Igreja lotada, emoção e pedidos: como foi a celebração do Corpus Christi em Salvador

Foram dois anos de interrupções por conta da pandemia e medidas restritivas ainda estão sendo adotadas

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 16 de junho de 2022 às 15:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Quando os sinos da Catedral Basílica romperam o silêncio no Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador, na manhã desta quinta-feira (16), e anunciaram o começo da missa de Corpus Christi o templo já estava lotado. Era tanta gente que alguns fiéis precisaram acompanhar as orações de pé nos corredores e na porta da igreja. Representantes de diversos grupos religiosos marcaram presença, e após o culto uma procissão formada por católicos e turistas percorreu as ruas do bairro.

A missa começou às 9h. O corredor central da igreja ficou interditado por ter sido o local escolhido para receber os tapetes feitos por fiéis para celebrar a data. À direita, se destacava na multidão a Irmandade dos Homens Pretos com seus mantos negros sobre os ombros. À esquerda, outros grupos religiosos sentaram juntos criando divisões de cores no templo. No mezanino, o coral do Seminário São João Maria Vianney (Federação) ditou o ritmo da celebração. Tapetes foram colocados no corredor principal da nave da igreja (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Sergio da Rocha, enviou uma carta aos religiosos da Arquidiocese com algumas orientações. Ele recomendou que apenas os integrantes das irmandades e da Forania 1 (católicos da região) comparecessem à missa na Catedral Basílica e que os demais fiéis fossem incentivados a fazer as orações nas próprias paróquias para evitar aglomerações. A medida foi tomada por conta do aumento nos casos de covid. Ele destacou a importância da solidariedade e do amor ao próximo.

“Corpus Christi é antes de tudo um testemunho público de fé em Jesus, na Eucaristia. A Igreja tem várias ocasiões no ano em que ela celebra a própria fé através de solenidades, mas há uma única vez no ano em que se faz a procissão com o Santíssimo Sacramento para demonstrar publicamente a fé que temos em Jesus, uma fé que precisa ser vivia no dia a dia, por isso, ela acontece na rua. É preciso lembrar que a fé em Jesus deve ser acompanhada pela caridade e pelo amor aos mais sofredores” afirmou.

Dom Sérgio pediu também que todos usassem máscara e a maioria dos fiéis seguiu a recomendação. A aposentada Maria Fernandes, 66 anos, levou até álcool gel. “Esse é um momento de adoração ao Santíssimo, de reverenciar nossa fé, mas não podemos descuidar da nossa segurança. Deus nos deu a vacina e as máscaras, temos que usar”, disse.

A chuva que havia caído durante a missa deu uma trégua no momento da procissão e o sol brilhou forte em um céu azul. Um dos momentos mais emocionantes foi o da benção final, na escadaria da Catedral. Quando a banda da Polícia Militar cessou os instrumentos o público formou um coral espontâneo entoando os últimos versos. Em seguida, um silêncio caiu sobre o local para as orações e foi interrompido cerca de dois minutos depois pelas vozes do coral profissional que estava dentro da igreja. Algumas pessoas se emocionaram. Fiéis entoam cânticos após a banda cessar (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Procissão Depois de dois anos cancelada por conta da covid, as procissões após a missa de Corpus Christi foram retomadas em 2022, mas a Arquidiocese recomendou trajetos curtos para evitar grandes aglomerações. Pouco antes da missa terminar, os membros das irmandades deixaram o templo e foram organizados em grupos. A imagem do Santíssimo Sacramento saiu da Catedral carregada pelo arcebispo e sob fortes aplausos.

A procissão foi animada por um carro de som, teve cânticos e orações. A multidão caminhou até as proximidades da Praça Castro Alves e retornou à Catedral, com policiais militares e agentes da Transalvador auxiliando no percurso. A movimentação atraiu a atenção de quem estava trabalhando nas lojas e de turistas, como a administradora mineira Lis Torres, 30 anos.

“O desfile está muito bonito. As duas filas indianas com a imagem desfilando no meio deu um tom de respeito e proteção muito bonitos de ver. São diversos grupos religiosos e as vestes são lindas, enfim, estou adorando tudo”, comentou, enquanto fazia fotos. Participaram da celebração cinco associações, seis ordens terceiras e nove irmandades, além de seminaristas, diáconos, padres e bispos.

Corpus Christi A Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo teve início em Liége, na Bélgica, no século XII, após uma visão de uma freira, que apontava a ausência de uma solenidade para consagrar o corpo de Cristo, e após um padre ver a hóstia consagrada pingar gotas de sangue sobre o corporal. O papa Urbano IV ficou impressionado quando encontrou os fiéis caminhando diante da relíquia eucarística desses dois episódios e pronunciou as palavras “Corpus Christi” (Corpo de Cristo). Em 1264, ele instituiu a solenidade, que foi promulgada em decreto, em 1317.

A procissão que acontece após a missa passou a ser realizada a partir do século XIV. No Brasil, a primeira manifestação pública de louvores à Eucaristia aconteceu na cidade de Salvador, em 1549. De acordo com o calendário litúrgico, a Solenidade de Corpus Christi acontece sempre na quinta-feira seguinte à Solenidade da Santíssima Trindade. Contudo, é importante lembrar que o dia de comemoração do Sacramento da Eucaristia é a Quinta-feira Santa, dia em que foi instituída, enquanto que a festa de Corpus Christi se constitui como a confirmação da presença amorosa de Jesus.