Itamaraty expressa 'perplexidade' por fala de ministro uruguaio sobre Bolsonaro

Uruguaio questionou impeachment de Dilma, eleição de Bolsonaro e permanência do país no Mercosul

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  • Da Redação

Publicado em 9 de setembro de 2019 às 21:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

O embaixador brasileiro no Uruguai expressou "espanto, rechaço e perplexidade" em relação a declarações feitas pelo ministro da Defesa do Uruguai, José Bayardi, que questionou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a eleição do presidente Jair Bolsonaro e ainda a permanência do Brasil no Mercosul.

A carta do embaixador Antonio José Ferreira Simões foi publicada nesta segunda-feira (9) no jornal El Observador, do Uruguai, e enviada na semana passada para a Chancelaria uruguaia. Simões diz que as falas do ministro são "levianas e fora de contexto".

O ministro fez os comentários ao responder a uma pergunta sobre se considera a Venezuela uma ditadura. Bayardi, que é dirigente da governista Frente Ampla, no comando do país desde 2005, respondeu citando o Brasil. 

"Se fosse por mim, de repente o Brasil teria que ter sido tirado (do Mercosul) também (bem como a Venezuela), pelo que significou a última eleição (do presidente Jair Bolsonaro em 2018) e o afastamento da presidente Dilma Rousseff de seu cargo em 2016", afirmou para uma TV local.

O embaixador brasileiro diz que os comentários feitos pelo ministro estão "carregados de fortes preconceitos e demonstram total desconhecimento da realidade em que vivem 210 milhões de brasileiros, uma sociedade com grande vigor democrático". Diz ainda que a fala é incompreensível, considerando que o país “mantém uma grande relação de amizade e compartilha uma fronteira na qual vivem quase um milhão de pessoas”.

A Venezuela foi suspensa do Mercosul em 2017 por conta de uma cláusula democrática aprovada em 1991 pelos fundadores do bloco. "Acho que (a Venezuela) foi tirada (do Mercosul) em um determinado momento porque havia uma forte pressão, muito forte, dos governos do Brasil e da Argentina que haviam mudado, para tirar (Caracas), e que o Uruguai resistiu o quanto pôde. Foi errado", disse o ministro uruguaio.

Para Bayardi, não há ditadura no país. "Lá (na Venezuela) há um governo que está sustentado em uma Constituição que é a que os venezuelanos escolheram", afirmou, segurando uma cópia do documento. "O que ocorre é um marco institucional de muita tensão". Recentemente, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica afirmou que a Venezuela vive hoje uma ditadura.