Futuro do Jornalismo: entenda como investimentos podem transformar o setor

Assunto foi debatido no seminário promovido pelo CORREIO, nesta sexta-feira (26)

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  • Thais Borges

Publicado em 27 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: O coordenador de inovação do CORREIO, Juan Torres; a diretora de produto do Jota, Paty Gomes; o líder técnico da Operação Serenata de Amor, Mário Sérgio, e o editor-chefe do Nexo, Conrado Corsalette, participaram do seminário (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

É praticamente relação de causa-consequência: para ter inovação, é preciso investir. Essa não é uma máxima só da indústria, no Jornalismo o processo é cada vez mais forte. Nos veículos que já nascem digitais, esse nem é mais um dilema, pois é sabido que vão existir investimentos para haver inovação. 

“Quando você nasce digital, está tão intrínseco no trabalho para inovar e lidar com novas tecnologias que você nem pensa no assunto”, afirmou o co-fundador e editor-chefe do Nexo Jornal, Conrado Corsalette, durante o Seminário O Futuro do Jornalismo, na manhã desta sexta-feira (26), no Hotel Quality. 

Promovido pelo CORREIO, o evento teve ainda palestras da diretora de produto do Jota, Paty Gomes, e do líder técnico da Operação Serenata de Amor, Mário Sérgio. O seminário teve a curadoria do coordenador de Inovação do CORREIO, Juan Torres, que também foi o mestre de cerimônias do evento, e discutiu os próximos caminhos do Jornalismo; além de lançar o Prêmio Correio de Futuro, para estudantes de graduação de todas as áreas

No caso do Nexo, de acordo com Corsalette, a primeira pessoa que entrou para pensar o projeto – ainda antes que ele existisse – foi justamente uma pessoa da área de inovação. Mesmo assim, ele reconhece que, para jornais tradicionais, o processo é mais forte. O Nexo se define como um jornal digital: além de produzir conteúdos sobre temas diversos, ele é diário. 

Desde o seu lançamento, no fim de 2015, houve um aporte financeiro significativo. Esse investimento garantiu o funcionamento por aproximadamente três anos. A empresa, que hoje tem cerca de 50 pessoas, começou com 25 funcionários.  Conrado Corsalette apresentou a experiência do Nexo (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Em abril, o Nexo recebeu mais investimento: cerca de US$ 1 milhão de uma iniciativa do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) e da organização filantrópica internacional Luminate, através de um projeto para apoiar a sobrevivência de startups de jornalismo na América Latina. A Luminate é ligada ao grupo Omidyar, fundador de veículos como The Intercept.“(O investimento) Vai ser justamente para a gente se viabilizar como negócio. É complexo, é multifacetado, mas o nosso objetivo é ganhar a vida mostrando o que a gente sabe fazer para as pessoas; tentando fazer com que elas entendam o que é diferente e o jornalismo passa por isso”, afirmou Corsalette. Ganho visível

No Jota, a cultura é parecida: se há uma ideia nova – seja da própria redação ou até de um cliente – a equipe não tem muitos problemas para colocá-la em prática. Para a diretora de produto do Jota, Paty Gomes, se a pessoa para quem a tecnologia está sendo proposta vê ganhos claros (um cliente, por exemplo), ela vai topar investir na tecnologia.  Diretora de produto do Jota, Paty Gomes apresentou o veículo (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) “Tem uma coisa de entender que vai vir uma ideia o tempo todo. Quem topa trabalhar no Jota tem que topar ser muito adaptável e, do ponto de vista de produto, cada vez que a gente começa um produto, a gente faz um protótipo e roda”, explicou Paty. O investimento pode vir em várias frentes, como a própria contratação de pessoal. Fundado em 2014 com foco no Judiciário (e hoje com uma cobertura mais ampla), o Jota também recebeu um investimento em maio. Após uma rodada de capacitação, foram levantados R$ 6,8 milhões. Parte desse valor deve ser destinado à contratação de mais profissionais – até o fim do ano, o número de pessoas na empresa, atualmente na faixa das 50, deve aumentar. 

“A nossa empresa se parece muito mais com uma startup de tecnologia do que com uma redação como muitos de nós ainda temos na cabeça. A gente está em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Bogotá (Colômbia) e Washington (Estados Unidos). A graça de ser uma startup é essa. É ir mudando, se adaptando”, afirmou. 

Impacto

Na Operação Serenata de Amor, assim como a organização que a abriga hoje, a Open Knowledge Brasil, cada projeto vem acompanhado de uma investigação que deve identificar se ele é viável ou não.“Tem que ver se tem algum retorno, mesmo com o escopo reduzido, se a gente consegue ter um impacto na opinião pública, por exemplo”, afirmou o líder técnico da Serenata, Mário Jorge. Assim como a maioria dos projetos de inovação cívica, a Serenata de Amor tem desafios nesse sentido, justamente por não ter interesses comerciais fortes. Logo no início, o investimento veio a partir de um financiamento coletivo que arrecadou R$ 80 mil. Só que, em qualquer lugar do mundo, é difícil manter projetos com financiamento coletivo a longo prazo.  Mário Sérgio apresentou iniciativas como a robozinha Rosie (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) “É caro manter a Serenata nas empresas de nuvem. Tem um custo operacional muito grande manter o servidor. Ao longo do tempo, as pessoas vão esquecendo o projeto, esquecendo de contribuir. Por isso, é importante estar sempre fomentando, fazendo matérias”, completou. 

Hoje, a operação tem uim financiamento na plataforma Apoia.se, que é constante. Basta cadastrar o cartão de crédito e, mensalmente, pagar quantias a partir de R$ 5. Atualmente, existem 348 pessoas apoiando mensalmente.

Valorização

A diretora e acionista do CORREIO, Renata Correia, não compareceu ao seminário por compromissos particulares, mas enviou mensagem aos presentes, que foi lida pela editora-chefe, Linda Bezerra. Na mensagem, Renata enfatizou o lançamento do prêmio Jornalismo de Futuro “para descobrir novos talentos e valorizar a formação de jovens profissionais”."Desde o início de 2009, temos celebrado o aniversário do jornal com diversas iniciativas, conteúdos e eventos como este, chegando junto de toda a sociedade", diz trecho da mensagem de Renata Correia.O projeto Correio 40 Anos tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional Prefeitura de Salvador, e apoio de Vinci Airports, Senai, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae e Santa Casa da Bahia.

Após seminário, estudantes pretendem se inscrever em prêmio

Com um público formado, majoritariamente, por estudantes de jornalismo e jornalistas, o seminário ajudou a despertar ideias. Entre os participantes, muitos contaram que planejam se inscrever para o Prêmio Correio de Futuro. 

Foi o caso do estudante Daniel Aloísio, 20 anos, que está no 7º semestre do curso na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ele acredita que vai ter até dificuldades para escolher o tema do projeto que vai apresentar. “Estou com ideias até demais. Esse é o problema”, disse, aos risos. 

Para Daniel, o evento ajudou a refletir sobre a forma de contar histórias.“Gostei muito de quando o editor-chefe do Nexo (Conrado Corsalette) falou que a revolução digital é para encontrar a melhor forma de contar uma história, seja num texto, seja num GIF”. Também estudante da Ufba, o jovem Nalbert Guimarães, 19, ainda não sabe se vai inscrever. No fim da palestra, ele, que está no terceiro semestre do curso, estava tentando pensar em boas ideias. “Gostei muito de conhecer sobre os bots de automação e sobre os modelos de negócio”, afirmou, citando os robozinhos utilizados para automatizar processos, a exemplo de Rui, do Jota, e Rosie, da Operação Serenata de Amor. 

Enquanto Rui monitora processos parados no Supremo Tribunal Federal (STF) e publica em seu perfil no Twitter (@ruibarbot), Rosie identifica gastos suspeitos de deputados federais cometidos no exercício da fundação. Ela também posta o que é encontrado no Twitter (@rosiedaserenata).  

A estudante Juliana Marinho, 22, já conhecia a Operação Serenata de Amor. Teve contato com a iniciativa durante um evento da Campus Party. “Não conhecia o Jota, mas achei muito interessante e amo o Nexo”, contou ela, que está no sexto semestre do curso. 

Juliana também pretende se inscrever no prêmio. “Já tenho algumas pessoas em mente para montar a equipe e pode ser algo na área da comunicação política, mas também tenho aprendido sobre jornalismo de dados”. 

Entre os profissionais já formados, as palestras provocaram comparações e reflexões sobre a própria realidade. A jornalista Ailma Teixeira, 24, disse ter saído “inspirada”.“Nós precisamos ter um pouco de idealismo, como Conrado (Corsalette) falou, sobre fazer o melhor jornalismo possível”, opinou Ailma. Para a jornalista e pesquisadora Estela Marques, 24, o próprio tema da discussão era atraente. Na academia, conta, o futuro do jornalismo tem sido algo de muita investigação. “Achei muito necessário trazer esse assunto para debate”. 

Inscrições para o prêmio vão até 25 de agosto

Lançado nesta sexta-feira (26), o Prêmio Correio de Futuro tem o objetivo de incentivar a idealização e desenvolvimento de produtos jornalísticos inovadores. Os ganhadores vão ter a oportunidade de desenvolver seu projeto contando com a mentoria de profissionais de diversas áreas do CORREIO.  A equipe vencedora também ganhará R$ 10 mil em prêmios. As inscrições acontecem até 25 de agosto e podem ser feitas no site: www.premiocorreiodefuturo.com.br.

O concurso é destinado a estudantes de Ensino Superior de qualquer área. A única exigência é que estejam matriculados e apresentem o certificado de matrícula.

Anualmente, o Correio seleciona estudantes de Jornalismo para aprimorar a formação no programa Correio de Futuro. A editora-chefe do jornal, Linda Bezerra, explica o prêmio: “O CORREIO é um jornal inovador, e os desafios da profissão são enormes. As redações, hoje, agregam outros entes, com outras formações. Por isso, abrimos para diferentes áreas”. 

Projeto

Para concorrer, é preciso sugerir um projeto e fazer parte de uma equipe com três a quatro integrantes. Os membros da equipe podem ser do mesmo curso, mas a recomendação é de que o time tenha integrantes de diferentes áreas de conhecimento. Além dos estudantes, a equipe precisa ter um professor orientador já previamente contatado. 

As inscrições começam nesta sexta e seguem até o dia 25 de agosto, em um formulário online que será divulgado após o evento. Para participar, é preciso apresentar um projeto de caráter inovador, que tenha a capacidade de resolver um problema real das redações e que possa ser executado em três meses. 

Os projetos precisam ser digitais e devem ter uma proposta clara de inovação em qualquer área do jornalismo – seja na produção, edição ou apresentação do conteúdo. Prever o uso da plataforma impressa pode ser um diferencial, mas não é obrigatório. Se não houver um desdobramento impresso, o projeto pode ser adaptado para publicação nas páginas do jornal. "A gente escolheu esse prêmio porque acreditamos que é possível ter Jotas, Nexos e Operações Serenata de Amor na Bahia", afirmou o coordenador de inovação do jornal, Juan Torres. que também é responsável pela concepção do prêmio. As propostas podem ser divididas em três categorias: tecnologia e apuração/investigação; tecnologia e redação; e tecnologia e engajamento. No primeiro caso, estão incluídas soluções que contribuam para uma apuração melhor ou mais ágil ou que ajude a redação a encontrar (ou receber alertas) de pautas antes impossível de serem detectadas. 

A segunda categoria diz respeito a soluções que promovem mais agilidade, eficiência ou qualidade na redação de notícias, enquanto a terceira inclui soluções para um melhor engajamento do leitor com o conteúdo do CORREIO. 

O seminário faz parte da programação dos 40 anos do CORREIO que tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional da Prefeitura de Salvador, e apoio de Vinci Airports, Senai, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae e Santa Casa da Bahia.

Correio 40 anos O projeto Correio 40 Anos tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional Prefeitura de Salvador, e apoio de Vinci Airports, Senai, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae e Santa Casa da Bahia.