Guia prático para morrer pelo Vitória

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  • Paulo Leandro

Publicado em 13 de julho de 2022 às 05:27

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Quando o Barradão enche, a exigência aumenta: não faz bem para o Vitória a cobrança excessiva, daí escrever agora de madrugada, insone, sobre percepções acumuladas no convívio da galera, pensando no jogo de domingo.

Em primeiro lugar, coloque-se no lugar do jogador: imagine você, motorista, autônomo, médico, juiz, advogado, agente de limpeza, fazendo seu trabalho e milhares de pessoas te observando.

Daí, qualquer errinho, as multidões podem te vaiar, louvar com palavras generosas a sua genitora ou outro constrangimento. Como você se sentiria, diga aí.

Na ocorrência de jogador nosso tirar lateral errado, nada de apupar: aplaudir. No caso de um dos nossos demorar a passar a bola, de jeito nenhum se deve agoniar o cara porque isso tira a concentração.

Passada esta etapa da empatia (colocar-se no lugar do nosso jogador), podemos iluminar a consciência rumo ao nirvana da des-alienação.

Aquilo chamado pelos gregos de Psiquê, cortejada por Éros, de onde derivamos o erotismo: unir, ligar, apoiar. Amor Fati (Nietzsche): amem o Vitória integralmente desde o cara ou coroa!

Toda esta arte, ao som de Positive Vibration, tocando Bob, traduzido por Gêu: tudo, tudo, tudo vai dar pé. Milhares de crentes no deus Leão mentalizando três pontos diante do Paysandu criam a onda quântica.

Ideal seria se o Vitória pudesse levar um Leão de verdade, e soltar no vestiário visitante, mas na falta do comedor de bifes, podemos costurar um bandeirão com o Leão de Judá, aquele da Etiópia, ali tem energia.

A referência é Rosicleide, nossa castor (Simone). Vocês não estarão no shopping ou na resenha do condomínio; pensem no adversário com a merecida dignidade de sua bonita história, mas o Papão aqui é o Nego, véi!

Vocês não vão ao Barradão comprar um produto ou serviço, estarão a serviço do Vitória, a dedicação deve ser a de um eleitor ao defender o voto pela restauração civil do Brasil em outubro.

Adversário com posse de bola, aí é hora de perturbar. Nunca mais ouvi gritos de “É esse! É esse!”. No momento em que o melhor deles pegar na bola, se 30 mil gritarem “É esse! É esse!”, ele treme, bote fé.

Por ser filho de paraense, d. Maria de Nazaré, admiro o rito do Círio, mas o Senhor do Bonfim estará no comando junto com Nossa Senhora - de Canabrava.

Vamos supor escanteio nosso; até os beques e meu neto Bem sobem à área. É a hora do “Vi-tó-riá-lalaiá”: momento de botar todo o ar fora dos pulmões, pois no abafa, os jogadores sentem a boa onda e a bola até pede pra fazer o chuá nos cordéis.

Ao arqueiro adversário, os gritos de “peneira!”, a irritação dos gandulas na reposição da bola, xingamentos de quem fica atrás do gol, tudo é ajuda, calculem quantas expulsões Bougê e Roquinho tiveram nesta função para desestabilizar o número 1 dos visitantes.

O Barradão cheio fica infiltrado de bahias contra os nossos e tem uma parte da torcida se achando cliente do Vitória (“moral de jegue”, diria Albergaria).

Tudo culpa dos programas de ‘marquetingue’: confundiram o perfil do torcedor - aquele amante, não importa quantos chifres leve - com o de consumidor - idiota querendo ser “feliz”. Quem quiser ir é pra dar força ao Vitória!

Domingo, quero ver se aprendemos mesmo a jogar junto com o Nego.

Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade. A opinião do colunista não reflete necessariamente a do CORREIO.