Injustiçado, Waldick Soriano merece todas as homenagens póstumas possíveis

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Publicado em 18 de dezembro de 2021 às 05:01

- Atualizado há um ano

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É de merecimento sem par esta homenagem que se pretende levar, por iniciativa do advogado criminalista Maurício Vasconcelos, à memória do saudoso cantor Waldick Soriano, a partir da restauração de seu túmulo, em abandono, no Rio, e nele instalar uma lápide à altura de seu nome na história da música popular brasileira.

Há de se reconhecer que Waldick Soriano, mesmo com a sua arte tachada de música brega, veio a se tornar um dos maiores destaques da MPB, admirado e aplaudido por uma vasta audiência, em apresentações públicas e em discos, desde inícios da década de 1950, passando pela de 1960 e entrando pela de 1970, mas hoje se percebe que, além do patente esquecimento, a música desse magno intérprete, ao longo de sua carreira, tornou-se alvo de brutal preconceito, o mesmo que marcaria a trajetória da MPB, em diversos momentos de sua história.

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O primeiro deles, o inaugural, se abateu sobre Chiquinha Gonzaga (1847-1935), quando, em uma noite de 1914, a primeira-dama Nair de Teffé, mulher do então presidente marechal Hermes da Fonseca, apresentou durante uma festa em palácio, ao violão, o tango rebolado corta-jaca, a que compareceu a nata da sociedade, além de embaixadores, cônsules e políticos, causando imenso alarme moralista.

O escândalo foi tamanho que, no dia seguinte, o senador Ruy Barbosa assumiu a tribuna, para condenar “aqueles que deviam dar ao país o exemplo de maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados” resolveram elevar o corta-jaca “à altura de uma instituição social”, definindo essa modalidade como “a mais baixa, a mais chula, mais grosseira de todas as danças selvagens, irmã-gêmea do cateretê e do samba”.

Advogados e juristas que ainda hoje propagam as ideias de Ruy, nos campos jurídico, político e moral, devem alarmar-se com tal mostra de conservadorismo cultural, mas, a partir daí, suponho, a mancha do preconceito musical só fez expandir-se, atingindo principalmente os que se firmaram nas variadas formas do samba, de outros gêneros populares, inclusive as marchas carnavalescas, todas em geral tidas como extensão das práticas de malandragem, próprias de cabarés, gafieiras e rodas de samba, até mesmo como produtos de negritude.

Desse espírito difamatório e de menosprezo não foi vítima apenas Waldick Soriano; houve outros, tais como Luiz Barbosa (1910-1938) e Moreira da Silva (1902-2000), com seus sambas-de-breque, Ruy Rey (1915-1995), com suas músicas de fatura hispano-americana (bolero, mambo, rumba), alcançando até mesmo um seguidor do estilo de Soriano, o pernambucano Reginaldo Rossi (1933-2013).

Arrisco a dizer que foram o rádio, a partir de inícios dos anos 1930, e a evolução do carnaval, desde os anos 1950, que mais contribuíram para, se não se conter, pelo menos amenizarem-se os efeitos desse cruel tornado de preconceito que se lançava sobre alguns dos ícones que mais engrandeceram o panorama musical brasileiro.