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Dom Sergio da Rocha
Publicado em 25 de abril de 2022 às 05:00
Durante a pandemia nós temos aprendido duramente muitas lições, dentre as quais, a responsabilidade compartilhada no cuidado da vida e da saúde e a revisão de padrões de comportamento e de consumo. A pandemia tem sido uma ocasião especial para refletir sobre o sentido e os rumos dados à própria vida e à vida social. As medidas sanitárias estabelecidas nos levaram a olhar para o outro e a sentir-nos mais responsáveis pelo próximo, principalmente pelo próximo mais fragilizado. À medida que o vírus se difundiu atingindo a todos, especialmente os mais vulneráveis, a pandemia nos levou a reavivar a consciência de sermos uma família sem fronteiras que habita uma casa comum. Temos nos recordado, em meio a situações de enfermidade e morte, que o que fazemos pode ajudar ou prejudicar o outro, pode preservar ou afetar a saúde e a vida do próximo.
Dentre as belas lições que recebemos, está a dedicação generosa e incansável de profissionais da saúde e de outros profissionais que arriscaram a própria vida para prestar serviços essenciais durante as fases mais difíceis da pandemia. Eles não podem ser esquecidos, pois a doação e os sacrifícios que fizeram continuam a produzir frutos. A flexibilização das normas sanitárias parece provocar a “flexibilização” da gratidão aos profissionais da saúde e a outros, que fizeram um bem imenso a tantas pessoas enfermas e a famílias enlutadas. Em meio aos sofrimentos causados pela pandemia, necessitamos reconhecer, com gratidão e louvor, o coração generoso que move tantas mãos estendidas para cuidar, partilhar e consolar. Têm sido inúmeras as iniciativas de solidariedade, de serviço e de partilha voltadas para os doentes, os pobres e fragilizados. Não podemos nos cansar da caridade, nem desistir da solidariedade, especialmente nesta fase da pandemia. A melhoria das condições sanitárias não tem sido acompanhada da melhoria das condições econômicas das famílias, que continuam a necessitar de atenção e de solidariedade.
Nestes dois anos de pandemia, nós aprendemos que o cultivo da espiritualidade é fundamental para o cuidado de si e do outro, especialmente em momentos de crise. Orar e meditar fazendo a experiência do amor de Deus tem sido fonte de serenidade e de esperança, sustento para a vivência do amor solidário. A pandemia nos ofereceu uma ocasião privilegiada para aprender a conjugar mais os verbos orar, amar e servir.
Contudo, quando se retoma o ritmo de vida com menores restrições sanitárias, podem ser facilmente esquecidas as lições aprendidas. É cedo para elencar lições completas ou achar que já não temos mais a aprender. O retorno à “normalidade” não pode implicar na retomada de um estilo de vida desumano, ainda que considerado “normal”. O esquecimento das lições aprendidas pode ser trágico. O aprendizado continua no campo científico, nas relações humanas e sociais, desafiando-nos à uma nova vida.
Dom Sergio da Rocha é cardeal arcebispo de Salvador