Ladeira da Montanha segue interdita após desabamento de casarão tombado pelo Iphan

O imóvel é de propriedade da Conder e faz parte de um projeto de habitação

Publicado em 22 de abril de 2022 às 05:00

. Crédito: Foto: Paula Fróes/CORREIO

A chuva deu trégua para a capital baiana ao longo do feriado de Tiradentes (21), mas os reflexos do solo encharcado e das dificuldades de escoamento da água continuaram a serem sentidos em Salvador. Uma das mais importantes vias de ligação entre as cidades Alta e Baixa, a Ladeira da Montanha permanece interditada nesta sexta-feira (22), após o desabamento de uma parede de um casarão antigo.  

O diretor da Codesal, Sosthenes Macêdo, afirmou, na tarde de quinta-feira, que não havia previsão de quando a Ladeira seria liberada. A via foi interditada para que a Defesa Civil pudesse realizar uma avaliação mais detalhada da situação no local. A Transalvador foi até a região para fazer o ordenamento do trânsito e a Limpurb foi acionada para remover os entulhos. A Codesal não soube informar se outros imóveis corriam risco de desabamento. 

Mesmo tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a construção possuía características de abandono. O casarão estava escorado por vigas metálicas, oxidadas pela exposição ao tempo, sendo que algumas delas já haviam sido retiradas do local. Imóveis localizados no sopé da Ladeira da Misericórdia foram desapropriados pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) nos anos 2000 e integram um programa de habitação. 

Ao ter sido adquirido pela Companhia já em situação de abandono, o objetivo era que o casarão fosse reformado e se tornasse um conjunto de unidades habitacionais, com novas instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias. A Conder não informou o porquê de a construção continuar em estado de degradação mesmo após a desapropriação.  (Foto: Paula Fróes/CORREIO) De acordo com a Companhia, 41 casarões já foram reformados no Centro Histórico e se tornaram moradia para 96 famílias e antigos moradores. As ações são feitas através do Programa de Habitação de Interesse Social (Phis). Após o desabamento, técnicos da Companhia estiveram no local para avaliar a situação e adotar medidas emergenciais.  

Em nota, a Conder reforçou que o desmoronamento do imóvel aconteceu em função do deslizamento de terra provocado pela queda de um muro de contenção em alvenaria, que não está sob responsabilidade da Companhia. A Conder é vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Sedur). 

Tombamento 

O casarão que teve uma parte desabada não é tombado como patrimônio individualmente. Na realidade, a construção integra a poligonal de tombamento do Centro Histórico de Salvador, que é protegido pelo Iphan desde 1983. Antes das fortes chuvas que atingiram a capital nesta semana, o casarão já se encontrava em estado de ruína, segundo o Instituto.  

Entre os anos de 2010 e 2013, os imóveis localizados na Ladeira da Misericórdia foram escorados em uma ação emergencial realizada pela Prefeitura e pelo Iphan. O Instituto afirma que desde então diversas fiscalizações foram efetuadas no local pela Defesa Civil.  

Em 2020, uma Ação Civil Pública foi movida pelo Ministério Público Federal contra a Conder para que a Companhia promovesse intervenções necessárias à conservação dos edifícios. No ano passado, uma sentença em desfavor da Companhia foi proferida. Após o ocorrido, o Iphan assegurou, em nota, que continuará acompanhando os trabalhos de remoção dos entulhos e buscará nas esferas cabíveis a responsabilização do proprietário. 

O desabamento na Ladeira da Montanha foi uma das 289 solicitações registradas pela Codesal somente na quinta-feira (21). Até as 19 horas já haviam sido 50 ameaças de desabamento, 33 ameaças de deslizamento, 83 avaliações de imóveis alagados, entre outros.   

Previsão 

Apesar do céu menos nublado, Salvador segue sob Alerta Laranja de chuvas publicado pelo Instituto Nacional de Meteorologia. Há risco de alagamentos, deslizamentos de encostas e transbordamento de rios. Segundo a Defesa Civil, entre sexta-feira (22) e domingo (24), chuvas fracas a moderadas devem atingir a cidade a qualquer hora do dia.  

Desde o primeiro dia do mês até 21 de abril, foram registrados 353,2 mm de chuva na capital, segundo a estação de referência em Ondina. O volume representa 24% a mais do que a média histórica para o mês inteiro, que é de 284,9 mm. Os maiores acumulados nas últimas 24 horas, com atualização as 17 horas, foram registrados em Mussurunga (50mm), Palestina (49,2mm) e Valéria (48mm).

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela.