Julho foi o segundo mês mais chuvoso do ano em Salvador; entenda

Volume de chuva ficou acima da média e atrás apenas de abril

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  • Gil Santos

Publicado em 3 de agosto de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Todo soteropolitano sabe que julho é o mês do frio com pouca chuva, mas em época de pandemia o mundo parece estar às avessas. Choveu tanto nos últimos 31 dias que a média histórica de 208,6 mm foi superada e o mês dedicado ao imperador romano Júlio César se tornou o segundo mais chuvoso do ano, com 255,8mm. Ele ficou atrás apenas de abril (286,6 mm) e a previsão é de que agosto também seja um período com volume igual ou acima da média.

Os fenômenos que estão provocando as chuvas são bastante comuns, como frente fria, cavado de ondas curtas, que é um sistema de baixa pressão, deslocamento de sistemas frontais e convergência de umidade. O estanho foi que eles aconteceram em quantidade considerada acima do normal para o período.

O meteorologista Giuliano Carlos do Nascimento, do Centro de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil de Salvador (Cemadec), contou que essas alterações climáticas estão diretamente relacionadas com outras questões do clima. “O que causa esses fenômenos é o aumento da pressão do nível do mar, da umidade relativa do ar, dos ventos e da temperatura”, contou.

Nos últimos anos a quantidade de chuvas em julho em Salvador tem alternado bastante. Em 2018, foram 63,7 mm, muito abaixo da média de 208,6 mm. Já 2019, atingiu a marca surpreendente de 298,3 mm. No ano passado, caiu abaixo da média novamente para 168,2 mm e, agora, voltou a subir acima do esperado.

Para o superintende da Codesal, Sosthenes Macêdo, esses são efeitos do aquecimento global, que tem causado eventos climáticos extremos pelo mundo, como chuvas torrenciais, episódios de secas severas, incêndios em florestas, ondas de calor, e elevação do nível do mar.

“São ocorrências que serão sentidas com mais força pela humanidade ainda nas próximas décadas. Não há mais dúvida de que essas mudanças são devidas em grande parte à atividade humana, especificamente à emissão na atmosfera de grandes quantidades de gases do efeito estufa, como CO² e metano”, afirmou.

Ele acrescentou que preparação é fundamental. "Felizmente do ponto de vista da gestão municipal, nossa cidade tem avançado na agenda climática  ao reconhecer pioneiramente no contexto latino americano a importância da neutralização dos gases do efeito estufa em escala global, contribuindo com o Plano de Ação Climática de Salvador para mitigar o risco e preservar vidas, prioridade da Prefeitura há oito anos", disse. .

O mês mais chuvoso do ano foi abril, com 286,6 mm, mas ainda assim ficou abaixo da média para aquele período. Dos sete meses de 2021, apenas dois ficaram acima da média: janeiro e julho. A meteorologista Cláudia Valéria, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inemt), explicou que apesar de o acumulado ter superado o esperado e de isso deixar algumas pessoas assustadas, está dentro na normalidade.

“Essa variação é normal para a região Nordeste. Alguns meses vão registrar mais acumulados que outros, e nos últimos meses tivemos acumulados menores que a média. Então, não há nenhuma anormalidade. A previsão para agosto é de menos chuva, porque ele é um mês menos chuvoso, mas que deve ficar na média, na casa dos 130 mm”, disse.

Bairros Apesar do registro oficial de julho ter sido 255,8 mm, em algumas regiões da cidade choveu ainda mais. Para construção de uma média histórica é precisa fazer a medição por pelo menos 30 anos. A estação pluviométrica de Ondina é a que serve de padrão para a aferição dessa média, mas na região de Pirajá, por exemplo, foram 365,2 mm em julho. Segundo os dados da Codesal, esse foi o bairro mais chuvoso do mês.

Os motivos que levam uma região da cidade a registrar mais chuvas que outra é o deslocamento dos sistemas climáticos, a topografia do local e a vegetação. O doutor em Geologia e professor da Unifacs, Victor Vieira, coordena a Câmara de Energias Renováveis e Eficiência Energética do Painel Salvador de Mudança do Clima, e explica.

“Não é por acaso. O revelo e a vegetação, no caso de Salvador mata atlântica, interferem. A vegetação permite uma evapotranspiração muito grande, ou seja, uma grande quantidade se umidade vai para a atmosfera o que acaba formando nuvens e precipitando as chuvas. Historicamente os bairros onde tem maior intensidade de chuva são regiões que tem presença de mata atlântica e de relevo mais alto ou muito plano, como Cabula e Base Naval de Aratu”, disse.

Outro fator que interfere é a ocupação e o processo de verticalização dos bairros. Regiões com mais prédios e casas produzem ilhas de calor que diminuem a formação de nuvens. Já bairros com índice de ocupação mais baixo ou mais recente, com resquícios de mata atlântica, são mais propícios a formação de nuvens. “O clima é sempre uma soma de diversos fatores, mas existem algumas características cientificas que podem explicar essas questões”, disse.  

A volume intenso de água causou alguns estragos. A Codesal registrou 1.138 ocorrências nos 31 dias de julho. A principal demanda da população foi ameaça de desabamento, com 350 situações. Seguida de ameaça de deslizamento (187 casos), pedidos de orientação técnica (181 casos), deslizamento de terra (101 casos), árvores ameaçando cair (68 casos), e avaliação de imóvel alagado (51 casos).

A previsão é de mais chuva para os próximos dias. Durante toda a semana o céu permanecerá nublado a parcialmente nublado, com chuva a qualquer hora do dia. Em caso de emergência a orientação é ligar no 199 e pedir ajuda.

Lanchas estão paradas  A travessia entre Salvador e Mar Grande, na Ilha de Itaparica, e Morro de São Paulo, no Sul da Bahia, entrou no terceiro dia de paralização, nesta segunda-feira (2). O motivo é uma frente fria que chegou na sexta-feira (30) e deixou o mar agitado. Há três dias as lanchas que saem do Terminal Náutico, no Comércio, estão sem poder navegar por conta do risco de acidente.

Em nota, a Associação dos Transportadores Marítimos da Bahia (Astramab), responsável pela operar o sistema, informou que não existe previsão de quando o serviço será retomado. “As condições de navegação na Baía de Todos os Santos continuam bastante adversas, com ventos fortes e mar agitado, que impedem o tráfego das embarcações”, afirma.

Segundo o meteorologista Giuliano Carlos do Nascimento, do Centro de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil de Salvador (Cemadec), a previsão é de mais chuva nos próximos dias. Ele disse que não é possível precisar como agosto vai se comportar, mas fez uma aposta. “A gente acredita que agosto vai atingir a média prevista para o mês, que é de 133,5 mm, ou ficar acima dela. De qualquer forma, até o dia 10 teremos chuva”, disse.

A alterativa para quem precisa ir para Morro de São Paulo é usar o ferry-boat, desembarcar com Bom Despacho, na Ilha de Itaparica, se seguir de ônibus até a Ponta do Curral, em Valença. De lá, a travessia para Morro é feita em lanchas rápidas. Com conexão, o tempo de viagem fica em 3h20, ou seja, 1 hora a mais que o tempo do percurso saindo diretamente de Salvador para o destino final.

Os meses mais chuvosos de 2021:

Abril – 286,6 mm Julho – 255,5 mm Janeiro – 189,2 mm Junho – 146 mm Maio – 119 mm Março – 62,8 mm Fevereiro – 52 mm

Média de chuvas em julho dos últimos anos:

2021 – 255,8 mm 2020 – 168,2 mm 2019 – 298,3 mm 2018 – 63,7 mm 2017 – 228,4 mm 2016 – 91,5 mm 2015 – 183,9 mm

Bairros mais chuvosos de julho de 2021*:

1. Pirajá (365,2mm)

2. Sete de Abril (358,6mm)

3. Retiro (355,2mm)

4. Capelinha - Vila Picasso (351,6mm)

5. Calçada (335,2mm)

6. Rio Sena (315,7mm)

7. Nova Esperança (315,5mm)

8. Palestina (315 mm)

9. Valéria (311,9mm)

10, Fazenda Grande do Retiro e Periperi (311,6mm)

*Fonte Codesal