Greve dos rodoviários deixa pontos de ônibus vazios na hora do rush

Quem saiu para trabalhar se arriscava em vans clandestinas para voltar para casa

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  • Carol Aquino

Publicado em 23 de maio de 2018 às 20:26

- Atualizado há um ano

Na hora do rush de um típico dia de semana, uma cena incomum foi vista em Salvador nesta quarta-feira (23). Em lugares geralmente movimentados, os pontos de ônibus estavam quase vazios.

No Vale do Canela, até um homem cochilava tranquilamente nos bancos da parada de ônibus. Na frente do Pavilhão de Aulas do Canela (PAC) e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), que a este horário costuma estar apinhado de gente, um deserto.  No bairro do Comércio, a não ser pelo fluxo de carros, até parecia feriado. Muitos estabelecimentos comerciais já estavam fechados pouco antes das 18h.  

“Meu patrão me liberou mais cedo hoje, antes das 17h, para eu conseguir voltar para casa”, contou a caixa de uma casa lotérica no Comércio. Aborrecida, Márcia de Jesus, 41, já estava há uma hora no ponto tentando alguma condução que a levasse para Águas Claras. 

“Eu podia pegar o metrô para a Estação Acesso Norte e de lá pegar um transporte para casa, mas lá não está passando esses ônibus amarelinhos (transporte complementar). Vou ver se consigo pegar um pra BR-324 e de lá pego outro”, disse ela, que pegou uma carona de manhã até a estação de metrô com uma amiga da cunhada para conseguir chegar ao trabalho. 

Indo para a mesma direção, a costureira Soledade Fiúza, 47, tentava chegar em Cajazeiras. “A vinda foi tranquila, esperei uns cinco minutos no ponto e peguei um amarelinho para vir pro Comércio. A depender de como for a volta, amanhã eu nem venho trabalhar”, disse, falando que o patrão já estava avisado. 

As duas cogitaram até pegar um Uber, mas desistiram, porque o valor estava semelhante ao do táxi. As vans que passavam a todo minuto não eram uma alternativa, pois quase todas iam para o Subúrbio Ferroviário. 

Uma van que passava em direção a Caminho de Areia cobrava R$ 4 para cada passageiro que saía do Comércio. O veículo estava cheio, mas isso não animou quem fazia o transporte alternativo. “O movimento foi fraco o dia todo”, reclamou o cobrador Sidnei Silva.

Para os motoristas que rodavam na Suburbana, a queixa era a mesma. Muitos veículos passavam com vários lugares vazios. O motorista de uma van que não quis se identificar falou à reportagem que não parecia que havia greve de ônibus de tão fraco que era o fluxo de passageiros. 

Na Baixa do Fiscal, o mototaxista Carlos Souza “mofava” há duas horas em um ponto esperando passageiros. Ao contrário do que se possa imaginar, seu desejo foi que a greve acabasse logo. “Num dia normal, faço seis corridas, hoje só fiz três. Vou esperar mais uma hora e, se não tiver passageiros, vou desistir." 

Mas nem para todos os seus colegas foi assim tão ruim. Em frente ao Shopping Barra, o mototaxista Davi Oliveira tinha um sorriso no rosto. Além dos 22 clientes rotineiros, ele fez mais 13 corridas extras. Porém, por incrível que pareça, ele não torcia pelo prolongamento da greve dos rodoviários. 

“Ganhei mais hoje, mas a gente não pode só pensar em ganhar. Fica muita gente prejudicada e nem todo mundo tem condição de pegar um mototáxi”, ponderou, ressaltando que não aumentou os preços das corridas nesta quarta (23).

Sonhando com mais dias de greve, o motorista de um micro-ônibus de Lauro de Freitas, Gilson Santana, comemorava as viagens que estava fazendo de Itinga até a Estação da Lapa. Ele é um dos 316 rodoviários de transporte alternativo da região metropolitana que foram autorizados pela Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) para operar em Salvador. “Como é que ônibus não fica cheio num dia como este?”, festejou. 

Apesar de muita gente querer que a paralisação se estenda para ganhar mais dinheiro, teve gente com o mesmo desejo por outros motivos. “Hoje está melhor que um dia normal porque as topics passam toda hora e param para a gente. Os ônibus tem vezes que demoram mais de uma hora e depois das dez e meia da noite, eles não param no ponto”, disse o garçom William Alves, 36, que diz que sofre quando tem que trabalhar à noite.