Indústria 4.0 vai acabar com algumas profissões, mas criará outras

Eletrônica, conectividade e novas formas de produzir devem transformar a sociedade

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  • Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2022 às 06:00

. Crédito: Reprodução

O mundo em que um profissional de manutenção “corrige” o funcionamento de uma máquina ou equipamento à distância já existe. Na unidade da Continental Indústria Automotiva em Camaçari, e em outras plantas industriais da empresa alemã, o uso dos princípios da Indústria 4.0, baseada na conectividade pela internet, eletrônica, robótica e outras tecnologias, já tornou este cenário uma realidade. 

E se por um lado a automação pode colocar em risco o futuro de determinadas carreiras profissionais, outras novas estão surgindo e muitas outras ainda serão criadas, acredita Ana Claudia Ramos Oliveira, vice-presidente de Relações Humanas da Continental Industria Automotiva. Ela foi a convidada de ontem do programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes. 

A humanidade já passou por vários ciclos, marcados por mudanças nas estruturas produtivas. Da caça, a humanidade passou à dependência da agricultura, da atividade industrial e hoje vive a quarta revolução industrial, explica. “A gente ainda não tem uma noção clara do tamanho da transformação pela qual o mundo está passando com o advento da Indústria 4.0, porque na realidade é uma transformação em nossa maneira de viver”, acredita. 

Para ela, a pandemia forçou empresas de todo mundo a acelerar ou intensificar processos de transformação digital. “Nós tivemos a felicidade de já estarmos muito estruturados para este cenário, embora não imaginássemos que iria acontecer algo assim. Do ponto de vista de sistemas, trabalho à distância e flexibilização já eram práticas nossas, mas não tão utilizados como aconteceu durante a pandemia”, conta. 

“Se tivemos no passado uma forte presença das máquinas, com a mecanização da produção, caminhamos hoje para uma realidade marcada pela eletrônica e a internet, porque a base da Indústria 4.0 é a internet das coisas”, diz, explicando que a hiper conexão é uma característica do tempo atual. “A nossa vida é baseada em redes e isso está transformando a realidade de maneira geral”, aponta. Na indústria, uma característica marcante é a das fábricas inteligentes, conta. 

“Na nossa planta em Camaçari e em outras unidades nossas, nós não imaginávamos a possibilidade de que alguém da manutenção pudesse, sem sair de casa, entrar numa máquina e fazer uma intervenção à distância”, conta. Isso, complementa ela, quebrou o paradigma de que profissionais de engenharia de manutenção tinham que estar o tempo inteiro dentro das unidades fabris. 

Ana Claudia explica que as mudanças em curso nas fábricas vão além dos paradigmas tecnológicos. “Eu estou longe de ser uma nativa digital, então vivi um pouco do fordismo”, brinca a executiva. “Quando eu comecei, lá atrás, as pessoas tinham um medo absurdo de errar e havia uma competitividade entre colegas de trabalho que ainda hoje é difícil de compreender”, explica. Junte-se a isso um contexto de hierarquias “muito formais”. 

“Hoje as pessoas são estimuladas a compreender que aqueles que não arriscam, por medo de errar, não vão conseguir inovar. Não existe inovação sem espaço para o erro, que é visto atualmente como uma grande oportunidade de aprendizado. É uma enorme mudança de conceito”, diz. 

Segundo ela, a lógica das startups vem permeando cada vez mais o imaginário de quem empreende. “As startups percebem uma dor da sociedade, pensam numa solução, testam e jogam no mercado. A partir do uso que o cliente faz, a empresa vai melhorando”, destaca. 

“O que mais me encanta neste processo de mudança é que cada vez mais estamos saindo de um modelo de competição para um outro, de colaboração”, ressalta. Ela conta que certa vez no contato com uma startup pediu nomes de outras empresas para conversar também e a resposta foi uma lista de contato e recomendações entusiasmadas. “Eles me disseram que eu precisava conhecer o trabalho de empresas que atuam no mesmo mercado que deles”, lembra. 

Cada vez mais as empresas estão tendo que lidar com os desafios da convivência de profissionais com mais tempo de vida e os chamados de “nativos digitais”, mais jovens. “Estamos vendo uma mudança de mindset (mentalidade) absurda e se você parar para analisar é possível encontrar nas organizações hoje até cinco gerações diferentes. Esta é uma realidade que nunca foi vivida antes”, destaca. Este cenário se dá porque as pessoas estão cada vez mais longevas e, por isso, trabalham por mais tempo. 

“Está em curso uma transformação no comportamento, na visão de mundo da população, que é muito grande e que a gente ainda não tem noção de onde vai chegar”, acredita.