Governo tenta vender Palácio dos Esportes para setor turístico

Projeto quer transformar área entre as praças Castro Alves e Municipal em novo polo hoteleiro de Salvador

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

O Centro Histórico de Salvador deve ganhar três novos equipamentos turísticos nos próximos anos. Depois do anúncio da alienação do Palácio Rio Branco, na Praça Municipal, para transformá-lo em hotel da rede portuguesa Villa Galé, cuja negociação – que estava bastante adiantada - foi temporariamente interrompida por causa da pandemia, agora é o Palácio dos Esportes, na Praça Castro Alves, que deve ser transformado em um novo equipamento hoteleiro. (Divulgação) Pedido de alienação do Palácio dos Esportes está na Assembleia Legislativa Em dezembro passado, o Governo do Estado encaminhou para votação o pedido de autorização de alienação do imóvel – que pertence à Secretaria Estadual de Agricultura – à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). O projeto entrou na pauta desta terça-feira, 09, mas não chegou a ser votado porque o deputado estadual Roberto Carlos (PDT), da base do governador Rui Costa (PT), pediu vista .

O prazo nestes procedimentos é de 48 horas. O deputado alegou não ter condições de votar o projeto nesta terça. O parlamentar, que é presidente do Juazeirense e tem muita ligação com a área do esporte, demostrou preocupação com a venda do imóvel, que implicará no desolajamento da Federação Baiana de Futebol (FBF) que funciona lá.“Esse projeto hoje me pegou de surpresa. Não tenho condições de votar hoje. Eu sou um dos representantes do esporte. A FBF, que é detentora da posse do prédio, está discutindo com os 300 filiados das ligas amadores que estão naquele prédio”, afirmou o pedetista, durante a sessão.Interessados

O grupo espanhol Prima, dono do imóvel que abriga o Hotel Fasano, seria um dos principais interessados em hastear mais uma bandeira da rede hoteleira paulista de alto luxo no prédio em estilo art decó do Palácio dos Esportes, que foi inaugurado em 1935.

De acordo com o secretário estadual de Turismo, Fausto Franco, outros grupos também já demonstraram interesse no imóvel. Ainda segundo ele, levará quem fizer a melhor oferta.

(Divulgação) Secretario Fausto Franco quer transformar centro em polo hoteleiro “Alguns grupos empresariais já demonstraram interesse, não podemos afirmar quem levará porque, quando tivermos a aprovação da Alba para a alienação do bem, faremos um pregão e ganha quem apresentar a melhor proposta, aquela que se encaixar melhor no projeto de ocupação do Centro Histórico”, diz Franco.Embora o governo se mantenha cauteloso em não revelar o futuro dono, um executivo da Prima, em off, garante que “as tratativas com o governo estadual estão evoluindo bem”.

As partes interessadas mantêm a negociação em sigilo, mas a ideia é transformar o Palácio dos Esportes em um empreendimento que mesclará hotelaria com residência. 

“Não podemos adiantar nada porque nem o prédio foi liberado para a venda, mas posso afirmar que todos os investimentos que vierem a ser feitos naquela região, dentro do processo de requalificação do Centro Histórico, terá o viés turístico”, garante Fausto Franco. (Divulgação/Gov-Ba) Prédio da Embasa, à esquerda, é objeto de desejo da Setur  Defensor da ideia de que todos os prédios públicos situados em áreas turísticas – como o caso dos que estão localizados no centro da cidade – sejam ocupados por grupos que atuam na área de turismo, o secretário Franco já está de olho em outro imóvel naquela região.

Trata-se de um prédio de oito pavimentos que fica próximo ao Hotel Fasano e ao Cine Glauber Rocha que, segundo ele, é perfeito para um novo empreendimento turístico.

“Imagine o Fera Palace, o Fasano, o Palácio dos Esportes e este prédio, todos funcionando como empreendimentos turísticos, o quanto aquela região ficará fortalecida economicamente!”, defende.

O prédio, o qual o secretário se refere, pertence, segundo ele, à Embasa, que já está negociando sua alienação para que seja ocupado e transformado num novo negócio voltado para o turismo. “Eu defendo sempre que é melhor preservar do que deixar acabar. O que estamos fazendo é trabalhar para devolver vida a estes espaços que estão, na sua maioria, desocupados e se deteriorando”, afirma. (Divulgação) Palácio Rio Branco está sendo negociado com o grupo Villa Galé História

O Palácio dos Esportes, em estilo arquitetônico art decó, hoje abriga sedes de algumas associações, mas segundo Franco, a transferência das entidades para outros endereços já vem sendo negociada. O prédio foi inaugurado na década de 1930 para ser a antiga Secretaria de Agricultura da Bahia, erguida no local onde outrora funcionava o Theatro São João, inaugurado em 1812 e destruído em um incêndio, em 1923.

Já o prédio da Embasa, que também é art decó, ocupa o local onde funcionou o tradicional Hotel Paris, uma referência na região da Ladeira de São Bento. O edifício está fechado há anos. (Divulgação) Fonte descoberta na Castro Alves é na verdade um anfiteatro Moraes Moreira

Recentemente, durante a obra de requalificação da Praça Castro Alves, foi descoberta uma antiga fonte que logo ganhou um projeto da Fundação Gregório de Mattos para transformá-la em um anfiteatro com capacidade para 200 pessoas.

“Vamos fazer ali uma homenagem justa a Moraes Moreira, que durante muitos e muitos carnavais foi presença constante na Praça Castro Alves”, diz Fernando Guerreiro, presidente da FGM.

Logo após o anúncio da FGM, segundo fontes ligadas à prefeitura de Salvador, teria havido um desentendimento entre as duas esferas administrativas, a estadual e a municipal, com relação à instalação do anfiteatro.

Segundo o CORREIO apurou, o projeto da prefeitura comprometeria a negociação com o grupo que estava pleiteando a compra do Palácio dos Esportes, que pretendia fazer na frente do imóvel uma área de entrada e saída de veículos a exemplo da que existe no Hotel Fasano Salvador.

O imbróglio, segundo o governo e a prefeitura, já foi contornado e as diferenças ajustadas, sem prejuízo para as partes.

Se tudo correr como quer o secretário de Turismo do estado, a região do centro da cidade, que é tombada como patrimônio, pode se transformar no novo polo hoteleiro de Salvador, como foi um dia, o bairro de Ondina.