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Paulo Leandro
Publicado em 18 de novembro de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Meu bom vizinho Lázaro e seu fiel amigo Apolo, um belo e pacífico cachorro, têm nos revelado, nas caminhadas ao amanhecer, o valor da fortaleza interna do torcedor para suportar os males da bola.>
Rubro-negro sem hesitar, passeia sua coleção de camisas, como uma aula andante e viva de história do Decano, tendo aprendido o amigo a alegrar-se com os prazeres oferecidos pelo Onze de Canabrava. >
Assim, mesmo sob os reveses de nove jogos sem vencer, trocando de um professor a outro, pôde o andarilho, à sombra de seu pet, mostrar o quanto a felicidade do clube está sob nosso comando.>
Deu o vizinho merecido carão a quem quis desacreditar no Nego. A recompensa de sua ascese austera veio na goleada de 3x0 sobre o Figueirense, sem emitir juízo de valor, bastaram o placar e o domínio sobre o visitante.>
É esta ausência de perturbação, descartadas as paixões exacerbadas, o modelo a ser multiplicado, dada a indiferença, não em relação aos resultados, mas do julgamento deles, colocado em posição inferior na hierarquia: o Vitória está acima de tudo!>
O desejo do triunfo é esperado, pelo princípio agonístico, originado do grego agon ou conflito, donde a ideia de disputa ou jogo. Quando ele demora nove jogos, a temperança, irmã da fidelidade, conduz à reabilitação.>
De nada adiantam aqueles desprovidos de moderação quererem desfazer de qualidades do treinador, em conteúdos jocosos, ou armarem ardis para desestabilizar o ambiente, como um dia foi comum, antes da Era Gigante, o Libertador.>
O Vitória é clube de presidentes fortes, como no tempo, por coincidência, de um homem rubro-negro e de um cachorro, quando o presidente Pirinho dava a volta na pista da Fonte Nova e acenava para a multidão, em companhia de seu pastor alemão.>
Não se sabe se, por prevenção, Pirinho levava o feroz animal, pois receava a presença de produtores de conteúdo massivo a agitar o ambiente do vestiário, além dos espertos gaveteiros em suas tentativas de dengar jogadores minutos antes do jogo.>
O cálculo prudencial mostra ser o bem, fácil de alcançar, na mesma proporção de poder-se suportar o mal: a racionalidade está no comando quando os afetos saem do controle, seja no exagero das comemorações ou na melancolia das más fases.>
Não se tem um estudo científico confiável sobre a força contida no substantivo Vitória, e o quanto os pensamentos, produzidos para o bem ou o mal, afetam o desempenho do time, mesmo com a torcida a distancia. Vi-tó-ri-á-lalalaiá é um culto, um louvor!>
Causa curiosidade quando aquela bola certa de entrar na nossa meta, bate na trave e sai, ou nosso arqueiro faz novo milagre; assim como há momentos de tudo dar certo, nas conclusões na área e chutes de longe, como ocorreu contra o Figueirense.>
Independentemente do resultado de sexta, contra a Ponte Preta, seu Lázaro, vestido no manto, e Apolo, sairão, antes do sol de sábado nascer, para seu passeio, sem exageros nem depressões, pois nestes torcedores se podem confiar sem margem de erro.>
Mais importante, em relação ao torcedor de ocasião, ensina-nos o bom vizinho, junto a seu amigo, é ser o rubro-negro de sempre, temperante, prudente, moderado, pois com base neste perfil, a alegria de nova vitória do Ne-gô poderá vir ainda mais saborosa.>
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade>