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Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2019 às 15:00
- Atualizado há um ano
O processo de expansão da consciência individual tem um lado negativo: abala as relações sociais. A gradual desintegração de formas tradicionais, dos contatos sociais, com interações face a face, estão sendo substituídas por uma geração hiperindividualista privada da sociabilidade.
Um dos sintomas do isolamento é a degradação da cidadania. Há pouco espaço para projetos em comum, ações políticas que estejam no horizonte. Obviamente, não é geral, mas os níveis de despolitização da sociedade atual são, sim, preocupantes. Lutar por ideais, manifestar pautas em conjunto, em reuniões e encontros presenciais, é cada vez mais uma exceção, principalmente em sociedades absorvidas pela apologia ao consumismo ou estados autoritários que minam a liberdade.
Outro aspecto preocupante está no campo da educação. Novas formas de ensino, no qual não se incentiva aulas presenciais, é a falência da integração face a face entre professor e estudantes. As discussões em sala, a construção de novas ideias, o compartilhamento às dificuldades de aprendizado, muitas vezes só superadas na interação, e a própria dinâmica de crescimento pessoal e coletivo, é ceifada pelo aprendizado privatista do lar. Infelizmente, um triste processo de hiperindividualização do aprendizado.
Em sociedades com algum avanço tecnológico, vemos no cotidiano a relação de isolamento também na família. Os meios de comunicação têm afastado pais, filhos e parentes; almoçar e jantar juntos, que é um processo importante de integração familiar, é coisa do passado. Cada um vai para seu canto, com seu celular, notebook ou TV em seus cômodos.
Por outro lado, muitas pessoas não desejam constituir família. A competição, a obrigação social de uma vida material sofisticada têm levado homens e mulheres a desistirem de terem filhos e parceiros(as), o que incide na solidão e no desapego a qualquer laço mais afetivo e permanente. É só observar o fenômeno da relação entre humano e máquina no filme Her, de Spike Jonze, ou no documentário Dark Net, atualmente, na Netflix.
Em decorrência de alguns acontecimentos sociais, principalmente a violência urbana, as pessoas também evitam sair de casa e preferem viver no mundo dos serviços de streamings, games, novelas, salas virtuais. O isolamento social atrofia as interações, tornando os encontros presenciais (confraternizações, esportes, idas ao parque, cinema, teatro) cada vez mais raros. Estes comportamentos podem levar a solidão, gerando sintomas psíquicos graves como depressão, ansiedade, melancolia, vícios (pornografia, games), fobias (por exemplo, a nomophobia) e ao suicídio.
Estamos regredindo? O homo sapiens está se tornando antissocial? É urgente restabelecer o vínculo entre pessoas, observar o substrato humano antes das vestes. Incentivar a convivência. Este será o maior desafio do século XXI.
Alan Rangel Barbosa é doutor em Ciências Sociais/UFBA e professor da Faculdade Fundação Visconde de Cairu.
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores