Igreja de Santo Antônio da Barra celebra Trezena ao som de atabaques 

Fiéis lotaram igreja no 5º dia de homenagens ao santo casamenteiro

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  • Tailane Muniz

Publicado em 4 de junho de 2019 às 22:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Quinto dia da Trezena da Igreja de Santo Antônio da Barra foi animado ao som dos atabaques (Foto: Betto Jr./CORREIO) Junto aos cantos religiosos, os atabaques ressoaram. Aos ouvidos dos fiéis, além de orações da Coroa de Santo Antônio, ecoou, em alto e bom som, um resgate de décadas passadas. O quinto dia de celebração da Trezena do santo casamenteiro, na noite desta terça-feira (4), na Igreja de Santo Antônio da Barra, foi uma demonstração de que “o mundo é uma universalidade”.

Em meio aos devotos do santo, havia também baianas vestidas a caráter. Equalizados aos cantos de meditação, os atabaques pareciam um componente normal da missa. Mas, não. Ao CORREIO, o padre Ivan Dias, reitor da Igreja de Santo Antônio da Barra, contou que a ideia de levar os atabaques para a quinta noite de Trezena, que começou no último sábado (31), partiu da “necessidade de fazer um resgate de nossos antepassados”.“A igreja é universal. Nós temos que recordar isso e a nossa maneira de representar essa universalidade é trazer elementos da cultura dos negros, nossos antepassados, que são parte importante da história. E nós queremos tradicionalizar essa referência à cultura afro”, explicou Padre Ivan, ao comentar que não é a primeira vez que convida os percussionistas da Paróquia de São Brás, do bairro de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário, para saudar a cultura afro-brasileira.À primeira vista, o visual até se distanciou do que, comumente, é assistido nas missas. Mas, aos assíduos, a celebração, que mais se aproximou de um ato ecumênico, não é, assim, tão incomum no santuário da Barra. Devota de Santo Antônio, a aposentada Marlene Souza, 80 anos, lembrou a importância de “viver as diferenças”. Integrantes da Paróquia de São Brás foram convidados da celebração (Foto: Betto Jr./CORREIO) “Unir essas referências é necessário. O ecumenismo é o que tanto o Papa Francisco quer de nós, então, eu fico muito feliz. Tenho uma relação de muita fé com Santo Antônio e, para mim, é algo muito grandioso porque eu sequer era uma mulher religiosa”, ponderou ela, que frequenta igreja há 36 anos.

Dos pobres Acompanhada das duas filhas, Marlene contou que passou a ter fé depois de receber “sinais”. “A gente vê muita coisa e, com o tempo, compreende o que elas querem dizer. Eu sou realmente gamada nele [santo]. Estou nessa igreja há 20 anos, por 16 eu frequentei a do Santo Antônio Além do Carmo”, conta. A Trezena segue até 12 de junho, quando será encerrada com uma missa em homenagem aos casais. No dia 13, acontece a festa de encerramento. E se Antônio era dos enamorados, como defendem os entusiastas do casamento, o padre Marcos Augusto, responsável pela celebração, lembrou que “Santo Antônio se fez pobre para fazer de Deus o teu tudo”. Aos fiéis, o padre contou parte da história do homenageado da noite, a quem disse ter pertencido a uma família rica. “Ele abriu mão do que tinha para seguir os passos de Deus", comentou. O padre também fez questão de afirmar que é necessário que as pessoas reflitam sobre o respeito às diferenças. Igreja ficou lotada para a celebração desta terça-feira (4) (Foto: Betto Jr./CORREIO) “Contra o racismo, pelas mulheres, idosos, indígenas. Isso também diz respeito às pessoas que nasceram com orientação diferente dos heterossexuais, porque todos nós somos filhos de Deus. Mas ele, Deus, se faz presente em cada um que sofre do mundo uma situação de vulnerabilidades. Santo Antônio é esse amor”, defendeu.Casamenteiro A parte casamenteira que foi atribuída ao santo também tem relação com um traço de bondade. De acordo com a dona de casa Lúcia Manas, 68, Antônio ajudava as mulheres mais pobres a encontrarem um par. “A gente sabe que ele reunia o enxoval para que essas moças pobres conseguissem casar, por isso a fama”, explica ela, assídua nas Trezenas. “Parando pra pensar, ele nada mais era que um religioso que representou o amor é assim para sempre será. Tenho muita felicidade de estar aqui e, sempre que posso, faço a distribuição dos meus pães aos moradores de rua”, acrescenta. Missa também teve baianas a caráter (Foto: Betto Jr./CORREIO) Professora de Literatura, Rosana Marques, 38, disse que a paz tem relação direta com a harmonia entre os povos. “Confesso que eu visito várias religiões. Entre os santos, Antônio é o que mais me contempla porque creio que reflete bem esse papel, porque era defensor dos mais humildes. Que graça tem morar na Bahia sem poder ver cenas assim?”, indagou, aos risos, a mineira radicalizara em Salvador há dez anos. Estivesse vivo, garante o padre Ivan Dias, Santo Antônio seria a materialização do “amor de Cristo” na terra. “A Trezena nada mais é do que esses dias de oração e aprofundamento da vida de Santo Antônio porque, no século 13 ou 21, é pelos mais pobres, pelos mais necessitados, pelos casais”. Após a missa, os fiéis confraternizaram na quermesse montada na parte externa da igreja, segundo o padre, como uma forma de retribuição às graças e bênçãos. Toda a renda dos doces e salgados vendidos serão destinados a instituições de caridade. Noite teve devoção em família (Foto: Betto Jr./CORREIO) Trezenas Na Arquidiocese de Salvador, das 100 paróquias, quatro são dedicadas a Santo Antônio e terão programação especial até o dia 13 de junho, quando é o ponto alto das comemorações. Santo Antônio Além do Carmo, na Igreja de Cristo em Missão no Mundo: até 12 de junho, sempre às 20h Portão, em Lauro de Freitas, na Igreja Matriz: até 12 de junho, sempre às 19h Barra, na Igreja de Santo Antônio da Barra: até 12 de junho, sempre às 18h Cosme de Farias, na Igreja Matriz: até 12 de junho, sempre às 19h30