Homem de perguntas e respostas: Mano Brown terá podcast no Spotify

Com 16 episódios, Mano A Mano traz no programa de estreia, nesta quinta-feira (26), entrevista com Karol Conká

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 20:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Jef Delgado/Divulgação

Pedro Paulo Pereira Soares, 51, tem perguntas para o mundo. Algo até inusitado, já que esse mesmo mundo se acostumou a vê-lo como um homem das respostas e não o contrário. Mas, ele decidiu sair da própria zona de conforto (conforme suas palavras) e vai se lançar como comunicador. Pedro Paulo, se você não sabe, é Mano Brown - provavelmente, o maior rapper da história brasileira, que lança nesta quinta (26) o podcast batizado de Mano a Mano, exclusivo no Spotify.

Brown deu entrevista na tarde da última segunda (24) e falou sobre os convidados, a experiência como comunicador, e, como não podia deixar de ser, falou muito sobre a vida. No final das contas, a obra de Mano Brown é sobre viver e lutar para viver bem, dentro do palco ou fora dele. 

"É uma atividade em que não sou consagrado. Estou tendo que aprender comunicação, jornalismo. Parece simples quando você está vendo televisão, mas a condução das entrevistas é delicada, assim como a maneira como você amarra os assuntos, como você mantém a conversa relevante sem perder o tempero", avalia o artista. O podcast é produzido pelo próprio Spotify em conjunto com as produtoras MugShot e Boogie Naipe e tem co-direção criativa da Agência GANA.

Em Mano A Mano, Brown também quis escutar, até por isso o episódio de lançamento terá como entrevistada a cantora Karol Conká, que participou da última edição do BBB e saiu com rejeição recorde de 99,17%."Ter uma mulher negra de frente pra mim, totalmente fragilizada num momento, foi marcante. Não consegui muito apoio de pessoas fora de nossa produção quando sugeri Karol Conká. Pessoas se negaram a deixar ela falar, me perguntaram como eu ia deixar isso. E eu falei que quem manda em mim sou eu, peraí. É uma mulher negra, como minha mãe era, que não era uma mulher fácil, de opinões fortes e atitudes inesperadas. Alguns momentos, eu comparava ela com minha mãe e esse olhar fez o diálogo fluir melhor", afirmou Brown.Karol Conká será a primeira convidada num universo de 16 episódios, que irão ao ar semanalmente, toda quinta-feira. Além dela, nomes como o médico Drauzio Varella, o pastor Henrique Vieira, o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e o político Fernando Holiday já estão confirmados entre no podcast. Episódio de lançamento do Mano A Mano terá entrevista exclusiva com Karol Conká  (Foto: Jef Delgado/Divulgação) Audição A ideia do podcast foi uma consequência da pandemia. No meio de incertezas, notícias ruins e o tanto de desgraça que aconteceu ao redor do mundo, Mano Brown optou por estudar para, dessa maneira, aliviar a cabeça. "Só tinha uma maneira de não chapar com essa ansiedade, essa falta de perspectiva. Fui estudar. Fui ler, busquei na internet, estudei coisa de teologia, arqueologia, filosofia, ciência e coisa relacionadas à África e a diáspora pelo mundo. E em todas as reuniões com meus amigos eu falava muito disso. E eles perguntavam porque eu não fazia um podcast, diziam que sou um contador de histórias nato. E eu fui falar com meu filho, Jorge. Depois, a Boogie Naipe [produtora] apostou na ideia, apostou em mim", explica Brown.Para tirar a ideia do papel, ele não queria apenas falar. Também queria ouvir, discordar, dar e receber. Durante a entrevista coletiva, deu uma atenção especial para o nome de Fernando Holiday, vereador de São Paulo que foi um dos entrevistados e a quem ele fez questão de pontuar sua discordância política.

"Ele é uma inteligência negra, emergente, embora equivocado o lado político dele. Fernando Holiday, como os eleitores que votam em partido de direita, têm ideias de direita, estão nas ruas, assinando lei e executando o que pensam. Não é deixando de falar com eles que vão deixar de existir. E temos que dialogar nas ruas. Eles estão por aí, por mais que se escondam. Mesmo que Bolsonaro seja uma decepção pra eles, continuam pensando aquilo. E vamos ter que conviver, dialogar, não é uma massa que pode ser desprezada ou desconsiderada", afirma o apresentador.

O Mano a Mano, no entanto, não quer ser somente um trabalho combativo. Sobretudo, é sobre a liberdade de quem há pouco tempo se permitiu falar sobre temas como o amor - tão presente em no disco de estreia da banda Boogie Naipe, liderada pelo rapper que fez sucesso com o vocal e as letras dos Racionais MC's. 

Brown afirma que o lugar para se restringir a temas sérios é o rap. No podcast, ele se permitiu entrevistar o trio de meninos da Vila de 1978, formado por Juary, Gilberto Sorriso e Pita. Em outros momentos, encontrou em Drauzio Varella o pai que não teve: falou de dúvidas, de coisas da vida."No Brasil, a informação é negada, principalmente, para o povo afro. A ideia é apresentar conteúdos úteis que nem sempre chegam nas pessoas. É entretenimento, mas também vamos levar informação", avalia Mano Brown.Revelou ser o que ele mesmo se diz: um brasileiro médio, de pensamento médio, filho de uma negra baiana com um branco desconhecido. Como ele mesmo já versou em Nêgo Drama, um homem, guerreiro de fé e vagabundo nato. Agora, também um comunicador.