'Horário é para ser cumprido', avisa novo técnico do Vitória

Wagner Lopes falou sobre influência oriental em sua carreira e prometeu poucas mudanças para enfrentar o CRB

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  • Da Redação

Publicado em 13 de agosto de 2021 às 17:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: E.C. Vitória/Divulgação

Wagner Lopes chega ao Vitória em um momento delicado. O time vive um extracampo conturbado e, dentro de campo, está em má fase. Em 17 jogos disputados,  só ganhou dois, somando ainda oito empates e sete derrotas. A campanha coloca o Leão na zona de rebaixamento da Série B, na 17ª colocação.

Em sua primeira entrevista coletiva, nesta sexta-feira (13), o novo técnico rubro-negro comentou sobre o desafio que tem pela frente. Wagner afirmou que quer retomar a confiança dos jogadores, e destacou a busca pelo equilíbrio.

"Não é só a missão do Wagner. O Wagner, pela posição do treinador de futebol, que é muito importante, a palavra tem um peso grande... O Wagner vem buscar equilíbrio. Para defender, para atacar. Nós temos vários problemas, de assuntos internos, que a gente não verbaliza. Mas, dentro, a gente vai tentar organizar da melhor maneira possível. Ouvir todos. Nós estamos chegando, então não é o clube que tem que se adaptar ao Wagner, é o contrário. A gente sabe da grandeza do clube, o passado de glórias, a revelação de grandes atletas aqui. Venho com muita vontade de trabalhar, muita determinação", disse o técnico. "Mas vejo que minha missão, antes de mais nada, é voltar ao básico. Fazer com que cada jogador se sinta confiante, voltar a ter confiança. E que o nosso ambiente fique leve, para que a gente possa potencializar a força de cada um dos jogadores. É um elenco jovem - com potencial, mas jovem -, e ainda precisa passar por etapas dentro da competição. É organizar, ter disciplina tática. Fazer com que cada jogador busque dar o seu melhor. Wagner é uma peça dessa engrenagem. Wagner sozinho não consegue nada, não faz nada. A gente precisa não só da colaboração de todos, mas, principalmente, do comprometimento com o Vitória", completou.Na época em que era jogador, Wagner Lopes construiu quase toda a carreira no Japão.Por lá, defendeu sete clubes - Yokohama Marinos, Kashiwa Reysol, Honda, Shonan Bellmare, Nagoya Grampus, FC Tokyo e Avispa Fukuoka - e fez tanto sucesso que se naturalizou japonês e defendeu a seleção na Copa do Mundo de 1998, na França, e na Copa América de 1999, no Paraguai (a equipe foi convidada para o torneio).

Tanto tempo do outro lado do mundo fez o treinador adotar certos aspectos da filosofia oriental. E Wagner já adianta que alguns serão pilares em sua passagem pelo Vitória.

"Tenho muita coisa bacana da cultura japonesa. Posso citar a disciplina, a gente tenta ser o máximo disciplinado. Horário é para ser cumprido. Sou muito rígido em relação disciplinar. Respeito é um dos pilares da minha construção. A organização é fundamental no trabalho, um pilar. A gente pode usar muita coisa da cultura japonesa, mesmo a nossa cultura sendo totalmente diferente. O respeito coletivo, mas potencializando as individualidades. Eu sei que ninguém é igual ao outro, cada um tem sua maneira de entender, a sua leitura de jogo. Cada jogador é único, e não merece ser comparado com ninguém. As individualidades, sendo fortalecidas, faz com que o coletivo fique forte. Essa é só uma das características que a gente usa. De imediato, posso falar que a gente prima muito por isso: horário é para ser cumprido, disciplina tática, orientação com respeito, mas com firmeza. Postura. A coisa que eu julgo ser importante é construir as coisas juntos. Todos se sentirem importantes dentro do processo que a gente está começando nesse momento", afirmou.

Wagner também falou um pouco sobre a maneira que prefere que os atletas atuem. "Para jogar aqui, tem que jogar com raça. A minha maneira de jogar é jogar para cima do adversário, buscar o gol a todo momento. Não só pela minha formação como atleta de ter sido atacante, mas que o torcedor gosta, de ver gols, jogar para frente, dominar para frente, fazer as inversões de jogo. Quanto mais troca de corredor, mais desestabiliza o adversário. É claro que tudo isso, sem fazer gols, não adianta nada. É caprichar nas finalizações. Uma coisa que cobro muito do meu jogador, acertar o gol", disse.

