Itamaraju foi o único município baiano a recusar leitos de UTIs do governo

Em carta, prefeito diz que recusou, pois unidade ficaria voltada somente para covid-19

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  • Eduardo Dias

Publicado em 12 de abril de 2020 às 13:30

- Atualizado há um ano

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(Foto: Reprodução) Salvador é a principal referência para o tratamento de casos graves da covid-19 na Bahia. No entanto, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) instalou, em hospitais no interior, centros de classificação, triagem e estabilização de pacientes suspeitos da doença, que servirão tanto como unidades de retaguarda, quanto de referência secundária durante a pandemia. A única cidade a recusar a instalação dos leitos foi Itamaraju, no Extremo-Sul, porque a prefeitura não aceitou o fechamento completo do único hospital do município. Esta era uma exigência  do estado para atendimento prioritário do coronavírus no Extremo-Sul.

A Sesab iria instalar 20 leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) no Hospital Municipal de Itamaraju e transformá-lo em um dos centros de referência e retaguarda para o tratamento da covid-19 no interior. Dados da pasta apontam que a Bahia tem pelo menos 19 hospitais que são referência para tratamento de pacientes com Covid-19 e que, juntos, somam 175 leitos de UTI adulto e 10 de UTI pediátrica. Com ampliações e reformas, serão criados mais 640 leitos de UTI adulto.

Mas, para isso ocorrer, a prefeitura local teria que renunciar da utilização do único centro médico da cidade, para evitar que pacientes infectados com o coronavírus tivessem contato com outros de outras doenças no mesmo hospital, o que aumentaria a possibilidade de disseminação da doença. O governo iria assegurar a aquisição de equipamentos, insumos e equipes para o hospital, mas, apesar das tratativas, o prefeito Marcelo Angênica (PSDB) optou por recusar a oferta.

Com a recusa do prefeito, a Sesab informou que irá avaliar se vai desistir da instalação dos leitos na cidade, ou se irá retomar as negociações com a prefeitura em outro momento. Ao CORREIO, a assessoria da pasta adiantou que, a priori, os leitos não serão mais instalados em Itamaraju.

Referência O Hospital de Itamaraju é responsável por atender também a população dos municípios vizinhos de Prado e Jucuruçu. Segundo a prefeitura, no último ano, o hospital realizou 77.454 pronto-atendimentos, 1.096 partos, 1.257 cirurgias e 3.710 internamentos, além de quase 2.000 exames diversos.

Atualmente, a unidade conta com sete leitos de tratamento semi-intensivo, cada um com seu respectivo respirador. Desses, quatro estão dedicados exclusivamente a pacientes com coronavírus, em ala separada na unidade. Outros quatro respiradores serão utilizados para ampliar a estrutura.

Segundo o prefeito, em carta aberta destinada à população, divulgada neste domingo (12), o fato de a prefeitura não ter aceitado os leitos do governo seria porque a unidade presta serviços essenciais para diversas demandas da região, como partos, serviço de urgência e emergência em cirurgia geral, obstetrícia, ortopedia e urologia.

Na carta, Marcelo diz que o momento exige de todos medidas enérgicas no enfrentamento à pandemia e que ele possui dupla responsabilidade, por ser médico e prefeito.“Desde o primeiro momento, adotei todas as providências necessárias à adequação do Hospital Municipal, único que atende à população de Itamaraju, para melhor atender o nosso povo, que certamente será atingido por esse vírus que já se espalhou por todo o mundo”, diz ele, em um trecho da carta publicada em uma rede social.Marcelo revelou ainda que recebeu uma ligação do governador na última quinta-feira (9), solicitando o fechamento do Hospital Municipal de Itamaraju, para a criação de 20 leitos de UTI, de modo a funcionar como hospital de referência no combate ao coronavírus em toda a região.“Na oportunidade, expliquei ao governador do estado que aquele era o único hospital que atendia a população de Itamaraju, de modo que eu compreendia a situação e estava disposto a ajudar, até criando novos leitos, mas não poderia aceitar o fechamento do Hospital Municipal”, disse Marcelo.Ele questionou ainda para onde iriam os moradores da cidade que precisassem de atendimento. “Não é possível, portanto, fechar as portas do hospital e torná-lo referência para toda a região, especificamente para o atendimento aos pacientes portadores de coronavírus. Para onde iriam os moradores de Itamaraju e região vítimas de acidentes, necessitando de atendimentos e de cirurgias de urgência e emergência, ou qualquer outra doença que necessite de cuidados imediatos?”, questionou.

O prefeito afirmou também que sugeriu ao governador que fossem divididos os novos leitos entre os maiores municípios do Extremo-Sul - Itamaraju, Eunápolis, Teixeira de Freitas e Porto Seguro - para que toda a região fosse contemplada e assistida, sem sobrecarregar nenhum hospital e nem desassistir a população da cidade com outras doenças com o fechamento.

“Estou aberto ao diálogo com o Governo do Estado a fim de encontrar uma solução viável e me disponho a ajudar no que for preciso no combate ao coronavírus. Um documento com novas propostas será encaminhado ao governador, a fim de assegurar que tanto Itamaraju, quanto os demais municípios da região, possam ser estruturados para enfrentar a pandemia”, diz o prefeito na carta.

Ao finalizar seu pronunciamento, o prefeito ressaltou que sua dupla responsabilidade o impede de politizar uma questão tão sensível e importante. “Não responderei, portanto, aos ataques de alguns assessores do governador do estado, que deturparam por completo a realidade dos fatos. O momento exige união, altruísmo e muito trabalho! Estou à disposição!”, finalizou a carta.

Sobre a posição da prefeitura de Itamaraju, a Sesab informou que as prefeituras podem recusar a oferta do estado, pois há autonomia entre os entes federados, mas irá avaliar a instalação da UTI em outra cidade.

*Com supervisão do editor Wladmir Lima