Imprensa internacional repercute desfile militar: 'Estilo República das Bananas'

Quase todos citaram período da Ditadura Militar ao falar sobre passagem de tanques

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 19:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Agência Brasil

A expectativa de uma demonstração imponente do poderio militar ficou um tanto distante da realidade e chamou a atenção da imprensa internacional, nesta terça-feira (10). Enquanto alguns veículos de imprensa fizeram análises mais sóbrias, com fundo histórico – comparando inclusive com o período da Ditadura Militar –, houve quem levasse o evento menos a sério.

Foi o caso do britânico The Guardian, que talvez tenha sido o mais ácido ao pontuar o “estilo República das Bananas” do desfile de tanques. O jornal ainda citou o tweet de Brunno Melo, âncora do CBN Brasília, que classificou o ato como "Ridículo. Grotesco. Lamentável. Desnecessário. Coisa de republiqueta de bananas".

Agências como a Reuters e a AFP (Agence France-Presse), caracterizaram novamente Jair Bolsonaro (sem partido) como um presidente de extrema-direita. Já o Le Monde, da França, publicou que o desfile se trata de “um gesto político muito calculado, uma tentativa de demonstração de força.”

O catari Al Jazeera, por sua vez, pontuou a similaridade com o método de governo do ex-presidente dos EUA Donald Trump, além de evidenciar a perda de popularidade de Bolsonaro nas intenções de voto para as eleições de 2022, em face de um confrontamento com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Semelhanças com a Ditadura Apesar das várias colocações, um ponto de convergência entre as críticas foi a forte semelhança com o período da Ditadura Militar, vivido no Brasil entre os anos de 1964 e 1985.

Em especial, o fato de que forças militares e tanques de guerra não percorriam as ruas de Brasília, fora de datas comemorativas, desde o movimento das Diretas Já - que pedia o retorno da democratização do voto -, em 1984.

Na última vez que isso ocorreu, o Brasil não era uma democracia, os cidadãos tomavam as ruas pelos seus direitos e o presidente da época, o general João Figueiredo, decretava Estado de Emergência para conter as manifestações.

No dia 25 de abril de 1984, foi votada a Emenda Dante de Oliveira, que pretendia restabelecer as eleições diretas para presidente. E, apesar de obter a maioria dos votos, não conseguiu os 2/3 necessários para sua aprovação. Com a rejeição, a eleição para presidente de 1985 foi novamente indireta, no entanto, as forças de oposição ao regime militar conseguiram eleger Tancredo Neves e colocaram fim ao período de 21 anos de ditadura. 

Dois dias antes dessa votação, um comboio de 6 mil militares e 116 tanques desfilavam pela Esplanada dos Ministérios, sob o comando do general Newton Cruz, para pressionar os opositores.

PEC do voto impresso Saltamos 37 anos no futuro e temos um desfile bem menos volumoso, com cerca de 40 blindados, caminhões e tanques, às vésperas de uma outra votação: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso.

O evento militar de Bolsonaro foi visto com maus olhos por senadores e partidos, que o avaliaram como uma tentativa de intimidação. O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, enxerga no ato “a fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção”.

"Todo homem público, além de cumprir suas funções constitucionais, deveria ter medo do ridículo. Mas Bolsonaro não liga para nenhum desses limites, como fica claro nessa cena patética de hoje, que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu", disparou o parlamentar. Aziz disse ainda que "não haverá golpe contra a democracia". 

A PEC irá para votação ainda nesta terça, no entanto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que levou o tema ao plenário, afirmou que as chances de aprovação são baixas. Em caso de rejeição, Bolsonaro irá respeitar o resultado, disse o deputado.