Insegurança afasta os soteropolitanos dos parques

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  • Divo Araújo

Publicado em 16 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Parque São Bartolomeu (Foto: Arquivo/CORREIO) Um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica em áreas urbanas do país, o Parque São Bartolomeu é um paraíso ecológico praticamente inacessível aos soteropolitanos. Quem se arrisca a visitar a área de 1.550 hectares de vegetação diversa, localizada entre a Enseada dos Cabritos e o bairro de Pirajá, está sujeito a passar pela mesma situação dramática vivida por um grupo de 41  estudantes, três professores e três auxiliares da Escola Estadual Mestre Paulo dos Anjos, do Bairro da Paz. 

Os alunos foram ao parque assistir a uma aula de História ao vivo e acabaram sendo vítimas de um arrastão cometido por quatro homens armados.  Foram levados cerca de 30 celulares, além de relógios, carteiras e objetos pessoais, mas felizmente ninguém saiu ferido.

Apesar de ser um problema antigo e crônico, a insegurança no Parque São Bartolomeu é uma lástima para cidade. Isso porque, além da preservação da mata  e da Bacia do Rio do Cobre,  o parque se destaca pela sua importância histórica e religiosa. Mas o palco da Batalha de Pirajá na luta da independência do Brasil, em 1822,  foi abandonado há décadas pelo poder público e tomado por invasões. O sítio histórico, que já foi habitado pelos índios tupinambás e palco das lutas contra a invasão holandesa, segue sendo um território sem lei. 

Em 1826, lá se formou o Quilombo dos Urubus, o que também explica sua dimensão religiosa.  Suas cinco cachoeiras têm nomes ligados ao candomblé ou à umbanda - Nanã, Oxum, Oxumaré, Tempo e Escorredeira - e suas águas são consideradas sagradas. Isso mesmo: pouca gente sabe, mas há cachoeiras dentro de Salvador. A única possibilidade de conhecê-las com  relativa segurança é através de visitas guiadas, mas um lugar com essa riqueza  deveria estar acessível a quem quisesse visitá-lo.

O medo, no entanto,  não afasta os soteropolitanos só do São Bartolomeu. Outros  redutos de área verde de Salvador, a exemplo do Parque de Pituaçu, do Abaeté e mesmo o Dique do Tororó,  seguem subutilizados por não oferecerem a  segurança devida  aos eventuais frequentadores. Mesmo no Parque da Cidade, algumas áreas com menos fluxo de pessoas são evitadas pelos visitantes – sobretudo um trecho da mata que vai até o portão de divisa com as comunidades de Santa Cruz, Boqueirão, Areal e Nordeste de Amaralina. 

Para que esses parques sejam autossustentáveis, é preciso levar as pessoas para dentro deles, para que o conheçam, enxerguem seu valor. Mas sem o mínimo de segurança, São Bartolomeu e os outros parques da cidade continuarão cada vez mais distantes, e a população indiferente quanto ao futuro deles.Salvador - Ônibus tomba de ribanceira no Bela Vista

Tão trágica quanto inusitada foi a cena do ônibus tombando da ribanceira de 10 metros numa via de acesso ao Shopping Bela Vista, na  quinta. O acidente deixou 27 feridos, quatro em estado grave, incluindo uma grávida. Um passageiro precisou amputar o braço. Ocorrido no final da tarde, em horário de pico, o acidente travou o trânsito. Ônibus capotou na região do Bela Vista (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) De saída

1. GENERAL ‘Separação amigável’. ‘Alguns problemas aconteceram’. ‘Não houve gota d'água’. As explicações são do presidente Bolsonaro, um dia  após demitir o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz da Secretaria de Governo. Sem posições claras, sobram especulações. A principal:  até que ponto a demissão tem a influência do  guru Olavo de Carvalho e dos filhos do presidente?

2. DOS CORREIOS ‘Foi ao Congresso e agiu como sindicalista’. Essa foi a justificativa do presidente Jair Bolsonaro para exonerar do comando dos Correios o general Juarez de Paula Cunha. O chefe dos Correios foi à Câmara, na semana passada, para uma audiência  e adotou um discurso contrário à ideia do governo de privatizar a estatal.

3. 'POR AQUI' O presidente do BNDES, Joaquim Levy, não deixou o governo, mas diante da humilhação pública que sofreu , sua saída é questão de dias. ‘Já estou por aqui com o Levy’, disse Bolsonaro,  contrariado com a nomeação do advogado Marcos Pinto, que participou do governo PT. Levy  tem tido rugas com Paulo Guedes por causa da devolução de recursos do BNDES ao Tesouro.

Moro sem vida fácil

Ao se levar em consideração a promessa do  jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do  Intercept Brasil, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, não terá vida fácil nos próximos dias. Em entrevista, o coautor das reportagens que mostraram  mensagens vazadas supostamente do celular do ministro disse que as próximas revelações vão “tirar a máscara de  Moro”. Cumprindo a promessa, anteontem,  o Intercept Brasil voltou à carga contra o ex-juiz da Lava Jato. Segundo os novos trechos publicados , Moro sugeriu a procuradores do MPF uma ação para rebater a defesa do ex-presidente Lula após depoimento do petista à Lava Jato, “Talvez vcs devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento”, escreveu ele, segundo o site. O ministro da Justiça Sérgio Moro (foto/divulgação) Após esses últimos vazamentos, Moro e a Lava Jato mudaram de tom sobre as mensagens. Nas primeiras declarações públicas, o grupo dedicou-se a negar que os diálogos revelassem algum tipo de impropriedade. Nos últimos dias, no entanto, a ênfase passou a ser a possibilidade de conversas terem sido falsificadas pelo hacker. A mudança no discurso se deu após especialistas em Direito e o ministro Gilmar Mendes, do STF, declararem que, embora as mensagens possam ter sido obtidas de forma criminosa, isso não necessariamente anula provas obtidas a partir delas.

Crise na previdência O ministro da Economia, Paulo Guedes, ficou furioso com  relatório da proposta de emenda constitucional de reforma da Previdência apresentado na comissão especial da Câmara dos Deputados. Um dos motivos que mais irritaram o ministro foi, segundo o próprio, a perda de  cerca de R$ 100 bilhões porque  o relator, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), teria  cedido diante das pressões de servidores do Legislativo. “Pressões corporativas de servidores do Legislativo forçaram o relator a abrir mão de R$ 30 bilhões (de economia fiscal) com eles, que já são favorecidos. Recuaram na regra de transição (para os servidores). Como ia ficar feio recuar só para os servidores, estenderam (a mudança) para o regime geral. E aí isso custou R$ 100 bilhões”, afirmou o ministro.

As reações dos parlamentares foram duras e rápidas. Ao ser informado das críticas de Guedes, o  presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que  governo Bolsonaro virou uma “usina de crises”. E prosseguiu: “A vida inteira o ministro da Economia sempre foi o bombeiro das crises. Agora o bombeiro vai ser a Câmara. Nós não vamos dar bola para o ministro Paulo Guedes com as agressões que ele fez agora ao Parlamento”.

DESPEDIDA - CLÓVIS ROSSI O jornalista Clóvis Rossi morreu aos 76 anos (foto/Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo) Morreu na madrugada de sexta, aos 76 anos, o jornalista Clóvis Rossi, um dos mais destacados e premiados de sua geração. Ele estava em sua casa em São Paulo, onde se recuperava de um infarto que sofrera na semana anterior, quando se sentiu mal e veio a morrer.  Colunista do jornal Folha de S. Paulo há décadas, Rossi converteu-se num dos principais analistas da política brasileira, com incursões pela economia. Nos últimos anos, vinha se dedicando à política internacional. Em tempos de polarização, Rossi sempre soube manter o equilíbrio. Conversava com fontes de esquerda e de direita e não perdia a independência. Suas análises farão falta ao país.