Hinos homéricos ao deus do Fútil

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  • Paulo Leandro

Publicado em 7 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Canto a ti, Apolo das mais belas artes, que em tudo vê harmonia, no toque suave e preciso da cítara, agradecemos a visão do mais incrível gol que já se vira, ainda no seu campo, da meia Lua, em glória a Selene, o player do Sampaio atirou o balão honrando ao filho de Hiperyon, o Titã... a cruzar os céus tricolores, Hélio, em carruagem de fogo, na ‘descaída’, queimou o barbante dos incréus...

Canto a ti, deusa da regularidade, mãe pitagórica, Matemática de igualdades e distinções, mundo das certezas, para registrar a série de 7 empates de 1x1, com uma derrota, do Leão rei do equilíbrio, pois de quem se pode esperar confiança é aquele que produz sempre o previsível e dali não faz movimento e nenhuma vitória se pode esperar de quem não vence a si próprio...

Estes fragmentos de hinos homéricos, séculos V ou IV a.C., jamais foram encontrados, porque só existem na imaginação do esforçado estudante de mitologia grega, torcedor do Vitória. Mas dão a ideia da classificação heroica para as quartas da Lampions Liga.

O gol marcado por Apolo e a matemática da regularidade destruíram a temida realidade. A arte e o imprevisível espantaram o tédio do abominável e tacanho jogo ‘normal’!

A trajetória da pelota, ao ser alçada pelos pés do Apolo maranhense, desenhou o imaginário coletivo com um arco-íris a abrir o portal da beleza, reivindicando autenticidade, unicidade e a aura dos santos e das obras de arte: vinde a nós, Benjamim!

Histéricos gritos de ira de Themis, antes de violentada e devorada por Zeus, ecoaram na praia dos titãs: seus 12 pontos deram para comprar uma cadeira de plástico duro número 5, na Z-Norte. Não deu, em quinto não passou!

Restou paletar ao Campo Grande, para ver com o oráculo do ‘Pé-do-Cabloco’ se vai dar pra vencer o ‘anão’ pela milésima-quinquagésima-terceira vez.

Já o Nego 1798, o dos Alfaiates, enfrentou os brancos e ficou em quarto – última vaga - com sete empata-alegrias.

Sete vinhos embriagam Dioniso: sete empates de 1x1, remetendo à página 47 da Ética a Nicômaco, editora Ateneu, quando Aristóteles fala do equilíbrio.

É com o equilíbrio que vêm a regularidade e a confiança no outro. Se o ‘conge’ (valeu, Serjião!) dá sempre a mesma posição, se o patrão paga em ‘dias’,  se de quatro em quatro anos tem eleição, então há confiabilidade. Só se vive com crenças e hábitos!

Regularidade é o concreto e o tijolo no puxadinho da confiança. Acresce a poesia trágica de Eurípides, pois deu-se o Leão ao sacrifício: não ganhou uma sequer, jejum de amor, não deu umazinha! E passou, está dentro, espumante, liso!

Correto e cordial, o Leão guarda um pontinho a todo seu irmão. Para que ganhar? Este é o Vitória de fé, ao igualar-se sete vezes, como previram os voduns de sete mares e sete serras.

A carta sete do tarot de Marseille é a do carro: viagem (à Fortaleza), proteção e sucesso.

Manifestações sobrenaturais – gol de Apolo e a deusa da Regularidade - merecem cantos homéricos, hinos, epopeias, poemas, elegias, tragédias e comédias, pois são encaixes do ‘futilball’ no Kosmo, a Grande Ordem de harmonia e perfeição.

Os idiotas da objectividade, que fazem culto ao facto, hão de mofar no insalubre Hades, onde os espera a sombra implacável do deus da crônica e da dramaturgia!

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade