Homenageando Conceição Evaristo, Flica vai destacar feminismo e negritude

Feira literária acontece entre 11 e 14 de outubro, em Cachoeira, e tem programação gratuita

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 4 de junho de 2018 às 21:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

A cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, será palco de mais um marco rumo à democratização da literatura. É que a escritora e educadora mineira Conceição Evaristo, 71 anos, um dos nomes mais celebrados da literatura brasileira contemporânea, será a grande homenageada da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira) deste ano.

A oitava edição do evento - cuja programação foi divulgada nesta segunda-feira (4) - acontece entre 11 e 14 de outubro e vai destacar temas como feminismo, negritude e redes sociais. “Ano passado, evidenciamos a mulher negra e trouxemos essa pegada mais jovem, sem deixar de lado pérolas da literatura. Este ano, teremos isso de novo: Conceição Evaristo terá destaque máximo e nada mais justo por tudo que ela representa”, afirmou o curador do evento, o escritor e jornalista Tom Correia. O escritor, jornalista e curador da Flica, Tom Correia, marcou presença no evento (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Conceição vive um momento especial da sua carreira, com o reconhecimento crescente da sua literatura e participação marcante em grandes eventos. Nos últimos dias, cresceu uma campanha para que ela seja eleita para a Academia Brasileira de Letras. Ela concorre com Cacá Diegues e Pedro Corrêa do Lago e o eleito será conhecido em 30 de agosto.

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Em outubro de 2016, Conceição esteve na Flica. Mas a sua história de amor com o estado começou lá nos anos 70. “A minha relação é muito forte. Sempre tive muito da Bahia em mim. A primeira vez que eu vim para Salvador era super jovem e pensei logo: quero morar aqui. Lá em Minas a gente sempre escuta a piadinha de que mineiro era baiano que ia pro Sul e resolveu ficar lá mesmo. Salvador é a cidade que, depois da Nigéria, tem a maior população negra. Também foi aqui que começou todo um processo histórico importante do Brasil em que os africanos e seus descendentes estão incluídos. A Bahia é minha, é nossa”, disse a autora.Na ocasião, ela ressaltou que, apesar de ter um grande reconhecimento hoje em dia, sua trajetória foi longa. "É muito recente a visibilidade das mulheres negras nesses lugares. A trajetória das mulheres negras na literatura é muito dolorosa em termos de reconhecimento. Foi uma grande dificuldade me afirmar como escritora na literatura”, completou ela, destacando que a sua trajetória é longa. Os primeiros lugares que receberam seus textos, inclusive, foram os movimentos sócias: “Se hoje eu tenho visibilidade, não posso nunca esquecer desse caminho”. Ela garantiu estar ainda mais contente com o que a homenagem representa. “Quero que isso tenha retorno coletivo. Que o público possa conhecer outras autoras negras. É um passo em direção à democratização. É uma deferência a todas as mulheres negras que estão lutando e procurando se afirmar. E também àquelas não-alfabetizadas, que trilharam um caminho pra gente percorrer”, ressaltou. De origem pobre, autora é referência para jovens e adultos hoje (Foto: Divulgação) Conceição nasceu em uma favela em Belo Horizonte e trabalhou como empregada doméstica, até se mudar para o Rio de Janeiro, aos 25 anos, onde passou num concurso público para o magistério. Graduou-se em Letras, é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. É autora, entre outras obras, do romance Ponciá Vicêncio (2003), Olhos d’água (2014) e Histórias de Leves Enganos e Parecenças (2016). "A Flica é o evento literário mais importante da Bahia, numa cidade histórica onde a tradição cultural é grande. Fazer ações que  transformam a sociedade faz parte da nossa missão", afirmou Antonio Carlos Júnior, presidente da Rede Bahia (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Além da homenageada, que participa da mesa Admiráveis Olhos D’Água que nos Contemplam, com mediação da escritora e professora Lívia Natália, foram confirmadas mais 12 atrações para a Flica  e para a Fliquinha 2018,  evento infantil que integra a programação da festa. Outros nomes - incluindo autores internacionais - assim como os horários de cada atração, serão divulgadas aos poucos, no site do evento. "Cerca de metade da população não lê. Mas crianças e adolescentes são os que mais têm gosto pela leitura. Por isso, privilegiamos a produção infantil na Fliquinha", adiantou Mira Silva, curadora da Fliquinha, junto com Lilia Gramacho  (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Calendário A importância da feira foi destacada por alguns dos presentes. “A Flica já é oficialmente o maior evento de Cachoeira, superando o São João”, revelou o prefeito de Cachoeira, Tato Pereira, sobre a festa literária que é realizada pela Cali e iContent, com patrocínio do governo do estado, por meio do Fazcultura. A expectativa da prefeitura é receber mais de 30 mil pessoas no evento. Tato Pereira ressaltou que a Flica movimenta a economia não só da cidade, como de outros municípios (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)  “É o oitavo ano de um evento de sucesso, que já faz parte do calendário nacional da cultura, da literatura e também do turismo”, disse o governador Rui Costa.

O presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, pontuou que a Flica é o evento literário mais importante da Bahia, numa cidade histórica onde a tradição cultural é muito grande. “É muito importante a Rede Bahia estar promovendo a Flica. Promover ações que mudam vidas e transformam a sociedade faz parte da nossa missão”, completou. Emmanuel Mirdad, coordenador e idealizador da Flica, marcou presença no evento (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)