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Paulo Leandro
Publicado em 14 de julho de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Aqui não entra quem não souber futebol. O Bahia está prestes a adaptar o aviso que Platão mandou colocar na porta de seu Lyceum, que pode ser interpretado como a boa semente do que conhecemos hoje por universidade.
Basta substituir: em vez de geometria, futebol. O Fazendão será o novo jardim das 12 oliveiras em honra ao herói Academus, conhecedor do local onde estava a desejada Helena, mantida sob o controle de Teseu.
Foi assim, na Guerra de Troia: graças ao conhecimento de Academus, os irmãos Castor e Polideuces puderam resgatar Helena em Atenas. Por este gol legal de Academus, passamos a chamar academia o lugar onde se produz conhecimento.
Cabe ao Bahia, de curvo-pensar, refundar a academia, com a criação de uma universidade. O que era visto como alienação, ou algo que nos priva da lucidez de compreender o mundo, agora passa a ser epistemé.
É uma virada conceitual e tanto esta que se propõe colocar a serviço do conhecimento todo o afeto que produz sentido ao futebol. Uma inversão de jogo que pode-se dizer uma nova quebra de paradigma no mito de sucessão para os deuses do desporto e da ciência.
Tornar o futebol, fonte de luz, é uma honra ao deus Thot dos egípcios e uma oferenda a Oxalufã no panteão africano, mas se preferirem o Senhor Javé ou qualquer outra divindade também está valendo e mesmo os ateus de boa vontade estão felizes.
O projeto de uma universidade fertilizada no Bahia tem o dom de unir as várias possibilidades de bahias em um só entendimento, papel dedicado à deusa da imaginação, a ‘junta-coisas’: mais que um clube, o Bahia será centro de conhecimento.
E quanto conhecimento estaria ao alcance em um ambiente turbinado pela afetividade do torcedor-aluno? Não se pode deixar de convidar o professor Huizinga, o homo ludens. É na brincadeira, na ludicidade, na diversão, é na bola, enfim, que se faz a cultura.
Que tal pensar aspectos da mutação de Salvador a partir de conteúdos relacionados ao Bahia, tomando como premissa o fato de o clube ter se espalhado pela cidade e seus aficcionados aderirem entusiasmados ao Carnaval e festas populares?
Uma antropossociologia do Bahia poderia acender luzes, no âmbito das letras, sobre nossa riquíssima linguagem e até mesmo, quem sabe, arriscar algo maior, como o falar baianês a partir do que se verifica nos diálogos das arenas.
A ciência política, até então, muito pouco interessada por futebol, poderia despertar para pesquisar o relacionamento, ora antagônico, ora complementar, entre o poder no clube e o poder na cidade e no Estado.
A formação multiétnica de jogadores e torcedores seria um atalho para pensar o ethos (jeito de ser) e valores morais, tomando como base, muito além da tolerância, a admiração pela crença de todos juntos e misturados ao caldeirão cultural que chamamos Bahia.
Também nas escolhas religiosas, o conhecimento via Bahia poderia servir de traço de união em momento delicado destas tradições, um passe preciso para marcar impedimento nas desavenças e recuperar a concórdia ameaçada por brigas sem noção.
Que a Universidade do Bahia prospere, tenha o re-conhecimento da cidadania e possa dar a todos nós a alegria de unir nosso brinquedo favorito ao sonho de Platão e à glória de Academus.
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade