'Guardiões do Crivella': funcionários da prefeitura do Rio são pagos para atrapalhar imprensa

Com escalas definidas, duplas ficavam nas portas dos hospitais municipais para tentar impedir denúncias

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  • Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2020 às 09:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Globo

Uma reportagem da TV Globo revelou um esquema envolvendo funcionários da prefeitura do Rio de Janeiro remunerados para atrapalhar o trabalho da imprensa. Os funcionários cumpriam escalas nas portas dos hospitais municipais e atuavam sempre que uma equipe de reportagem tentava fazer uma passagem ao vivo ou gravar alguma matéria.

Segundo revelou a TV Globo, a organização tem escalas diárias, horários rígidos e ameaças de demissão. Eles eram controlados em grupos do WhatsApp, administrados por Marcos Paulo de Oliveira Luciano, o ML.

Trabalhando em em duplas, eles tentavam atrapalhar reportagens com denúncias sobre a situação da saúde pública e intimidar cidadãos para que não falem mal da prefeitura. Para comprovar que estavam de plantão, eles enviavam selfies nos grupos do aplicativo.

Um dos funcionários aparece em várias fotos ao lado de Crivella e tem salário de mais de R$ 10 mil. 

Entre os participantes de um dos grupos, um telefone chama a atenção. O número aparece registrado como sendo do próprio prefeito, Marcelo Crivella. O Jornal Nacional apurou que o prefeito já usou esse número. A equipe de reportagem ligou, mas ninguém atendeu.

“O prefeito, ele acompanha no grupo os relatórios e tem vezes que ele escreve lá: ‘Parabéns! Isso aí!’”, contou à TV Globo um dos participantes dos grupos.

“O sistema todo é chefiado pelo doutor Marco Luciano. Doutor Marco Luciano é um amigo do Crivella. É o chefão geral, tá? Não sei se ele é parente, se é da Igreja Universal, não sei, não, mas sei que ele é muito chegado. É uma pessoa de extrema confiança do prefeito Crivella”, contou uma das pessoas que faz o trabalho.

Alguns dos funcionários foram identificados:

ML é Marcos Paulo de Oliveira Luciano, o Marcos Luciano. Desde 2017, Marcos Luciano é assessor especial do gabinete do prefeito. Em julho, o salário foi de R$ 10,5 mil.

José Robério Vicente Adeliano foi admitido na prefeitura em novembro de 2018, em “cargo especial”. O salário bruto é de R$ 3.229.

Ricardo Barbosa de Miranda foi contratado pela prefeitura em junho de 2018, como assistente 3 e salário de R$ 3.422.

Marcelo Dias Ferreira, desde setembro de 2018 na prefeitura com cargo especial e salário bruto de R$ 2.788.

Luiz Carlos Joaquim da Silva, o Dentinho, contratado em dezembro de 2019 com salário bruto de R$ 4.195, em cargo especial

Prefeitura “O sistema todo é chefiado pelo doutor Marco Luciano. Doutor Marco Luciano é um amigo do Crivella. É o chefão geral, tá? Não sei se ele é parente, se é da Igreja Universal, não sei, não, mas sei que ele é muito chegado. É uma pessoa de extrema confiança do prefeito Crivella.”

Após a veiculação da reportagem na TV Globo, um dos grupos dos 'Guardiões do Crivella' sofreu uma debandada nas últimas horas. “Gente, não é para sair do grupo, nunca houve nada errado aqui”, disse ML. (Foto: Reprodução/TV Globo)