Hackathon no sertão de Piritiba

por João B. Rocha-Junior, professor da UEFS e pesquisador do Centro de Projetos Fraunhofer da UFBA. [email protected]. E José Amancio Macedo Santos, professor e pesquisador da UEFS. [email protected]

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  • Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2017 às 15:48

- Atualizado há um ano

Embalados pela Campus Party, recentemente realizada em Salvador, que reuniu programadores do Brasil e do mundo para desenvolver soluções criativas, sem perder tempo, a pequena cidade de Piritiba, com gente competente e ousada do sertão da Bahia, realizou, no dia 18 de agosto, o primeiro "hackathon sertanejo", conectando o sertão, sofrido e esquecido, com o mundo. Fez história.

Hackathon é uma maratona de programação de computadores, criada a partir da junção das palavras em inglês hack (programação exploratória) e marathon (maratona). Se o hackathon já é algo inusitado e inovador para a Bahia, o que dizer para uma cidade do sertão com apenas 25 mil habitantes, sem nenhuma escola técnica ou de nível superior?

A proposta foi feita pelo WWI-Worldwatch Institute que sugeriu a inclusão de um hackathon no evento Piritiba 2030: Desafio Digital, quando o município adotaria os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS 2030), da ONU, com o endosso e a presença do superintendente da Sudene, Marcelo Neves. A princípio, os professores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), que organizaram o hackathon, acharam a proposta de difícil realização - "uma loucura" - mas toparam o desafio. E não é que o evento foi um sucesso!

No dia anterior a maratona, sete equipes com 4 alunos cada, se reuniram para um treinamento na plataforma "App Inventor" do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o mais renomado instituto de tecnologia do mundo, utilizada para o desenvolvimento rápido de aplicativos para Android. Piritiba ligou o sertão da Bahia ao MIT, em Cambridge, nos EUA, mostrando que, na dimensão da internet um mundo novo esta acontecendo, conectado pelas nuvens, as mesmas que tanto demoram de despejar água por lá. Os alunos de Piritiba surpreenderam a plateia e a Sudene, que nunca tinha estado em Piritiba.

No dia do evento, as 7 equipes foram apresentadas aos 17 objetivos dos ODS. O objetivo de cada equipe foi elaborar um aplicativo inovador que se enquadrasse em um dos objetivos. A equipe campeã, composta por alunos do Colégio Estadual Aydil Lima Santos, com idade média de 16 anos, desenvolveu um aplicativo para estimular o consumo de produtos agrícolas produzidos na região. Os alunos deram um show e o jovem prefeito de primeira viagem, Samuel Santana, chorou.

Através do aplicativo, o agricultor pode tirar uma foto de um produto, colocar um preço e publicar na ferramenta. Assim, os produtos ficam disponíveis e podem ser adquiridos por pessoas interessadas, em qualquer canto. Tudo isso no próprio aplicativo. Todas as equipes produziram aplicativos muito interessantes e destacaram que o mais importante foi a lição aprendida por eles e por todos participantes que, emocionados, lotaram durante todo o dia o salão de eventos do Happy Day, descortinando novos potenciais da realidade local.

Como mensurar o impacto deste tipo de iniciativa para a cidade e para os adolescentes que participaram do evento? Será que a semente plantada fará germinar a consciência de que a juventude não precisa ser só plateia, mas também pode ser protagonista de soluções sustentáveis nas suas cidades? Como diria o personagem Chicó, de Ariano Suassuna, "Não sei, só sei que foi assim!".