Grupos de Afinidade atuam dentro das empresas para oferecer suporte e propor ações de inclusão

Iniciativa é ferramenta para aumento de diversidade corporativa e construção de uma educação antirracista

Publicado em 15 de novembro de 2021 às 16:11

- Atualizado há um ano

A ideia de uma educação antirracista não é nova, mas o fato é que o conceito vem ganhando força nos últimos anos e espaços que vão além da educação institucional - aquela divisão de conhecimento sistematizada e que acontece nas escolas e universidades. Também é possível educar em outros lugares, como a casa e o próprio trabalho. 

Neste último caso, empresas de todo o Brasil apostam numa estratégia para construir diversidade dentro de seus negócios: são os chamados Grupos de Afinidade, criados para oferecer suporte, compreensão, informações e ações de inclusão dentro das organizações. Adicionalmente, os grupos de afinidade podem construir e influenciar diversos aspectos do negócio, a fim de termos produtos, comunicação, marketing e recrutamento de pessoas diversas. 

Segundo um estudo da McKinsey, empresas que possuem diversidade étnica em seu corpo executivo (C-Level) alcançam 35% mais lucros na operação, comparadas àquelas que não têm diversidade. Pretos e pardos somados compõe a população negra do Brasil, que hoje representa 55% de brasileiros. Contudo, menos de 5% das 500 maiores empresas do Brasil possuem executivos negros em seus quadros de funcionários. 

Além da pele O Grupo Boticário tem um grupo de afinidade interno para cinco dimensões de diversidades trabalhadas: equidade racial, LGBTQIA+, gênero, gerações e pessoas com deficiência. Os GA colaboram não só com as políticas internas voltadas para essas pessoas, mas também nas campanhas que as marcas da empresa fazem. 

O Grupo de Afinidade de Raça da empresa é chamado Além da Pele e conta com a participação de mais de 300 colaboradores de diferentes regiões do Brasil, cargos e ocupações, como explica Ronenilton Alves Dos Santos, gerente de Diversidade e Inclusão do Grupo Boticário.  

Participante do Além da Pele, a consultora Debora Conceição Freitas explica que trabalha na área comercial há mais de duas décadas e diz ter se encontrado graças ao GA. Até 2023, o Grupo tem meta de aumentar a contratação de talentos negros em 40%, garantindo assim um cenário em que 50% das nossas pessoas sejam negras.  

Além disso, atingir pelo menos 25% de lideranças corporativas negras até o mesmo ano. "Temos uma linha premium de skincare que se chama Boutique e viria com o termo clareia no rótulo, mas abolimos com o Grupo de Afinidades. Participamos de fóruns de casting para entender se aqueles modelos representam a mensagem que a campanha quer trazer", explica Débora. 

Além dos Grupos de Afinidade, o Boticário assumiu uma série de compromissos para garantir a equidade racial em seus quadros. Medidas como a exclusão da necessidade de experiência anterior - para garantir mais representatividade de gerações para candidatos que desejavam redirecionar suas carreiras para tecnologia -   e flexibilização dos processos seletivos de estágio e trainee, retirando a necessidade de domínio da língua inglesa, foram medidas que colaboraram para, em 2020, a empresa ter um índice de contratação de profissionais negros em 54%. 

Várias frentes Grupos de Afinidade também são realidade na L'Oréal. Por lá, desde 2018 cerca de 50 colaboradoras e colaboradores integram o L’OréAfro, rede de afinidade racial da empresa no Brasil. As baianas Lívia Ferreira e Ana Nascimento integram o grupo.  Ana Nascimento é Analista de desenvolvimento de produtos na empresa e trabalha desenvolvendo maquiagens e esmaltes. Algo muito a ver com o que ela gosta de fazer, já que é uma apaixonada por cor. Lívia é licenciada em Química e, por muito tempo, trabalhou como professora. Fez mestrado em Ciência e Tecnologia de Polímeros, mesma área em que estuda no seu doutorado. Na L'Oréal, trabalha com desenvolvimento de proteção solar. 

Paralelo à participação no GA, Lívia e Ana já tinham se unido para criar uma outra iniciativa, que é o Pretas na Ciência. A iniciativa nasceu no ano passado e recebeu subsídio do Consulado Americano no Rio de Janeiro, uma rede com o objetivo de incentivar, fomentar e empoderar mulheres pretas que estudam e/ou trabalham nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.  

"Eu não tive professoras negras na Universidade. E quanto mais me especializava, mais isso se tornava raro. Percebemos o quanto o machismo, o racismo e a falta de oportunidades impossibilitavam a presença de mulheres negras no meio acadêmico e em cargos de poder", disse Livia, que é doutoranda em Ciência e Tecnologia de Polímeros.  Ana e Lívia trabalham no Laboratório da L'Oréal (Foto: Drice Gomes) A preocupação da dupla faz todo sentido: um levantamento da Organização das Nações Unidas para a Educação,  a Ciência e a Cultura (Unesco)  apontou  que  em 2021 apenas 30% das vagas de cientistas em todo o mundo são ocupadas por mulheres. 

O projeto Pretas na Ciência faz um trabalho de informação e visibilidade de cientistas negras brasileiras no perfil do Instagram (@pretasnaciencia). Por lá, elas também compartilham e divulgam oportunidades tanto na área acadêmica quanto corporativa. Além disso, neste ano ofereceram um projeto de mentoria gratuita para cientistas, que chegou a cruzar o oceano e beneficiar uma estudante de Cabo Verde, na África.  

"O Pretas nada mais é que um grupo de afinidade nosso. Queremos formar uma comunidade de outras mulheres pretas cientistas e fomentar parcerias para que outras cientistas surjam", disse Ana. 

Especialista em educação e fundadora da primeira escola afro-brasileira do país, a escolinha Maria Felipa, Bárbara Carine explica que o conceito de educação é um processo de socialização e, nele, há uma seleção dos conhecimentos que serão passados para novas gerações. No caso do Brasil e de muitas partes do mundo, esse recorte ocorre dentro do formato eurocêntrico. A cultura europeia é valorizada em detrimento de todas as outras e a forma de levar isso às novas gerações é um modo de conduzir psicologicamente esse sujeito a entender que aquela é a única história.  

O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com o patrocínio do Grupo Boticário, do Hapvida com apoio Institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Sebrae, apoio do Shopping Barra, Laboratório CLAB e CCR Metrô.