'Gripezinha', 'não sou coveiro': relembre outras falas do presidente sobre a pandemia

Um dia depois do 'e daí', Bolsonaro culpa governadores e prefeitos por mortes

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  • Da Redação

Publicado em 30 de abril de 2020 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Carolina Antunes/PR/Arquivo

Um dia após ter respondido com um “E daí?” a um questionamento sobre o recorde diário de mortes no pais – de 474 em apenas 24 horas, além de ter ultrapassado a China no número de vítimas fatais – o presidente Jair Bolsonaro culpou governadores e prefeitos pela crise. Ele criticou decisões relacionadas ao isolamento e recebeu respostas duras dos mais diversos estados do Brasil. 

Bolsonaro argumentou que, como decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF), governadores e prefeitos têm autonomia para decidirem sobre medidas restritivas no combate ao coronavírus e, por isso, eles precisam explicar por que as mortes continuaram mesmo após essas medidas serem tomadas. “Essa conta tem que ser perguntada para os governadores. Perguntem ao senhor João Doria, ao senhor (Bruno) Covas, de o porquê terem tomado medidas tão restritivas”, disse ontem na entrada do Palácio do Alvorada.

O presidente ainda afirmou que o “e daí” teria sido retirado de contexto, mas vídeos gravados por emissoras de TV e mesmo por apoiadores dele mostram ele respondendo sobre as mortes: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, complementou, referindo- se a um dos seus sobrenomes.  Ao final da entrevista, Bolsonaro perguntou: “Alguém está ao vivo por acaso? Todo mundo?”. Ao receber resposta afirmativa, fez outra declaração lamentando as mortes.

Reações Citado nominalmente pelo presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Dória fez questão de responder logo cedo às declarações. O governador pediu a Bolsonaro respeito aos mortos na pandemia do novo coronavírus e cobrou dele que saia do gabinete e visite as cidades mais atingidas pela Covid-19. “Saia da redoma de Brasília. Se não quiser visitar São Paulo vá a Manaus, presidente. Vai ajudar o governador e o prefeito de lá, no mínimo, estando presente para ver a realidade do seu país e não a sua realidade do estande de tiro onde foi ontem celebrar enquanto choramos mortes de brasileiros”, recomendou. 

O governador do Rio, Wilson Witsel disse pelo Twitter que considera “inaceitável o pouco caso com que o presidente sempre tratou a pandemia e as mortes”. Para ele, Bolsonaro jamais deu à pandemia a importância devida. 

Rui Costa, governador baiano, solicitou que Bolsonaro começasse a governar o Brasil com seriedade. Foi uma resposta à declaração do presidente de que “não adianta Rui Costa ficar nessa palhaçada”, ao se referir às medidas de isolamento social. Durante uma live ontem, Rui pediu que o presidente respeitasse as vítimas da doença e suas famílias. 

“Pedir a Bolsonaro para realmente governar é pedir um milagre? Não queremos ‘milagres’, queremos apenas que ele pare de criar confusão política e de minimizar mortes e tragédias”, respondeu o governador do Maranhão, Flávio Dino. 

Para a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), os conflitos criados por Bolsonaro retardam decisões que poderiam salvar vidas. Em nota, a entidade pediu que “a pessoa que deveria liderar o enfrentamento da crise” ajude os gestores. “Presidente, cumpra seu papel constitucional de harmonizar a federação. Cumpra suas responsabilidades”, pede entidade. 

Declarações do presidente sobre a Pandemia27 de fevereiro    “Estamos tendo problemas aí com esse vírus, o coronavírus. O mundo todo está sofrendo”, disse com o anúncio do primeiro caso   6 de março    Com 15 casos registrados, ele afirmou que “ainda que o problema possa vir a se agravar, não há motivos para pânico”   10 de março    Quando o Brasil passou de 40 casos, o presidente declarou: “Temos uma pequena crise, no meu entender muito mais fantasia. A questão do coronavírus não é tudo o que a mídia propaga”   11 de março    “O que eu ouvi do mundo todo é que outras gripes mataram mais do que essa”, disse no dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia   16 de março    “Se eu me contaminei, isso é responsabilidade minha, ninguém tem nada a ver com isso”, respondeu ao ser questionado sobre os seus exames   20 de março     Com 991 casos e a primeira morte, o presidente disse: “Depois de uma facada não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”   21 de março    “Reconheço a seriedade do problema e o temor de muitos brasileiros. O governo segue trabalhando e tomará todas as medidas possíveis para o combate ao coronavírus” , afirmou em pronunciamento à nação   23 de março    Ao defender a necessidade de flexibilizar o isolamento, o presidente afirmou: “As vidas das pessoas estão em primeiro lugar. Agora, a dose do remédio não pode ser tão alta porque o efeito colateral pode matar o paciente”   24 de março    “Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha, de um resfriadinho”, afirmou em um pronunciamento à nação   No mesmo dia, criticou governadores: “Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada”    25 de março    “O que estão fazendo no Brasil, alguns poucos governadores e prefeitos é um crime. Outros vírus mataram mais do que este e não teve essa comoção toda”, declarou   12 de abril    Apesar do aumento nos números de casos, ele declarou: “parece que o vírus começa a ir embora”.