Ladrões disfarçados de estudantes roubam alunos em Nazaré

Pais e comerciantes relatam casos frequentes; SSP-BA diz que há policiamento

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  • Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

 O perigo usa farda, e escolar. Criminosos vestidos com uniformes escolares estão assaltando alunos de oito escolas públicas e particulares que ficam no entorno da Avenida Joana Angélica, no Centro da capital. As vítimas são abordadas por outros jovens que se passam por estudantes que roubam celulares.

Só na Escola Sesc Zilda Arns, dez alunos já foram roubados pelos bandidos disfarçados de estudantes. Quem diz é a mãe de um aluno. “Meu filho nunca foi assaltado, mas na sala dele três colegas já foram vítimas. Outros sete também tiveram os celulares levados por eles. Isso é o que a gente tem conhecimento”, contou ela, que preferiu não se identificar.

O pai de alunos da Escola Sesc Zilda Arns, o agente de portaria Marcelo dos Anjos, 47 anos, disse que não abre mão de buscar os dois filhos. “Um deles quase foi roubado por um grupo que usava uma farda de uma [escola] pública. Ele escapou porque acelerou o passo”, contou Marcelo. Estudantes caminham pela Avenida Joana Angélica, onde alunos de oito escolas já foram vítimas (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) Ainda segundo ele, os bandidos usam a farda da Escola Estadual Severino Vieira. “Muitas vezes ficam sentados nas imediações da parte superior do Viaduto de Nazaré. Já teve situações que eles agiram em número de cinco. Outras vezes em dupla”, contou o agente de portaria.

Ameaça Para não chamar a atenção, os bandidos fazem com que uma das vítimas faça a coleta dos objetos. “Um dos alunos é mandado a entregar o celular e depois pegar os aparelhos dos colegas”, contou o agente de portaria. Na maioria das vezes, os ladrões estão sempre de arma branca. “Usam facas, porque é fácil de esconder e não chamam tanto a atenção quanto ao volume de uma arma”, afirmou.

Além da farda escolar, os bandidos abordam as vítimas com outra camisa no ombro. “Depois que roubam, eles retiram a farda e colocam a camisa. Isso tudo para não serem identificados”, disse o agente de portaria.

As escolas cujos alunos são vítimas, de acordo com pais de alunos e funcionários das unidades de ensino, são: Salesiano, Sagrada Família, Escola de Engenharia Eletro-Mecânica do Estado da Bahia (EEEBA), Zilda Arns (Sesc), Educação Infantil (Sesc Nazaré), Teixeira de Feitas e Central.

O trecho mais perigoso é o que compreende o Colégio Salesiano e o Bompreço de Nazaré.“A maioria das escolas está nesse trecho. Depois que eles roubam, descem correndo entre as vielas dos casarões e vão parar na Barroquinha, Baixa dos Sapateiros”, disse um pai de um aluno do Colégio Sagrado.O CORREIO esteve, na tarde de ontem, na Praça Conselheiro Almeida Couto, em frente ao Colégio Salesiano, e tentou falar com cinco comerciantes. Ninguém quis dar entrevista, e um deles confessou que “enquanto tem um falando, outros quatro observam. Aqui a lei é do silêncio”. O único a enfrentar o justificável medo foi Adailton Costa, 47, que vende acarajé e abará na praça há 14 anos. Ele fala que a segurança na região “só piorou” e alega que mudou seu horário de trabalho por conta da violência. Antes, trabalhava das 17h às 22h e, agora, a jornada de trabalho acaba mais cedo, às 20h, por medo dos assaltos.

Um colega que trabalha próximo a um colégio que fica nos arredores da praça diz que já foi vítima de um assalto na ladeira de Nazaré enquanto saía para comprar seus produtos na Feira de São Joaquim. Ele foi abordado por dois homens armados com faca, entregou uma nota de R$ 50 e correu “para não perder o celular”.

Segundo o comerciante, que não quis se identificar, existem bandidos que “batem ponto” na praça, ou seja, já são figuras conhecidas no local e costumam assaltar, preferencialmente, pessoas com farda escolar ou mulheres. Os assaltantes atuam pela manhã, normalmente a pé ou montados em bicicleta.

Antônio Santos é porteiro de um condomínio comercial há 10 anos e atribui a crescente onda de assaltos à redução no número de policiais que atuam na região. Ele também garante que os ladrões “estudam o horário que passa a ronda e conseguem burlar a polícia”. Há quatro meses, uma das lojas que fazem parte do condomínio onde trabalha foi assaltada, e um trabalhador de 52 anos apanhou de um dos bandidos. Pais de alunos disseram que raramente veem policiamento na Avenida Joana Angélica.“Vez ou outra passa uma viatura. Mas os alunos estão aqui todos os dias e, por isso, precisamos de policiais na mesma proporção”, reclamou o pai de um aluno do Colégio Sagrado. Os estudantes Webster, Isaac e os irmãos Albert e Alberto só andam em grupo (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) Como se vê, conseguir o relato de vítimas na região não é das tarefas mais difíceis. A impressão que fica é que todo  mundo já sofreu ou pelo menos presenciou quem tenha sido assaltado no local. O estudante Luiz Paulo, 16, do Colégio Salesiano, contou que “está dando sorte neste ano”, mas que, no ano passado, foi assaltado quando voltava para casa. O garoto cursa o segundo ano do ensino médio e diz que sente “medo de andar na rua. Principalmente em aulas durante a noite”.

O CORREIO encontrou um grupo de estudantes do curso técnico de radiologia que, por conta das ocorrências de assalto, passou a andar junto para voltar para casa. “Ficamos sabendo dos casos dos ladrões agindo com uniformes escolares, mas também usando fardas de empresas”, contou Webster Cardoso, 22, na companhia dos colegas Isaac Bonfim Araújo, 22, e dos irmãos Albert e Alberto Barreto, 19.

Policiamento Com relação às queixas sobre falta de policiamento na região da Avenida Joana Angélica, em Nazaré, o CORREIO entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), que informou, em nota, que “não tem registros sobre os fatos citados”. A justificativa passada pela assessoria é que as vítimas não costumam registrar boletim de ocorrência em casos de furto e roubo de celulares.

A SSP ainda informou que existe policiamento no local através de rondas escolares, feitas pela Companhia Independente de Polícia Militar da área (CIPM/ Barbalho) e Ronda Escolar, que é responsável por medidas fora e dentro das escolas.

* Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier