Grasi Morais, a narradora do ‘furacão’ de Itapuã que sonhava em falar palavrão

Famosa por vídeo de tempestade, administradora era proibida de xingar até os 15 anos; filho de 12 repreende

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  • Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2020 às 15:00

- Atualizado há um ano

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A palavra ‘desbocada’ sempre me causou espécie, como diria meu trisavô, que não conheci e tampouco sei o nome. Ao ouvir o termo, quando guri, sempre vinha na cabeça a imagem de alguém sem boca.

Dias atrás, já conformado com o significado de pessoa desbocada, eu e meia Bahia ficamos curiosos de saber quem era uma por trás de um vídeo viral narrando um temporal em Salvador. Meu colega Ivan Dias Marques perguntou quem era, e ela, enfim, apareceu como um raio.

Mentira, demorou um pouquinho de meter as caras e botar a boca no mundo, afinal, dos tempos que a chuvarada passou. Mas a narração em baianês do ‘furacão’ já é eterna, e é bom que você conheça (ou reveja) antes de continuar lendo.

Pois bem, a voz por trás desse épico é de Grasi Morais, 33 aninhos, bonfinense, mãe de dois bacuris (um mais grandinho e uma pitôca), casada, administradora, futura esteticista e, como vai perceber, um furacão que transita entre as pedras que roncam em Itapuã.

Foi no Shopping do Farol, aliás (e não em Patamares, como supunhamos), que o vídeo foi gravado. E num endereço cheio de poesia: Rua Carlos Drummond de Andrade, bem ao lado da antiga casa de Vinicius de Morais - bem atrás do Farol de Itapuã.  Grasi Morais, 33 anos, é de Senhor do Bonfim, mas mora em Salvador desde a adolescência (Foto: Acervo pessoal) Os palavrões tão frequentes quanto vírgulas, na gravação, tem duas explicações: a primeira é que Grasi deseja provocar o filho João Vitor, 12 anos, que é enjoadinho com vocabulário chulo e vive repreendendo mainha; a segunda é que Grasi, gauche na vida, depois de viver uma infância proibida de palavreado impróprio decidiu virar a mulher mais desbocada da Bahia - que é o mundo, como se sabe.

“Antes daquele vídeo, eu tinha feito dois outros dizendo: 'ó, João, já tá chovendo. Já vai começar'. Quando veio a porra toda, que aqui o shoppingzinho começou a cair as telhas e todo mundo gritando, aí foi aquela palhaçada, que na verdade eu tava pensando justamente nele”, comenta ela, que também é fascinada desde a idade de Joãozinho por grandes fenômenos climáticos a exemplo de ciclones, furacões, mentos com coca-cola.

"No final do vídeo, que eu falo que acho massa, as pessoas interpretaram errado. Acharam que eu tava achando massa a destruição. Não era isso. Eu sempre gostei desses fenômenos. Eu até brincava que meu sonho era fazer igual aquele pessoal que caça furacões nos Estados Unidos”, explica a zuêra aventureira.

Sonho de menina Outro sonho infanto-juvenil, como dito, era mandar alguém tomar no fiofó. Sim, literalmente. “Eu adoro falar palavrão mesmo. Não tenho esse negócio (de auto-censura), porque eu fui reprimida até os meus 15 anos de idade. Cresci com minha avó, que era muito católica, e ela nunca deixou a gente falar sequer um 'merda'. Então, meu sonho era falar palavrão. Eu pensava: no dia que eu sair de casa, vou ficar treinando falar palavrão. E assim foi: eu treinava e meu sonho era mandar alguém tomar no cu”, assume Grasi, antes de especificar que tal insulto “não é de uma forma vulgar; é num ambiente descontraído”. Ah, sim.E assim delimita, como quer que fique claro, suas personas nas esferas pública e privada. “Na minha vida profissional, sou totalmente diferente. Só que na minha vida pessoal, eu não vou mentir pra você: não tenho papas na língua. Eu falo, esculhambo, perturbo. Pra minha família, eu sou a palhaça que faz piada com tudo. Perco o amigo, mas não perco a piada”, diz a desbocada da Pedra do Sal.

Um pouco antes do(s) vídeo(s), Grasi tinha lido uma matéria que eu mesmo subi aqui no site, na qual citava a possibilidade de um ciclone subtropical no litoral baiano. “Mandei o link pro meu filho, que é todo metido a inteligente, e ele falou: 'mãe, a senhora tá louca? Não existe ciclone, nem furacão no Brasil'”, relembra ela, que passou a registrar o temporal da tarde em Itapuã momentos depois. Grasi turistando por aí, sem tempo ruim (Foto: Acervo pessoal)  Grandona, sem medo A admiração pelos fenômenos naturais garantiu a tranquilidade para manter o celular gravando. Na hora estava sozinha, no escritório da Visão Benefícios, uma associação de proteção veicular, quando tudo começou a despencar e pipocar na vizinhança. 

“Não tive medo. Só que quando começou a cair as telhas e quando o poste estourou, que eu tomei um susto, mas eu não queria parar de filmar. Eu nunca vivenciei uma ventania daquela”, relembra ela, que também viu pela primeira vez uma chuva de mensagens em seu celular, depois do vídeo viralizar.

“Começaram a me mandar os prints de vários grupos de WhatsApp. 'Isso aqui é você'. E eu dizia que não. Mas meu marido [o engenheiro civil Walker Morais] acabou dizendo: 'você tem que aproveitar, porra, porque a galera gosta de baixaria. Isso vai passar. Aproveita. Apareça'”, e ela enfim atendeu ao pedido de painho e de Ivanzinho, mas não sem um custoso trabalho de convencimento geral.

“Você não tem noção de como eu estava constrangida. É aquela coisa de mídia social mesmo, de que um passa pro outro. (...) Teve muita gente que criticou, porque falaram que eu tava menosprezando um fenômeno de Deus”, relembra ela, que custou a desencanar dos comentários tóxicos.

Decisão de abrir a boca O empurrãozinho veio com ajuda da galera em volta. Primeiro, a cunhada Adriana Carla, que tem um amigo jornalista no Varela Notícias. “Ele mandou uma mensagem e pediu: 'que porra é essa, que mulher maluca é essa?'”, relata, aos risos. A princípio, pediu para não divulgar. Depois, com a promessa de que seria anônimo, liberou. Mas não adiantou. "Muita gente reconheceu minha voz. Um professor e mais duas colegas, que só me viram duas vezes na vida, me mandaram em particular perguntando se eu tinha visto o vídeo. 'Parece tanto você. É a mesma coisa de eu estar ouvindo você na sala de aula'. Obviamente, eu falei que não. Disse que achei engraçado, mas neguei."Como sabê-los? Mas aí, um sobrinho do marido começou a marcá-la nas redes sociais com a seguinte convocação: 'Apareça, Grasi. Assuma sua porra'. 

“Aí eu peguei e respondi pra algum influencer: 'porra, o que era pra ser da família, esse caralho viralizou mesmo'. Ainda teve um cara que falou embaixo: 'essa é das minhas. De boca porca, baiana da gema mesmo. A gente xinga pra tudo'. E é verdade”, lança a tese, não defendida pelo meu xará.

“João Vitor diz que é um nerd. Ele odeia palavrão. No vídeo quando eu falo 'putaqueopariu' é pra provocar ele. É um homenzinho. Você fala com ele como se falasse com um homem de 30 anos, então ele não gosta (de palavrão)”, destaca Grasi, que além de João, filho do primeiro casamento, é mãe de Maria Luiza, 2 aninhos, da relação atual com Walker, com quem é casada há 5 anos.

Bom, na verdade, João às vezes deseja estar meio fora dessa família feliz, como a própria Grasi diz: “Com os coleguinhas da rua, meu sobrinho diz na frente de João que fui que fiz o vídeo e ele responde: 'eu desconheço essa pessoa. Não faço parte desse tipo de vocabulário'”. Que coisa linda que os filhos são.