'Igrejas eletrônicas’: saiba como católicos vão viver a Páscoa na quarentena

No interior, padre Archimedes colou nome de fiéis nos bancos; já o padre Gabriel criou uma paróquia virtual

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 8 de abril de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo pessoal

Imagine a seguinte cena: estamos numa Igreja. O padre começa a celebrar a missa olhando para um celular. Nos bancos, nenhum fiel - todos estão em suas casas participando da celebração virtualmente. Quando é para se ajoelhar ou estender a mão, assim é feito, olhando para o celular. É como os católicos estão vivendo a sua fé em tempos de isolamento social. 

“A transmissão de conteúdos religiosos na mídia existe desde o início do século XX, com o uso do rádio por padres e pastores nos EUA. Só que hoje o coronavírus escancarou isso. O que a gente acompanha são paróquias que nem tinham uma preocupação grande com a comunicação midiática e, agora, deslocam seu trabalho para o ambiente on-line”, explica o pesquisador e fundador do site Mídia, Religião e Sociedade, Marco Túlio de Sousa. 

O Padre Archimedes Neto, de Itamari, cidade de 7 mil habitantes, no sul da Bahia, é um exemplo. Sua paróquia, a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, até estava presente nas redes sociais antes do coronavírus, com transmissões das missas dominicais.“Só que naquela época alcançávamos 500 pessoas, no máximo. Agora pelo Instagram alcançamos 2 mil. E as missas passaram a ser diárias”, afirma. Para poder suportar a ausência dos fiéis, o padre resolveu escrever o nome de todos os paroquianos em uma folha de cartolina e colou nos bancos da Igreja. “São 480 pessoas que frequentam regularmente a Igreja Matriz. Sou padre aqui há sete anos, conheço todo mundo. Não esqueci um nome sequer”, garantiu.  

Essa vai ser a primeira vez que o Padre Neto vai viver um tríduo Pascal sem a presença dos fiéis. Essa celebração é considerada a mais importante para os católicos, pois recorda a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, elementos que, para os cristãos, compõem a própria salvação.  

Não há registros históricos de que as igrejas na Bahia já estiveram fechadas nesse período. “Vai ser realmente bem difícil e diferente. Mas não podemos desanimar e deixar de viver e transmitir a fé para as pessoas, já que temos essa oportunidade das redes sociais”, disse o padre.

Igreja virtual Outro sacerdote católico que estará fisicamente longe dos 150 membros da Paróquia Nossa Senhora da Soledade, localizada em Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação, é o padre Gabriel Vila Verde. No entanto, só no Instagram, ou melhor, na sua “paróquia virtual”, 106 mil pessoas seguem o sacerdote. Cerca de mil pessoas participam da live da missa dominical. Padre Gabriel Vila Verde faz lives diárias no Instagram (Foto: Reprodução) “Eu ando no meio digital desde os tempos do Orkut, quando já gostava de apresentar minha fé”, confessou. O padre nem era seminarista ainda. Isso só foi acontecer em 2010. E foi dentro do seminário que ele começou a ganhar popularidade nas redes. Primeiro no Facebook, depois no Instagram, e agora com a paróquia virtual. “Como percebi que a coisa dava certo, pedi aos meus seguidores que escolhessem um padroeiro para o meu Instagram, pois dali em diante ele seria uma ‘paróquia virtual’. Mas tenho consciência de que isso não passa de um termo simbólico e não canônico”, explicou. 

Na publicação, São Pio de Pietrelcina foi eleito como o patrono da paróquia virtual. “Junto com ele, coloquei Nossa Senhora das Graças, pois a Mãe de Deus não pode ficar de fora”. É assim desde o dia 18 de fevereiro, pouco antes do surgimento dos casos de coronavírus na Bahia.  “Na paróquia virtual do Padre Gabriel tem um pouco de tudo: catequese, oração, música... Nesses dias de quarentena, faço Adoração ao Santíssimo Sacramento todos os dias, às 11h. À noite temos a Santa Missa, por volta das 19h”, avisa.Os fiéis são de todo o Brasil. Adriana Sá Earp, por exemplo, é de Campo Grande (MS). “Acompanho desde quando ele é seminarista”, conta. Os padres Gabriel e Archimedes afirmam que têm consciência de que os seguidores não vão poder receber a eucaristia pelo dispositivo eletrônico, mas eles acreditam que é importante as pessoas participarem das missas on-line. “Lá elas vão poder ouvir a palavra de Deus, que é um alimento para a alma”, afirmou o padre Gabriel.  

A paroquiana Joseana Silva Rocha concorda e participa todos os dias das missas do padre Archemis pelo Facebook. “Acompanho em casa e faço todo o rito como se estivesse na Igreja.”

Fenômeno  O que tem em comum entre os padres Luiz Cesar Moraes, de Itajubá, Minas Gerais, e o padre Paolo Longo, da Igreja de San Pietro e San Benedetto di Polla, na região de Salerno, na Itália?  

Ambos viralizaram nos últimos dias, nas redes sociais, pelo mesmo motivo: estavam fazendo transmissões ao vivo de missas pelas redes sociais e, sem querer, ativaram os filtros do Facebook durante a celebração. Os filtros causavam disfarces nos padres, que levaram a situação na brincadeira. “Deus quer também um pouco de alegria”, escreveu o padre aos seus seguidores. 

Onde acompanhar a programação religiosa da Semana Santa: 

Com o padre Archimedes, no Instagram @pascomperpetuosocorro ou @andrade.bahia  Quinta-feira santa: 18h Sexta-feira da Paixão: 16h   Sábado de Aleluia: 18h   Domingo de Páscoa: 18h

Com o padre Gabriel Vila Verde, no Instagram @gabriel.vilaverde Quinta-feira santa: 19h Sexta-feira da Paixão: 15h   Sábado de Aleluia: 19h   Domingo de Páscoa: 8h

Na televisão:

Canção Nova Quinta-feira santa: 20h Sexta-feira da Paixão: 15h   Sábado de Aleluia: 20h   Domingo de Páscoa: 7h30, 12h e 15h

TV Evangelizar Quinta-feira santa: 19h Sexta-feira da Paixão: 15h   Sábado de Aleluia: 19h   Domingo de Páscoa: 8h e 18h

TV Aparecida Quinta-feira santa: 20h Sexta-feira da Paixão: 15h   Sábado de Aleluia: 20h   Domingo de Páscoa: 8h, 12h e 18h

Rede Século 21 Quinta-feira santa: 19h Sexta-feira da Paixão: 13h e 15h   Sábado de Aleluia: 16h e 19h   Domingo de Páscoa: 6h

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro