Histórias do Bem: “Sou guerreiro todo dia”

Elione Sousa teve prótese doada pelo Hapvida, deu a volta por cima e se tornou um paratleta

  • D
  • Do Estúdio

Publicado em 1 de setembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: divulgação

Um acidente de moto mudou radicalmente a vida de Elione Souza. Após ingerir bebida alcóolica em uma festa em Aracati, interior do Ceará, perdeu o controle da direção e colidiu de frente com um carro. Ali, em 2010, começava o maior drama da família. “Minha mãe foi acordada às 2h da manhã com o médico pedindo autorização para amputar minha perna esquerda e tentar salvar minha vida”, conta Elione, que despertou apenas três dias depois do acidente em uma UTI.  

Vaidoso, não conseguia aceitar que, a partir daquele momento, teria que reaprender a andar. “Eu não sabia que rumo tomar. Eu, com 26 anos, iria depender dos outros para tudo. Me senti humilhado. Não sabia como ia reverter essa situação”, relembra o rapaz, que na época trabalhava como vigilante de um parque eólico de Aracati, cidade onde morava com os pais, a filha e três irmãs.

Foram dois meses de internação no hospital e outros três em completo repouso em casa. “As primeiras semanas, eu tinha um sentimento de muita revolta. Não conseguia me ver como deficiente, de perna amputada. Ficava me perguntando porque isso tinha acontecido comigo, porque dessa maneira. Não conseguia entender”, relata Elione, que encontrou no apoio da família a força para transformar a mudança drástica em uma nova oportunidade de viver.

Com baixa autoestima, no início não queria nem sair do quarto. “Tinha bastante insegurança. Ficava pensando em como as pessoas iriam me olhar a partir dali. Isso me assustava muito. Não sabia a força que eu tinha”. Aos poucos, passou a agradecer por não ter tido sequelas piores. “Consegui compreender que isso foi o mínimo que podia acontecer comigo diante da gravidade do acidente. Sem contar que eu costumava fazer isso, beber e dirigir. Minha vida mudou a partir daí. Foi tudo transformador”, confessa. Com o apoio da família e da equipe médica, Elione começou a praticar esporte em 2012. Dois anos depois, já estava competindo profissionalmente Superação Ao invés de se aposentar por invalidez e ficar em casa, quis se mudar para Fortaleza e iniciar o processo de reabilitação. O começo não foi fácil. “Aprender a andar de muleta e ter autoconfiança de sair na rua. Evitava sair com vergonha de cair. Tinha medo de não conseguir subir no ônibus, de não aguentar andar”, relembra Elione.

Com o apoio da família e da equipe médica, começou a praticar esporte em 2012 e, dois anos depois, já estava competindo profissionalmente. “Minha vida era completamente diferente. No máximo eu ia na academia fazer musculação. Todo dia eu agradeço a Deus. Ele já tinha reservado pessoas que me acolheram, que não desistiram e que descobriram o potencial que eu tinha. Essas pessoas me transformaram”, conta, emocionado.Já com o título de terceiro paratleta na categoria PT2 do triathlon brasileiro, ganhou, no final de 2015, um reforço para conquistar ainda mais pódios: uma prótese alemã especialmente desenvolvida para corredores do atletismo de pista.

Em uma arrecadação coletiva na internet conseguiu parte do dinheiro para pagar a peça, mas a compra só se tornou viável após o patrocínio do Hapvida Saúde. “O sonho de quem não tem perna é ter uma prótese. Eu ainda tive a oportunidade de ter uma muito boa, com fabricação na Alemanha. Meu rendimento melhorou muito nas competições”, conta Elione, que recebeu também da operadora apoio financeiro para participar das três competições classificatórias para as paralimpíadas do Rio de Janeiro nos Estados Unidos, Japão e França.

A amputação, que inicialmente foi vista como problema, passou a ser ponte para o sucesso. “Não me via como atleta e depois de cinco anos do acidente já estava nos Estados Unidos representando o Brasil na Copa pan-americana de para-triathon. Foi o auge; o brilho que minha vida precisava”, diz, orgulhoso. Outra grande e inesquecível vitória foi ser escolhido para conduzir a tocha olímpica na sua cidade natal: “Ficará guardado para sempre na minha memória. Eu fui o cara que entrei para a história junto com minha cidade”. Elione foi escolhido para conduzir a tocha olímpica na sua cidade natal Casado com uma paratleta em Fortaleza e muito mais próximo da família, Elione diz estar no melhor momento da vida: “Há um ano atrás, eu ainda ficava assustado com minha situação. Não sentia internamente que era bom estar amputado. Hoje, eu consigo dizer, com plena convicção, que algumas perdas surgem para melhorar a gente. E foi o que aconteceu comigo. A minha maneira de pensar e de viver mudou muito e para melhor”.

Hoje Elione pratica natação, corrida, ciclismo e salto à distância. Representa o Brasil em competições por todo o mundo como paratleta. E para que não fraqueje nem nos momentos difíceis, tem como amuleto uma blusa que criou com a mensagem “Sou guerreiro todo dia”.“o que me dá ainda mais vontade de continuar é ser um bom exemplo para crianças e outras pessoas que passaram e passam por situações que passei. Eu praticamente não acreditava mais em mim e depois de alguns anos, ser referência no que faço, ser motivo de orgulho para minha família e para cidade, não tem preço” Elione Souza, paratleta 

REABILITAÇÃO REQUER TRABALHO MULTIDISCIPLINAR

“Toda amputação é um caso bastante delicado”, como ressalta Eduardo Dória, ortopedista do Hapvida. Em casos como o de Elione, em que foi acima do joelho, é ainda mais complexo. “Há mais dificuldade em se adaptar a uma prótese”, explica o médico, que costuma trabalhar em conjunto com outros colegas na reabilitação de amputados.

É que o paciente precisa tratar as questões médicas do coto, como cicatrização e sensibilização, fortalecer os músculos, treinar o equilíbrio corporal, alongar os membros e adaptar à nova marcha, seja com muleta ou próteses, com um fisioterapeuta, e ter um acompanhamento psicológico para ajudar na nova consciência corporal e aceitação.

“É uma mudança radical. Traz uma limitação e uma mudança que exige uma reconstrução da vida, porque muitas pessoas deixam de fazer o que sempre fizeram. Se limitam muito, se sentem inúteis, dentre tantas outras questões. A maioria, se não procurar uma terapia, deprime”, ressalta Patrícia Guimarães, psicóloga do Hapvida.

Um dos problemas mais vistos na fase inicial é a dor fantasma. “O paciente sente dor como se o membro estivesse ali. É o cérebro mandando o estímulo para um nervo amputado. Só passa após o nervo cicatrizar”, explica o ortopedista.

O trabalho costuma ser árduo e bastante personalizado. “A gente tenta adaptar a pessoa na nova vida dela. Cada caso é um caso. Adaptamos o tratamento a partir do que a pessoa vai fazer”, ressalta Lilian Santiago, fisioterapeuta do Hapvida.“A gente tenta adaptar a pessoa na nova vida dela. Cada caso é um caso. Adaptamos o tratamento a partir do que a pessoa vai fazer” Lilian Santiago, fisioterapeuta do Hapvida A amputação, que inicialmente foi vista como problema, passou a ser ponte para o sucesso RECUPERAÇÃO DO AMPUTADOOrtopedista Cirurgião que faz amputação Recuperação do paciente Adapta o coto à prótese

Fisioterapeuta Adaptação de marcha Fortalecimento muscular Alongamento Cuidados com o coto Equilíbrio

Psicólogo Consciência corporal Aceitação  

O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.

Assinantura Estudio Correio
O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.