Homem morre após endoscopia e Samu deixa corpo em sofá de casa

Caso aconteceu em Feira de Santana e é investigado pela polícia

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 19:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo Pessoal

Quando o industriário Edilberto Lopes Batista, 51 anos, saiu de casa, nesta quarta-feira (13), ele não imaginava o que aconteceria horas depois. Ele tinha um exame de endoscopia agendado no Instituto de Doenças do Aparelho Digestivo (Idad), em Feira de Santana, mas não saiu de lá com vida.

O plano de Edilberto era sair do procedimento e ir direto para o trabalho, mas sofreu complicações durante o exame e morreu na clínica. Depois disso, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ainda pegou o corpo do industriário, levou para a casa onde ele morava e o deixou em cima do sofá da sala.

A família ficou revoltada com a situação. Filha mais velha do paciente, a estudante de enfermagem Naila Lopes, 28, acompanhava o pai durante o exame, quando notou uma movimentação estranha, com "muitos médicos entrando e saindo na sala do exame”.

Por conta da experiência com enfermagem, ela desconfiou que alguma coisa poderia ter acontecido com o pai e perguntou o que estava acontecendo, mas os profissionais da clínica disseram que "socorriam uma funcionária que havia se sentido mal".

Dez minutos depois, segundo conta Naila, médicos do Samu chegaram à clínica e foram para dentro da sala com um desfibrilador. Assustada, a menina temeu que algo tivesse acontecido com seu pai e tentou invadir a sala do exame, mas foi contida por funcionários da clínica.  Edilberto deixou esposa e três filhas. Duas delas são adolescentes. (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Na tentativa de acalmar a filha do paciente, os médicos informaram que Edilberto sofreu um edema de glote, mas que tinha sido reanimado e a situação estava sob controle. Eles pediram, ainda, que ela chamasse algum outro familiar para fazer companhia a ela na unidade. Nervosa, Naila ligou para uma prima e relatou o ocorrido. Pouco depois, a parente chegou à clínica e as duas foram informadas sobre a morte.“Falaram que tentaram reanimar por mais de uma hora e que ele morreu. Depois me deram as costas”, desabafou a estudante.Com a morte confirmada, Naila tentou invadir o consultório mais uma vez e se deparou com o corpo do pai, morto e ainda com o tubo da endoscopia na garganta. “Eu vi meu pai com o corpo todo inchado e uma vermelhidão enorme no tórax. Eu que tirei todos os acessos de meu pai e vi”, contou ela, ao CORREIO, por telefone.Corpo largado no sofá Depois de passar por esse trauma, Naila ainda foi informada de que o corpo do pai não poderia ficar no consultório e que ela teria de levá-lo, sem vida, para casa, com auxílio de uma ambulância do Samu.

O corpo de Edilberto foi colocado em uma cadeira de rodas e foi levado para casa onde morava. No local, estava, a viúva da vítima e as outras filhas do casal, de 12 e 13 anos. Sem maiores informações, a equipe médica pegou o corpo do paciente, deixou no sofá.“O corpo sem vida de meu pai ficou quase 6h no sofá de casa”, contou a filha mais velha.O irmão de Edilberto, Miguel Arcanjo Batista, também estava bastante abatido com toda a situação.  “Deixaram lá como se fosse um qualquer, um indigente”, lamentou.

O corpo do industriário só foi removido do local quando familiares acionaram a polícia. 

Surpresos com o atestado de óbito, cujo laudo apontava "morte por causa indeterminada", eles procuraram a Polícia Civil e pediram ajuda. Uma equipe do Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Feira de Santana foi até o apartamento e fez a remoção do cadáverpara o Instituto Médico Legal (IML).

Prevendo que o corpo ficaria endurecido após a morte, Naila imobilizou o pai com lençóis para que ele pudesse ser colocado em um caixão - caso ela não fizesse isso, seria necessário quebrar ossos da vítima para que ele coubesse na estrutura.

Edilberto foi enterrado na última quinta-feira (14), no Cemitério São João Batista, em Feira de Santana. Edilberto morreu aos 51 anos (Foto: Acervo pessoal) Investigação Em nota, a Polícia Civil afirmou que a delegada Bianca Torres, titular da 2ª Delegacia Territorial de Feira de Santana, é a responsável por investigar o caso. Um laudo de necropsia foi solicitado para apurar as causas da morte de Edilberto.

Testemunhas, familiares, funcionários da clínica e do Samu serão ouvidos na próxima segunda-feira (18). 

O CORREIO entrou em contato com a clínica onde tudo aconteceu. Através de nota, a Idad afirmou que a endoscopia à qual Edilberto foi submetido "foi concluída sem intercorrências e após a realização do exame a vítima teve um quadro súbito e atípico de parada cardiorrespiratória, sem causa aparente”.

A versão é contestada pela família e a filha mais velha, que encontrou o pai morto, no local, ainda com o tubo da endoscopia, o que indica que as complicações aconteceram durante o procedimento.

Confira a íntegra da nota divulgada pelo Instituto de Doenças do Aparelho Digestivo:“O IDAD - Instituto de Doenças do Aparelho Digestivo, informa que o paciente Edilberto Lopes Batista, compareceu voluntariamente, no dia 13 de fevereiro de 2019, para realização de Endoscopia Digestiva Alta, a qual foi realizada e concluída sem intercorrências, vindo a apresentar após a realização da mesma, quadro súbito e atípico de parada cardiorrespiratória, sem causa aparente.

Foram implementadas medidas de ressuscitação cardiopulmonar de imediato e paralelamente comunicado ao SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Emergência, que ao chegar deu continuidade ao atendimento, sem êxito.

O IDAD, vem através desta, externar solidariedade aos familiares e se coloca à disposição para maiores esclarecimentos que se façam necessários.

Atenciosamente,

A direção". * Com supervisão da subeditora Fernanda Varela