Invictos na pandemia: ainda bem!

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Paulo Leandro
  • Paulo Leandro

Publicado em 19 de agosto de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Muito antes do distanciamento como dever cidadão, este cronista já havia deixado de frequentar praças esportivas, exceto para festas de pendurar as chuteiras, duas ou três vezes, aqui mesmo no Amazonião, a arena ecológica aqui do condomínio.

A atual paisagem inóspita, árida, de um céu amarelo, pede a resignação para admirar os torcedores indiferentes à pandemia – eis aí, de novo, aquele ato falho do companheiro, cujo eco ensurdeceu: “ainda bem que a natureza criou este monstro”....

Completo eu, incorreto e incoerente: “ainda bem o coronavírus esvaziou os estádios”. Única forma de conviver com o torcedor-consumidor é ficar distante dele. A briga à vera, troca de sopapos e rabos-de-arraia, o sururu, o pau na cara, não pode ser solução.

Quem é de antigamente entende a relevância do valor lealdade. A pessoa torce por um time “até que a morte nos separe”, como lia-se em bela bandeira empunhada por um chofer de praça rubro-negro dos anos 1970. Uivar o próprio atleta beira a bestialidade.

Hoje, o clube precisa ganhar para merecer o amor, logo, como são muitos clubes disputando este true love, alguns provavelmente vão definhar, mesmo os aparentemente poderosos, se não tomarem suas cautelas. Esperemos os efeitos da lacuna da pandemia.

O Bahia tem duas vitórias na Série A; o Vitória venceu o Sampaio, de 1x0, gol de pênalti; e obteve empates memoráveis, um pelo excesso de gols – o 3x3 com a Ponte – e outro, o 0x0 com o difícil Figueirense, acho que não necessariamente nesta ordem.

Para quem gosta de agourar, aguentem o tempo do nosso gol de empate, no último minuto, e lá dentro, onde a Macaca costuma flexionar seu gênero e espécie. Mesmo assim, ofensas circulam na internet a este e aquele jogador ou dirigente do Vitória.

O torcedor-consumidor, ou aquele tipo romântico, cujo placar tem de vir acompanhado de um show da Orquestra Ukelelê, chega a torcer contra o próprio time local, uma traição inominável, comparável a Afrodite e Ares, ao chifrarem Hefesto, deus da Forja.

O jogador tira o lateral errado; o goleiro bate tiro de meta nos pés do meia adversário; o chute a gol passou bem longe do gol na ladeira da fonte das pedras; a bola bate na canela do pivô e volta... os times de hoje precisavam treinar mais e os técnicos já não ensinam.

São tantos os lances bisonhos... agora sem torcida para encher a paciência, exceto nas redes sociais, o erro pesa menos e pode ser corrigido. Com a torcida e os corneteiros nas arquibancadas, o jogador fica mais tenso.

Não sei a do Bahia, por pouco frequentar, mas a do Vitória prejudica quando passa de 3 mil torcedores, em média. Sete mil é o máximo, pois torcem mais contra o Vitória. Agora, sem torcida, melhor para o time, embora exposto ao contágio.

Uma vez lançados a divididas, abraços, aglomerações, e sabendo quantos jogadores já estão infectados, não seria mais justo a humanidade toda se jogar, tirar as máscaras e liberar as catracas eletrônicas, as tribunas de imprensa, cartolas, #tudofree?

Por que só os jogadores podem se infectar? Hoje, o Vitória tem o Náutico; amanhã é o Bahia a visitar São Paulo. Na pandemia, sem torcida no concreto, os nossos defendem seu lugar entre os quatro primeiros. Estamos invictos! “Ainda bem...”

Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.