Iniciativas em prol do carbono zero ganham fôlego com o investimento do setor privado

Economia do carbono: Tema foi discutido durante painel na Semana do Clima, que acontece até sexta-feira (23)

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  • Priscila Natividade

Publicado em 20 de agosto de 2019 às 21:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

As mudanças climáticas estão provocando não só alterações ambientais, mas também na maneira como grandes empresas devem transformar suas emissões de carbono em projetos de conscientização e engajamento. O tema foi debatido durante os painéis que trataram sobre a transição da economia para a economia de baixo carbono. O evento fez parte do segundo dia da Semana do Clima da América Latina e Caribe (Climate Week), em Salvador. 

Com operação em 72 países, empresas como de energia a Shell, trouxeram para o painel a preocupação cada vez mais crescente das companhias em desenvolver não apenas estratégias de emissão de carbono, mas também de compensação até para garantir a sustentabilidade do próprio negócio. A multinacional deve investir 3 bilhões de dólares até 2021 em projetos que criem oportunidades para a natureza. 

“Não é só uma questão de mudar hábitos. 85% das nossas emissões acontecem depois que nossos produtos saem de nossas plantas. Nós vamos ter que fazer alguma coisa juntos sobre a dependência de combustíveis fósseis. Estamos investindo em grande escala nesses projetos”, destacou o vice-presidente da Shell para Novas Energias, Duncan van Bergen. 

No final do primeiro semestre, a Shell anunciou que deve adotar em alguns países a possibilidade do consumidor comprar o combustível com a opção de comprar créditos de carbono. “Há muitas expectativas, mas poucas realizações. Ficamos presos ao debate quando a meta é alcançar a emissão zero. Nós estamos levando este projeto para outros países. Todos juntos, governo e iniciativa privada precisam trabalhar em conjunto”, completou.

A aviação internacional também é mais um segmento com apetite pelos créditos de carbono. Segundo o diretor executivo da Climate Connection e membro técnico da Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation (México – CORSIA TAB), Juan Carlos Arredondo, a entidade pretende melhorar a quantidade de emissões nos próximos anos em três fases: 

“Na primeira fase, todos os voos internacionais vão informar a quantidade de emissões. De 2021 até 2023, isso não será apenas reportado, mas vamos começar a revisar os níveis destas emissões. De 2027 até 2035, a meta é que todo voo internacional participe. Isso é um grande potencial. O que a aviação vai ter que fazer é analisar suas opções e repensar sua eficiência no solo. Trabalhar com empresas que construam aviões que melhorem, de fato, estas emissões”. 

Investimento necessário

A participação voluntária do setor privado não envolve somente uma questão econômica, mas faz parte de um acordo muito maior. Durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima UNFCCC, que aconteceu há quatro anos em Paris, 195 países aprovaram o documento se compromete a reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentável. O objetivo é manter o aquecimento global abaixo dos 2°C.

“O mercado voluntário está em evolução. A curto prazo, acreditamos que qualquer projeto de renovação é importante. O tempo está acabando e é preciso agir de imediato. O financiamento do setor privado pode ajudar a atingir o acordo de Paris até 2050”, defendeu a Paola Del Rio Villegas, co-presidente do International Carbon Reduction and Offset Alliance (ICROA). 

Para Paola, desafio não é reduzir ou devolver as emissões de carbono, mas sim, zerá-las. “Temos exemplos de sucesso, como no caso de países como a Colômbia. É um projeto interessante que deveria aplicado em toda a America Latina”. 

O diretor executivo da Verra, empresa que cria e gerencia padrões de desenvolvimento sustentável, David Antonioli, concorda: “Projetos nesta escala, liderados por entidades privadas são excelentes mobilizadores de recursos financeiros”. 

SEMANA DO CLIMA COMPENSA SUAS EMISSÕES DE CARBONO

O evento que trouxe para a capital baiana as discussões a nível global sobre os impactos das mudanças do clima vai compensar todas as suas emissões com o planto de 470 mudas de árvore e transformação de resíduos em biogás. O termo de compromisso foi assinado pelo prefeito ACM Neto e o presidente do Grupo Solví, Celso Pedroso. 

O documento garante a neutralização de 100% do CO2 emitido no evento por meio de créditos de carbono gerados a partir do tratamento do biogás do aterro metropolitano. Salvador é a primeira cidade no mundo a conseguir o registro pela ONU para a emissão de crédito de carbono com engenharia em aterros sanitários. 

Salvador é a primeira cidade no mundo a conseguir o registro pela ONU para a emissão de crédito de carbono com engenharia em aterros sanitários. "Temos total consciência da importância de cuidar e preservar o meio ambiente, construindo a melhor relação possível com a sociedade", pontua Celso Pedroso, presidente do Grupo Solvi. 

A neutralização deve acontecer um mês após o evento, que termina nesta sexta-feira (23). Cerca de 65% dos resíduos produzidos pela cidade que chegam às unidades de coleta e limpeza são direcionados para estação de transbordo, localizada em Canabrava. O aterro já mitigou 8 milhões de toneladas CO2.  “Por isso nos comprometemos a neutralizar todas as emissões de carbono deste evento, com os créditos gerados pela Battre”, completa.