Gordura marrom: a gordura que queima gordura

Leonardo Eugênio é cirurgião geral e especialista em ortomolecular

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  • Da Redação

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 05:37

- Atualizado há um ano

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Você sabia que o nosso corpo tem dois tipos de gordura? Gordura branca e marrom. E você sabia que a gordura marrom favorece à queima de gordura e perda de peso? Isso mesmo, você não leu errado. A gordura marrom é uma gordura que emagrece!

O tecido adiposo branco funciona como um depósito de energia, fundamental para os momentos de escassez de comida, estando presente no subcutâneo e dentro do abdômen (gordura visceral). Esta, quando em excesso, está relacionada a diversas doenças como hipertensão, diabetes, síndrome metabólica e doença arterial coronariana. A obesidade é um fenômeno da vida moderna, onde reina o sedentarismo e há grande oferta de alimentos industrializados extremamente calóricos.

Já a gordura marrom é uma herança da nossa evolução. Nos primórdios da humanidade, quando os homens estavam expostos ao frio sem ter meios mais efetivos de se aquecer, a gordura marrom ajudava na geração de calor. A ciência sabe da sua existência há muito tempo, pois ela está presente nos mamíferos que hibernam, como os ursos. Existe também nos bebês como uma forma de proteção natural, já que eles não têm como se proteger ou fugir do frio. Está localizada abaixo das clavículas, no pescoço e ao redor da coluna, apresentando uma composição muito diferente da gordura branca. Tem ampla vascularização e os seus adipócitos são abundantes em mitocôndrias (organela rica em ferro, daí a coloração marrom), responsáveis por gerar energia e consequentemente calor. 

Há alguns anos surgiram diversos estudos mostrando a presença desta gordura também em adultos. As pesquisas revelaram que apenas 50g dela seriam suficientes para elevar em 20% a taxa metabólica basal (quantidade de calorias que o organismo utiliza para manter o seu funcionamento quando em repouso).

Já se conhecem algumas substâncias que aumentam a atividade da gordura marrom, como o peptídeo natriurético atrial, hormônio que tem sua produção elevada no frio e age no controle da pressão arterial. A irisina, outro tipo de hormônio detectado após atividade física resistida, também induz a formação de gordura marrom (mais um ponto a favor da musculação), assim como o ácido ursólico encontrado nas maçãs.

Outros estudos mostraram que temperaturas entre 17 e 19ºC, insuficiente para gerar calafrios, mas que causam algum desconforto físico, ativam a gordura marrom. Ao utilizar a gordura branca como combustível na tentativa de gerar calor e manter a temperatura corporal, ela acaba levando ao emagrecimento. Pesquisadores agora estudam novas drogas que imitam a resposta natural ao frio e podem se transformar no futuro em mais uma opção no combate à obesidade.

Leonardo Eugênio é cirurgião geral, intensivista e especialista em ortomolecular CRM 15806 @drleonardoeugenio