o processo de seleção para uma vaga de emprego: há algum tempo, as empresas incorporaram à análise curricular dos candidatos o que nós chamamos de pegada digital – ou seja, o conjunto de dados disponíveis sobre como a pessoa se apresenta nas redes sociais, como se comporta em discussões públicas, as causas em que se engaja, tudo que permita ter uma ideia de quem é aquele candidato por inteiro. E tudo isso é Big Data”, (Marcio Soussa)O professor acrescenta que o universo do Big Data se divide entre os dados estruturados e os não estruturados. Os estruturados são aqueles dados compilados e agrupados com outros dados semelhantes, com categorias e definições específicas, e estão à disposição para uma análise rápida. São normalmente gerados por empresas ou por objetos inteligentes, como os bancos de dados de firmas de RH ou os softwares que já trazem informações  que podem ser analisadas entre si rapidamente, dependendo do que se quer conhecer.

“Já os dados não estruturados não seguem categorizações prévias e demandam uma análise mais cuidadosa, normalmente com a intervenção do ser humano. Geralmente, são armazenados em tabelas de bancos de dados relacionais ou planilhas eletrônicas, como telefones, nome, endereço, etc.”, acrescenta Soussa. 

São os posts e comentários em redes sociais, as fotos, vídeos, áudios compartilhados, portais de notícias, entre outras informações também chamadas de dados sociais, enumera.

“Existem softwares que conseguem monitorar por palavras-chave o que é dito sobre determinado assunto nas redes sociais, mas esses softwares têm limitações. O monitoramento feito por máquinas não consegue identificar sarcasmo, por exemplo. Então, se alguém comenta ‘eu adoro acordar às 5 horas da manhã do sábado para ir a um compromisso importante e perceber que meu carro não liga’, a máquina vai ler o ‘eu adoro’ e interpretar como algo positivo”, exemplifica o professor da Unijorge.

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Compras na internet Você também já deve ter vivido a experiência de acessar o site de uma loja, percorrer várias páginas até encontrar um produto de que gostou, colocar o produto no carrinho e depois, desistir da compra. Pouco tempo após a ação, vai ver nas redes sociais, em anúncios de sites ou no seu e-mail o mesmo produto anunciado. 

“Isso acontece porque as plataformas de marketing digital conseguem acessar os cookies deixados durante a navegação do visitante e assim podem acompanhar o comportamento daquele consumidor. As empresas passam a oferecer argumentos específicos para reimpactar os usuários e concluir a venda. Isso se chama remarketing”, explica Marcio Soussa.  

Espécie de Irmã do Big Data, a internet das coisas (IoT) fornece os dados que serão cruzados e analisados. Isso porque ela está presente em dispositivos como smartphones, smart TVs, os carros e até as geladeiras inteligentes.

“Tudo isso gera uma quantidade massiva de dados interconectados todos os dias. O diferencial da análise de Big Data é justamente o cruzamento de todos esses dados e sua transformação em informações úteis para a oferta de melhores produtos e serviços”, pontua o professor de Redes e Análise de Sistemas da Unijorge

Cidadania digital Outro irmão do Big Data atende pelo nome de Dados Abertos, ou seja, “aqueles que podem ser usados e distribuídos por qualquer pessoa, sem restrições, contanto que indique-se a fonte dos dados e que a redistribuição seja feita nas mesmas condições ou licenças em que eles foram adquiridos”, define Marcio Soussa. 

Dados abertos estão muito relacionados às informações de órgãos públicos, como orçamentos e gastos do governo. Desde a criação da Lei de Acesso à Informação - LAI (lei nº 12.527/2011) a sociedade tem direito a acessar esses conteúdos. Em 2016, um decreto obrigou os órgãos públicos a desenvolverem seus planos de dados abertos.

George Santiago, do Observatório Social de Santo Antonio de Jesus, diz que a partir de 2016 também teve início um movimento cívico forte que aumentou o uso da computação e das tecnologias da informação (TI) para o monitoramento da administração pública. 

O Observatório Social em Santo Antonio de Jesus existe desde 2011 e foi o primeiro do Nordeste. George está há quatro anos na entidade. A iniciativa começou no Paraná e foi se espalhando para outros locais, congregando pessoas de diversas áreas como direito, administração, contabilidade, para implementar esse monitoramento das gestões municipais, estaduais e federais.

