Grupos protestam e pedem prisão de patroa acusada de agressão no Imbuí

Ato acontece em frente a condomínio de onde babá pulou

Publicado em 1 de setembro de 2021 às 09:41

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Cerca de 50 pessoas protestam na manhã desta quarta-feira (1º) em frente ao condomínio Vila Anaiti, no Imbuí, de onde uma babá pulou do terceiro andar de um prédio para fugir da patroa. Participam do ato, domésticas e representantes de três movimentos sociais - Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Estado da Bahia, Federação Nacional de Trabalhadores Domésticos (Fenatrad) e a União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegro).

O grupo está na porta do condomínio, mas não está interrompendo o fluxo dos carros. Os manifestantes carregam faixas e usam um som para pedir justiça e pedir prisão da acusada, Melina Esteves França. 

A deputada estadual Olívia Santana, que é presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres da Assembleia Legislativa (Alba), também está no local. Ela promete levar o tema à discussão na Alba ainda hoje.

"Ela estava tentando sair daquela prisão. Não tentava se matar, tentava pular para outra janela, porque o apartamento se tornou uma prisão pra ela. Hoje, às 11h, vamos levar essa situação para debate e vamos enviar uma manifestação ao Ministério Público do Trabalho ( MTB)", declarou a deputada.

A ideia do protesto é não deixar que o caso caia em esquecimento e fique sem punição. "Queremos justiça! Que a responsável seja punida, porque ela praticou vários crimes, como cárcere privado, apropriação de bens e agressão fisica. Tudo isso é crime que só veio à tona por causa de Raiane que se viu numa situação desesperada e resolveu fugir porque não aguentava mais. Imagina os casos que ficamos sem conhecimento?", declarou a presidente do Sindoméstico, Creuza Oliveira. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Há muitos casos de vulnerabilidade para trabalhadores domésticos. "Pedimos justiça para o caso de Raiane e deixar claro que muitos trabalhadores domésticos que saem do interior para trabalhar acabam vindo para situações análogas à escravidão. É preciso acabar com isso e é por isso que estamos aqui", afirmou a vice-presidente da União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegro) Maiara Duarte

De cima, os moradores dos prédios acompanham o ato. "Um dia após a queda, fui o primeiro a protestar no condomínio. Na condição de seres humanos, não podemos permitir que situações como essas ainda existam numa sociedade, privar o trabalhador dos direitos dele, como salário digno, o direito de ir e vir. A moça pulou do terceiro no desespero. E se fosse no 13°? Ela não teria sobrevivido", disse o morador  do condomínio, o técnico industrial Denilson Silva, 39, em apoio à manifestação.

Ele estava saindo do prédio com o filho criança quando viu o ato. Sobre a acusada, Melina, ele disse que ficou surpreso com as denúncias. "Encontrei com ela no dia anterior no elevador e a cumprimentei. Mas nunca imaginei que ela fosse capaz de uma atitude dessa. Tomei conhecimento de tudo através da imprensa", acrescentou.

Vários casos vieram à tona Ao menos 12 mulheres já registraram queixa contra a patroa acusada de agressão no bairro do Imbuí, em Salvador. Até a noite desta terça-feira (31), Melina Esteves França, ex-patroa da babá que pulou do terceiro andar no bairro do Imbuí, tem sete ocorrências na Delegacia Territorial (DT), de Itapuã e cinco ocorrências foram registradas na 9ª DT / Boca do Rio. A informação foi confirmada pela Polícia Civil.

Das sete ocorrências na DT de Itapuã, três solicitantes já foram ouvidas. A Polícia não forneceu mais informações sobre as cinco ocorrências registradas, na Boca do Rio, mas afirmou que os casos estão sendo apurados, e, a patroa da babá consta como suspeita. O Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) está supervisionando e acompanhando todos os casos.

Relembre Raiane Ribeiro trabalhava cuidando de crianças em um apartamento no Edifício Residencial Absolutto quando caiu do terceiro andar. Socorrida para o Hospital Geral do Estado, ela prestou depoimento no posto policial da unidade e disse que pulou da janela para fugir da patroa.

Leia mais: Babá pula do terceiro andar de prédio no Imbuí e acusa patroa de cárcere privado   Segundo a funcionária, ela foi agredida e trancada em um cômodo da casa, após ter seu celular tomado pela patroa. Tudo teria começado quando ela avisou que queria deixar o emprego após uma semana de contratada.

Raiane conversou com o CORREIO na noite da ultima quarta-feira (25) e relatou os momentos traumáticos que viveu. Natural do município de Itanagra, a 120 km de Salvador, ela disse que viu o anúncio de emprego em um site e decidiu se candidatar. 

Após contato com a anunciante, a babá trocou informações e após algumas chamadas de vídeo foi contratada para trabalhar. "Depois que eu vi o anúncio, entrei em contato, e o acordo era trabalhar integral e folgar a cada 15 dias", disse Raiane.

No entanto, após iniciar o trabalho, Raiane conta que recebeu nova proposta de emprego e que após comunicar à patroa, passou a ser ameaçada. "Quando eu pedi para sair do trabalho, ela respondeu: 'eu quero ver se você vai embora. Eu não sou vagabunda. Você não vai embora", lembrou a babá. 

A ameaça, de acordo com Raiane, teria ocorrido na terça-feira (24). A babá teria pedido socorro à irmã, pelo telefone. A irmã de Raiane então entrou em contato com uma tia que mora em Salvador. Após o contato, um homem teria ido até o prédio onde Raiane trabalha, mas após fazer contato pelo interfone, a patroa disse que Raiane não estava no local.

Nesta quarta-feira (25), uma pessoa voltou no prédio a pedido da tia de Raiane para procurar a jovem, segundo ela, desta vez, a patroa arrancou a fiação do interfone para evitar o contato. Sem contato externo, Raiane diz que foi trancada no banheiro. Desesperada, ela tentou fugir pelo basculante.

"Ela me trancou no banheiro, ai vi o basculante e decidi fugir para alcançar a janela do apartamento do lado e lá pedir ajuda, mas aí não consegui e fiquei pendurada. Aí depois, eu caí", conta.

Ela caiu dentro de um apartamento localizado no primeiro andar e foi socorrida. Raiane fraturou o calcanhar, e levou pontos na testa, além de ter ficado com alguns hematomas no corpo. Ela teve alta no mesmo dia.

Mas o comportamento agressivo de Melina Esteves França com trabalhadores domésticas tem relatos desde 2018, pelo menos, quando ela ainda morava em Piatã. Um grupo de ex-funcionários foi à 9ª Delegacia para prestarem depoimento sobre as ameaças de cárcere e agressões físicas e verbais na última sexta-feira (27).

Até segunda (30), havia registro de 11 vítimas da mesma mulher. Pelo menos 4 no atual apartamento que a acusada mora, no bairro do Imbuí, e as outras na sua antiga residência, em Itapuã. Os casos são apurados pela Polícia Civil.