"Independentemente da idade, mas ter personalidade para aguentar e confiar no que pode fazer. Confiança só vem nos treinamentos com execução bem-feita. Quem adquire confiança é o próprio jogador treinando bem, executando bem o que está sendo pedido. Então, a gente espera que os nossos jogadores readquiram a confiança, dar alegria para a torcida, que a gente espera conquistar no dia a dia", falou.

Wagner Lopes só terá tempo de comandar dois treinos antes de fazer sua estreia pelo time. O primeiro já foi nesta sexta-feira (13), e o trabalho seguirá no sábado (14). No domingo (14), o Vitória encara o CRB, às 16h, no Barradão. Com poucos dias antes da preparação, ele não planeja fazer grandes mudanças na equipe.

"Nós chegamos ontem à noite, fizemos o primeiro treino hoje. Gostaria de responder essa pergunta, mas... Quanto menos mexer, melhor. É claro que não vou te dar a escalação. Nós estamos em uma transição, tenho conversado muito com Ricardo [Amadeu], com Flávio [Tanajura]. São pessoas que estão aqui há mais tempo, conhecem o elenco como ninguém. A gente vai aproveitar essa oportunidade para conversar mais, tirar mais informações, conhecer melhor os jogadores. Aproveitar o treino que ainda falta. Mas a ideia é dar sequência ao que vem sendo feito. É claro que a gente tem nossas convicções, muitos anos no futebol. Muitas vezes aconteceu de chegar na véspera do jogo e mudar alguma coisa, às vezes de manter o que está sendo feito. Com bom senso, tranquilidade e, principalmente, conversando com as pessoas que estão aqui, vamos tomar a melhor decisão possível", garantiu.

Confira outros trechos da entrevista de Wagner Lopes:

Continuidade no trabalho Tenho muita convicção na minha maneira de conduzir, de organizar, visão de jogo que tenho e, principalmente, leitura de jogo durante a partida. Não quero ser comparado com ex-treinadores que estiveram aqui, merecem nosso respeito. Tiveram grandes passagens, ora como atleta, ora como treinador também. Respeito muito a história dessas pessoas e sei que cada situação tem muitas maneiras de ser interpretadas. Quero fazer meu caminho com simplicidade, humildade, mas muita convicção no que estamos fazendo. É claro que o treinador não tem prazo de validade. Muitas vezes, só o resultado que importante. Não faço essa análise tão rasa. Prefiro entender que no dia a dia vamos construir identidade com os jogadores, fazer com que cada jogador se sinta bem dentro da missão que a gente está falando, pedindo. É construir, junto com jogadores, um time equilibrado, forte, que tenha não só o DNA do clube, mas, principalmente, que consiga os resultados positivos.

Que caminhos pretende seguir? Eu acredito muito no nosso trabalho, que a gente possa desabrochar muitos jogadores que ainda não estão rendendo o que podem render. E é claro que o caminho das vitórias não tem receita, e é construção coletiva. Não é simples, coisa fácil. Mas a cada treino, a cada jogo e dia passado aqui, queremos influenciar positivamente as pessoas ao nosso redor. E a melhor forma para isso, é vitória. E a vitória não é fácil, não tem receita pronta. É buscar soluções. Acredito muito na maneira como a gente trabalha, nos ensinamentos que tenho, cursos que fiz e tudo que venho trilhando nesses anos todos como ex-atleta, mas como membro de comissão técnica e comandante.Trabalho com meritocracia, sem proteger ninguém. Treinou bem, vai jogar. É dessa maneira, com muito trabalho, dedicação, e com a ajuda de todos que estão aqui, que a gente possa construir caminho de vitórias para fazer com que o Vitória brigue na parte de cima da tabela.

Prefere time propositivo ou reativo? Tudo depende da qualidade técnica que você tem. A minha visão de jogo bonito é o jogo apoiado, que faz a circulação de bola trocando passes rápidos de pé em pé. Você tem movimentação inteligente, gera triangulações rápidas. E a única maneira que entendo de buscar o gol é ser vertical, ter profundidade. Você precisa de velocidade para quebrar a última linha do adversário, precisa de diagonais bem-feitas, o facão que a gente tanto fala, sincronia. São situações que a gente treina muito. Você controla o jogo de duas maneiras: controlando a bola ou espaço. Para controlar o espaço, você corre muito atrás do adversário, fechando linha de passe, com marcação agressiva, mas bem posicionada. Eu gosto do nosso time compactado nos 30 metros, fechando as diagonais, tirando linha de passe do adversário. De preferência, tentando buscar o adversário no campo dele. E isso gera riscos, você estando com a linha defensiva avançada, vai criar a oportunidade de o adversário jogar a bola longa. Isso é risco muito grande porque os atacantes são mais rápidos que os zagueiros. Então, você ter uma dobra de marcação, uma cobertura bem-feita, é importantíssimo para marcar em bloco alto. Isso tudo gera tempo de treinamento. Eu vejo que, nesse último jogo contra o Cruzeiro, até parabenizar o Flávio, o Ricardo, houve uma compactação melhor, circulação melhor de bola. Os jogadores jogaram com muita raça, que é uma característica do clube. [...]

Eu gosto muito da frase do Gentil Cardoso, uma frase antiga, que sintetiza o que penso: "Quem toca, passa; quem desloca, recebe; quem pede, tem preferência". É uma das maiores verdades. Uma frase com mais de 105 anos de idade e é atual. Se eu tenho a bola e meu companheiro cria linha de passe, consigo triangular, manter a posse. Se ele se movimenta de forma inteligente, consigo o passe. Se ele pedir, vai ter preferência. Os detalhes nos cinco momentos do jogo são muitos. Tudo isso, sem confiança, sem execução bem-feita, não adianta nada. É na hora da pressão que o jogador cresce.

Média de idade baixa Já vivenciei essa situação em vários clubes. Acredito muito na expertise das dez mil horas. Hoje a gente sabe que, para alcançar 10 mil horas de treinamento, antes do atleta estrear no profissional, é praticamente impossível. Muitas etapas são passadas superficialmente. Não são puladas, mas hoje, por exemplo, o jogador estreia no profissional e não tem, na maioria das vezes, os 100 jogos que deveria ter na categoria de base. Se o cara joga 33 jogos no sub-15, 33 no sub-17, 34 no sub-20, sem contar o sub-23, ele completa os 100 jogos antes de estrear no profissional. Isso seria o ideal. Só que isso não é possível hoje. Cada vez mais, é difícil ter tantas oportunidades de partidas assim, para que o jogador chegue pronto no profissional. Dito isso, é importante você mesclar. Se jogar só com os garotos, isso tem um impacto em tomada de decisão, em pressão do adversário, se o jogo é fora ou dentro de casa. A gente tem que tomar cuidado, sim, para usar os meninos da melhor maneira, de forma coerente, com equilíbrio. E passando as orientações da melhor maneira, preparando jogadores para todas as situações. A Série B é um campeonato duríssimo. A média de idade, invariavelmente, é de 28, 29 anos, os últimos times que subiram para a Série A. Penso que o equilíbrio, ter uma mescla de jogadores experientes com jovens, é o ideal.

No Atlético-GO, você teve sua melhor campanha como treinador? Fora a passagem longa que tive no Atlético-GO, também tive passagem muito boa no Paulista de Jundiaí. Mas acho que esses números [do Atlético-GO] são os melhores, sim. É claro que a gente quer repetir essa boa estatística no Vitória sabendo que vencer jogos, principalmente na Série B, é muito difícil. Não tem jogo fácil. É se concentrar, fazer o melhor que a gente pode, pedindo que cada atleta faça o seu melhor para que consiga grandes resultados aqui e, consequentemente, subir na tabela.

Já trabalhou com algum atleta do elenco antes? Sim, já trabalhei com Roberto no Bragantino, em 2015, com Sérgio Mota, em 2014. São jogadores que a gente conhece bem, sabe o que podem render. Eu estou muito feliz de estar aqui, uma oportunidade ímpar. A gente espera construir um grande trabalho.