“Hoje se tem mais facilidade de recursos, linguagem, pessoas capacitadas. Antes, custava de R$ 10 a 30 mil para ter um super servidor. Mas hoje, com US$ 10 (cerca de R$ 40), você aluga máquina e espaço na nuvem para fazer o processamento”, diz George Santiago.

Assista vídeo da Faculdade Cáster Líbero sobre Big Data:

Mas, em muitos casos, o que está faltando ainda é o dado, acrescenta o integrante do Observatório Social,. Nos cursos que ele dá sobre dados abertos, o desafio é romper a cultura ultrapassada de manter sob sigilo o que deve ser público. “Costumo dizer que dados abertos geram conhecimento e conhecimento gera poder. Fazem o cidadão identificar onde está o mau uso do dinheiro público, fiscalizar as despesas do município. Dados abertos são as informações que não tem sigilo. Ao divulgar a folha do município, por exemplo, não precisa dizer a idade ou a data de nascimento do servidor” (George Santiago)Ainda segundo George, para surtir o efeito em prol da cidadania, os dados têm de ser divulgados sem manipulação do banco de dados, com transparência, salvo nos casos das informações protegidas por sigilo legal. 

Uma aplicação prática no uso de dados abertos para a fiscalização da administração pública, foi a demanda que o Observatório Social de Santo Antonio de Jesus recebeu da Associação Comercial local, quando estava mapeando as despesas do município.  “Eles nos procuraram para saber quantas empresas de Santo Antonio estão em licitações da prefeitura local. É uma demanda pertinente, pois tem relação com o fomento à economia da cidade, geração de negócios e empregos”, constata George.

Potencial de Salvador O pesquisador do Núcleo de Pós-Graduação da Escola de Administração da UFBA, Luciano Ataíde, que pesquisa justamente o impacto da abertura de dados na administração pública há dois anos, afirma que a abertura de dados governamentais permite ao cidadão se apropriar dessas informações para criar soluções, monitorar os gestores e exercer o controle social. Ainda segundo Ataíde, no Brasil o processo de abertura está no começo, tendo mais força na esfera federal.“A luta é trazer para os níveis estadual e municipal. No nível federal, o Brasil tem dado passos largos, com uma política pública federal de abertura de dados. O governo já disponibilizou seis mil conjuntos de dados e qualquer cidadão pode usar isso para desenvolver soluções tecnológicas para controle social, novos serviços públicos, análise e produção de conhecimentos e negócios inovadores” (Luciano Ataíde)Ele acrescenta que o pais é o oitavo no Índice de Dados Abertos Global  e que foi um dos primeiros a participar internacionalmente do Governo Aberto proposto por Barack Obama em 2009. Ainda assim, nos estados e municípios, a cultura de abertura de dados ainda é pontuada por iniciativas isoladas.

“A Prefeitura de Salvador disponibiliza dados de educação no site da Smed (Secretaria Municipal de Educaçãp) e também disponibiliza contratos. Salvador tem vocação para explorar o uso de dados para se buscar soluções para a educação, tem startups voltadas para isso. Mas, nos estados e municípios, ainda é preciso institucionalizar nos órgãos locais a cultura dos dados abertos”, opina Ataíde.

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Revita, e apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Fundação Rockefeller e Rede Bahia.

Serviço: A Unijorge tem convênio com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), para oferecer cursos com ênfase em ciência, engenharia, educação e pesquisa tecnológica, a exemplo dos cursos de Big Data e de Internet das Coisas, que possuem duração de seis semanas. O conteúdo é 100% virtual, em português, e após à conclusão e aprovação, o aluno recebe certificação do MIT e da Unijorge. No site www.unijorge.edu.br tem mais informações.

Programe-se e participe!

Seminário Sustentabilidade do Agora / Fórum Agenda Bahia 2018Quando - Dia 8 de agosto, das 9h às 17h30Onde - Auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia – Fieb (Rua Edístio Pondé, 342 – Stiep - Salvador)Como participar – As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site www.correio24horas.com.br/agendabahia.