Jovem empresário precisou de três tentativas para alcançar o sucesso

Com menos de 25 anos, Matheus Ladeia criou duas startups que fecharam por causa de seus erros e hoje comanda a Pastar, um dos principais marketplaces do agronegócio brasileiro

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  • Priscila Natividade

Publicado em 26 de março de 2018 às 01:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/ CORREIO

Tem  gente que pensa que quem tem 17 anos  ainda está decidindo o que quer fazer da vida, curtindo balada ou maratonando séries. Essas pessoas, no entanto, não conhecem o empresário Matheus Ladeia. Com essa idade, o jovem empreendedor abria a sua primeira empresa e apostava no desenvolvimento de uma máquina de vendas  que funcionava pelo celular. 

A ideia era boa, o negócio inovador, mas não deu certo. Assim como a segunda empresa que abriu antes mesmo de chegar aos 20 anos. O prejuízo ultrapassou R$ 20 mil quando Matheus importou uma máquina de prototipação e impressão 3D – faltou cumprir prazos e a maquete encomendada por uma construtora foi a distrato. E aí, Matheus quebrou de novo.

O quarto e último personagem da série do CORREIO sobre os erros corporativo, mal chegou ao mundo dos negócios e, aos 24 anos, está à frente de um dos principais marketplaces do agronegócio do momento. Ladeia é um dos sócios da startup baiana Pastar, junto com o engenheiro de produção Iago Vieira. A empresa movimenta, atualmente, transações acima de R$ 24 milhões entre pecuaristas de todo o país. 

A comunidade do Pastar reúne 40 mil pecuaristas e publica diariamente uma média de 300 novos anúncios. “Fundei minha primeira empresa em parceria com dois amigos, mas a gente acabou quebrando. Comecei então a desenvolver meu segundo empreendimento, mas tomei um prejuízo com um distrato e quebrei de novo”, lembra.

Matheus voltou a trabalhar em outras empresas de software e ao mesmo tempo atuava como produtor musical quando encontrou o seu propósito dentro de um problema que afligia seu pai, que criava gado na região sul do estado nos municípios de Anagé e Barra do Choça.“Eu só descobri o meu propósito quando eu vi o meu pai sofrer e me vi distante dele. A gente tomou um prejuízo de R$ 300 mil com o gado que morreu por falta de pasto”. A Pastar começou inicialmente como um site de aluguel de pasto até Matheus perceber o que realmente o produtor precisava. Um ano após ser lançada, em 2015, Matheus converteu a Pastar em marketplace de agropecuária. Pelo menos 30% do setor no país está na  Pastar. “Deixamos de ser site e a Pastar passou a ser uma plataforma onde era possível comercializar ovino, bovino, equino, caprino e pastagens. Com isso a gente surge então como uma solução para resolver o problema do pecuarista.  

Maturidade

 É nesse momento que ele se volta para as lições que tirou das duas empresas que fechou. E a pergunta era a mesma: o que fazer?“A Pastar começou e ela tinha tudo pra ir à falência também. E aí  foi que eu tirei a primeira lição dos dois negócios que eu tive anteriormente: que o mercado é soberano. Em um, o mercado era muito fechado e não tinha espaço para a entrada de um novo ‘player’. No outro, o setor era muito grande, só que era um mercado muito novo e eu não tinha capacidade de escala. Com isso, entendi logo os dois principais gargalos que a startup iria enfrentar”.Outro erro que ele não podia repetir estava relacionado ao foco. “Os erros que eu cometi, tanto por não saber escalar como não analisar mercado, foi não ter tido foco. Fazer um monte de coisas ao mesmo tempo foi o comportamento responsável pela minha falência. Erros que eu não cometo hoje na Pastar”.

Até 2020, a projeção da Pastar é fazer parte dos R$ 24 milhões que passam por mês pela plataforma. “Quando a gente chegar nesse patamar, estamos falando de um faturamento de mais ou menos R$ 2 a R$ 3 milhões por mês em uma empresa que vai gastar R$ 400/ 500 mil. É um superávit de R$ 1,5 milhão por mês. Eu acho que a Pastar só chegou onde chegou, está viva até hoje e continua crescendo é porque  está alinhada com o meu propósito de vida”, pontua Ladeia. 

Conquistar essa credibilidade perante o mercado, então, é bem mais difícil do que se imagina, como acrescenta o empresário. “A todo tempo você tem que provar que não é um moleque brincando. Falta bagagem, experiência, passado, o que torna muito difícil você convencer quem tem o dinheiro de que você é capaz de retornar o investimento. É preciso ter essa maturidade a tempo, antes do seu negócio quebrar”.

Cinco palavras-chave da trajetória de Matheus

Propósito É necessário encontrar um motivo. O que te move, te impulsiona e te leva para frente. 

Foco Não adianta muito querer tudo de vez. Se existe um propósito, é preciso definir um foco e apostar todas as energias nele. 

Aprendizado É entender o erro, o que causou e tirar o melhor proveito disso durante a experiência. 

 Inovação Negócios inovadores trazem desafios inovadores. Para inovar é preciso se ajustar ao processo. 

Maturação  Não pular etapas, entender o ciclo do negócio, conquistar credibilidade. O empreendimento cresce junto com o dono e o sucesso de ambos também depende dessa sintonia.

LIÇÃO CORPORATIVA POR RENATO MENDES

Para Renato Mendes é preciso ter próposito: 'próposito não é ficar rico. É transformar a vida de outras pessoas', destaca.  (Foto: Divulgação) Muito bacana a trajetória do Matheus. De cara, dá para perceber que ele tem uma característica que é fundamental para qualquer um que queira ser empreendedor, que é o inconformismo.  O bom empreendedor é aquele que resolve problemas das pessoas, dos clientes. Na necessidade está a demanda. Sem isso, não há negócio. E ele sabe que tem que fazer isso de uma maneira nova, inovadora. Startup, na sua essência, nasce questionando o status quo. Startup não copia modelos vigentes, ela os recria com mais eficiência. Outro ponto interessante no Matheus é que ele não tem medo de errar. Pelo contrário, ele entende que o erro é parte desse processo de aprendizado, da busca pelo novo. Esse é o grande diferencial da Nova Economia: ouvir o cliente, construir e ajustar. Ele jamais teria sido bem-sucedido com a Pastar se não tivesse falhado com as outras duas empresas. Agora, o que mais chama atenção aqui é entender por que sua terceira tentativa deu certo, diferentemente das duas anteriores. Por que será? A resposta é simples: propósito. Na Pastar, ao se aproximar de seu pai, ele encontrou um propósito. Propósito não é ficar rico, é transformar a vida de outras pessoas, é encontrar um motivo para se levantar todos os dias da cama. 

Renato Mendes é sócio da Orgânica, professor de Marketing Digital do Insper e mentor Scale Up da Endeavor Brasil. Renato também é um dos autores do livro Mude ou Morra – Tudo o que Você Precisa Saber para Fazer Crescer seu Negócio e sua Carreira na Nova Economia, lançado este mês pela Editora Planeta.