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Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2019 às 21:54
- Atualizado há 2 anos
Uma missa celebrada na quarta-feira, 20, em homenagem ao Dia da Consciência Negra numa igreja da Glória, zona sul do Rio de Janeiro, terminou virando caso de polícia. Um grupo tentou impedir a celebração e atacou fiéis com frases racistas. Até o padre foi acusado de ser pecador por permitir a celebração.>
Um fiel que diz ter levado um tapa de um integrante desse grupo registrou o caso na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) nesta quinta-feira, 21.>
A celebração é realizada há 15 anos na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Rua Benjamin Constant, e segue o rito católico tradicional. A única diferença é a inclusão de cantos e danças africanas, com o uso de instrumentos musicais próprios, como atabaques.>
Segundo testemunhas, pouco antes da missa um grupo com cerca de 20 pessoas chegou e se dirigiu ao padre, tentando dissuadi-lo de celebrar a missa, que segundo eles desrespeitava o ritual católico. Os homens usavam ternos e as mulheres, vestidos e véus Até a noite desta quinta-feira os nomes deles não haviam sido divulgados.>
Segundo relatos de testemunhas, o grupo disse que tinha ido até a igreja em nome do cardeal dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, mas em seguida foi confirmado que não havia nenhuma ligação ou determinação do cardeal aos manifestantes.>
O padre não atendeu ao pedido e iniciou a celebração, durante a qual um outro padre fez discurso em que ressaltou que não estavam fazendo nada errado ao incluir na missa os cantos e danças africanos.>
Testemunhas relatam que o grupo então passou a rezar o terço em latim, em voz alta, na tentativa de atrapalhar a celebração. Ao final da missa, os manifestantes acusaram o padre de cometer pecado ao permitir aquela celebração e recomendaram que ele "cuidasse de suas ovelhas negras", numa referência à cor da maioria dos fiéis que prestigiaram a missa. Houve tumulto e a Polícia Militar foi chamada. Em meio ao tumulto, os manifestantes acusaram fiéis de injúria (crime que consiste em ofender alguém fazendo acusações falsas para atacar sua dignidade ou decoro).>
Nesta quinta-feira, o professor Diogo Pinheiro, que é negro e pai de participantes da apresentação artística de origem africana, foi à Decradi para relatar o caso e acusar os manifestantes pelos crimes de racismo e intolerância religiosa e pela infração de vias de fato.>
"Ele relatou ter levado um tapa de uma pessoa que havia tentado interromper a missa", contou o advogado Rodrigo Mondego, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ). Mondego acompanhou o depoimento de Pinheiro ao delegado."Outras vítimas vão depor nos próximos dias. É preciso punir esses racistas, um grupo de fundamentalistas religiosos que não conseguiu impedir a celebração e então decidiu tumultuar", disse.>
A Igreja Católica não havia se manifestado sobre o episódio até as 21h desta quinta-feira. Em nota, a secretaria estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos afirmou que, embora não tenha sido procurada por nenhum dos envolvidos, contatou a paróquia e está agendando uma reunião para propor uma série de debates e palestras sobre liberdade religiosa.>