Instrumentista e percursionista, Bira Reis deixa legado na música baiana

Enterro está marcado para esta segunda-feira (21), às 11h, no Cemitério Jardim da Saudade

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  • Luan Santos

Publicado em 20 de janeiro de 2019 às 21:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Roberto Abreu/CORREIO

Um ser universal. É desta forma que Joyce Ferreira, 46 anos, define o marido, Ubirajara de Andrade Reis, que ficou famoso na cena cultural baiana, brasileira e mundial como Bira Reis. O instrumentista e percursionista, fundador da Oficina de Investigação Musical (OIM) e um dos primeiros compositores do Olodum, morreu no último sábado, no Pelourinho, aos 64 anos. O corpo do artista é velado no Solar Ferrão e será sepultado hoje, às 11h, no cemitério Jardim da Saudade. Antes, o Olodum fará uma homenagem a Bira no local do velório. 

“A música fazia parte dele. A vida dele, seja trabalhando na construção de instrumentos ou em casa, tinha música. Bira respirava música. Dizia que o universo era sua inspiração, tudo que via e vivia. Era um ser universal”, resume Joyce, com quem Bira foi casado por 26 anos. 

O sepultamento foi marcado por emoção e música. Alunos do maestro realizaram uma homenagem para ele, com instrumentos musicais. Artistas, amigos e familiares também foram ao Solar Ferrão para dar o último adeus ao músico baiano, que também era artista plástico. 

O falecimento interrompeu um sonho de Bira. Ele estava prestes a realizar, em março, uma turnê na Europa com a filha, a também musicista Yasmin Reis, 22 anos. o instrumentista  iria para Nova Iorque, onde Yasmin estuda cinema, e de lá partiriam para França e Alemanha. “Era um sonho dele. Eles tocariam juntos, fariam alguns shows”, conta a esposa.  (Foto: Roberto Abreu/CORREIO) Súbito No sábado, Bira seguia para a OIM, onde realizaria um ensaio do bloco Kizumba, fundado por ele. No caminho, passou mal já, a poucos metros da oficina, e faleceu no local. A causa da morte  ainda é investigada, mas a maior possibilidade é que ele tenha sofrido um infarto, pelos sintomas apresentados por ele. 

Joyce conta que ele estava bem de saúde. “Só tinha um problema de pressão, mas nada grave. No sábado, em casa, ele comentou com nossa ajudante que estava sentindo dores nas costas, na nuca, dormência no braço. Ela até disse que me ligaria, mas ele não deixou, falou que iria para a loja. No caminho, aconteceu”, revela. Bira foi amparado por uma policial militar que estava na rua e segurou o artista quando ele começou a passar mal.  (Foto: Roberto Abreu/CORREIO) Inspiração Compositor das músicas Vinheta Cuba-Brasil e Reggae Odoyá, ambas do Olodum, Bira tinha paixão por instrumentos originais da África e já gravou trilhas sonoras de filmes. Ele tinha como referência o músico Walter Smetak, suíço radicado na Bahia morto em 1984. 

Para o percussionista e educador musical Mestre Jackson, 56, que tocou com Bira no Olodum, o artista modificou o movimento percussivo da Bahia. “Quando Bira Reis acrescentou o naipe de sopro na música percussiva, foi fundamental pra tornar essa música pop e influenciar a axé music”, ressaltou. (Foto: Agecom/Divulgação) O percussionista Anderson do Samba, 38 anos, concorda e diz que Bira foi o pioneiro do axé music instrumental, ao acrescentar harmonia e melodia às músicas. “Ele foi o primeiro saxofonista do Olodum e o primeiro a introduzir esse tema instrumental no axé music, no samba-reggae. No Olodum, foi uma novidade essa questão do saxofone com os tambores, que acaba sendo um afro-jazz, porque Bira não gostava muito dessa coisa de ‘axé music’”, garantiu. 

Anderson lembrou que, em 2018, se apresentou com Bira e com o Mestre Moa do Katendê – morto no ano passado – na Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô).