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Agência Brasil
Publicado em 6 de dezembro de 2017 às 11:10
- Atualizado há 2 anos
A Liga Árabe convocou para esta quarta-feira (6/12) uma reunião de emergência dos ministros de Relações Exteriores da região para abordar a intenção dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Segundo a agência EFE, também foi convocada uma reunião da Organização para a Cooperação Islâmica para a semana que vem e há a expectativa de tensionamento na cidade santa.>
A convocação da reunião da Liga Árabe para o próximo sábado (9/12) foi solicitada pela Jordânia, a pedido da Palestina, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comunicou a vários líderes árabes sua intenção de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.>
Trump ligou ontem (5/12) para o rei Abdullah II da Jordânia, o presidente egípcio, Abdul Fatah al Sisi, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, para comunicar sua decisão, que pode ser anunciada oficialmente nesta quarta-feira (6/12).>
A Liga Árabe expressou nos últimos dias sua preocupação com as intenções dos Estados Unidos, que julga que podem destruir totalmente o processo de paz e representar uma ameaça à segurança e à estabilidade na Palestina e na região.>
Cooperação Islâmica>
Também foi convocada para a próxima semana uma cúpula de líderes da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), na Turquia, sobre o tema. “Na quarta-feira (13), o nosso presidente [Recep Tayyip Erdogan] será o anfitrião em Istambul de uma cúpula extraordinária de líderes da Organização para a Cooperação Islâmica", disse o porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin.>
O porta-voz acrescentou que hoje mesmo o rei da Jordânia, Abdullah II, chegará em visita a Ancara para se reunir com Erdogan e abordar a questão de Jerusalém. "Desde esta manhã, (Erdogan) também falou por telefone com os chefes de governo ou de Estado de Malásia, Tunísia, Irã, Catar, Arábia Saudita, Paquistão e Indonésia, e segue falando com eles", disse o porta-voz em entrevista coletiva.>
O presidente turco advertiu que a Turquia considera romper suas relações diplomáticas com Israel em resposta a este gesto, que implicaria no reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel e romperia com décadas de convenções diplomáticas internacionais. "Jerusalém é a nossa honra, é a nossa causa comum e, como disse o nosso presidente ontem, é a nossa linha vermelha", acrescentou.>
Em visita a Seul, primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, pediu que Trump reconsidere seu plano. "Na minha opinião, essa decisão de mudar a embaixada dos EUA para Jerusalém poderia aumentar novamente o conflito entre Israel e Palestina, e aumentar o conflito entre religiões", disse Yildrim, em entrevista coletiva.>
Expectativa de aumento da violência>
Com o possível anúncio de Trump, as forças de segurança israelenses se preparam para o risco de aumento da violência na cidade santa. Ontem começaram as consultas de oficiais de Defesa para fazer frente aos possíveis distúrbios e o Exército israelense preparou "um plano com diferentes níveis de alerta que será ativado conforme for necessário", informou o jornal israelense Ha'aretz.>
Segundo o diário, vários batalhões que realizam neste momento treino e manobras foram advertidos de que podem ser destacados ao território ocupado da Cisjordânia no final de semana.>
Contatado pela agência EFE, o porta-voz policial Micky Rosenfeld afirmou que "em geral estamos prontos para qualquer situação", mas disse que por enquanto "não há mudanças no terreno em termos de medidas de segurança policial".>
As facções palestinas convocaram ontem Três Dias de Ira e Raiva Popular, de hoje até sexta-feira (8/12), para rejeitar o que qualificaram de "conspiração (norte) americana contra Jerusalém". Ontem à noite, vários manifestantes queimaram em Belém fotos de Trump e nesta manhã foram registrados enfrentamentos entre grupos de jovens palestinos e soldados israelenses em um posto de controle militar próximo à cidade e no campo de refugiados de Al Aroub, ao norte de Hebron, sem registro de feridos.>
Em Gaza, o Hamas também convocou um "Dia da Ira" na sexta-feira, o que poderia provocar tensão na fronteira. Apesar da chuva, centenas de pessoas se manifestaram nesta manhã na Praça do Soldado Caído para mostrar rejeição à medida. O porta-voz do movimento, Fawzi Barhoum, classificou hoje a decisão de Trump como um "ataque ao direito palestino, árabe e islâmico a Jerusalém" e pediu a todo o mundo que ajude a "frustrá-lo com todos os meios possíveis".>
Para amanhã (7/12), as facções convocaram uma manifestação ao meio-dia em Ramala.>
Líderes manifestam preocupação>
O papa Francisco expressou hoje sua preocupação com a situação e pediu que se respeite o status atual da cidade. "O meu pensamento vai para Jerusalém. Não posso calar minha profunda preocupação com a situação que se criou nos últimos dias", declarou o pontífice, sem citar diretamente o anúncio do presidente dos Estados Unidos.>
Francisco também fez um apelo para que se realizem todos os esforços para respeitar o status quo da cidade, conforme resoluções da ONU. "Jerusalém é uma cidade única, sagrada para os hebreus, cristãos e muçulmanos, que venera os locais santos das respectivas religiões e tem uma vocação especial para a paz, acrescentou.>
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, ligou para o papa comunicar sobre o anúncio de Trump, segundo o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, confirmou à EFE.>
A China também alertou para o risco de agravamento da situação no Oriente Médio. "A situação de Jerusalém é muito complicada e delicada, e as partes implicadas deveriam levar em conta a paz da região", disse em entrevista coletiva o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Geng Shuang. Ele sugere que as partes devem evitar "novos confrontos" e devem influenciar na resolução final sobre o Estado palestino.>
O porta-voz lembrou que a China "sempre" apoiou e promoveu o processo de paz no Oriente Médio e respaldou a "causa justa" do povo palestino e seu direito a ter um Estado independente baseado nas fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como capital.>
A Rússia também manifestou sua preocupação, embora o Kremlin considere prematuro “falar de decisões que ainda não aconteceram", segundo o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov. Ele afirmou que o presidente Vladimir Putin "teve ontem várias conversas telefônicas" com líderes internacionais.>
"A situação não é fácil, e na sua conversa com (o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud) Abbas, expressou justamente sua preocupação com esta situação e com a possibilidade que se agrave".>
Histórico>
Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como capital do seu futuro Estado, está ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e foi anexada em 1980 em uma decisão unilateral israelense que não foi reconhecida pela comunidade internacional.>
Hoje nenhum país tem sua embaixada em Jerusalém, mas sim em Tel Aviv. A transferência da sede diplomática americana seria entendida como o reconhecimento da soberania israelense sobre toda a cidade, incluindo a parte ocupada.>
As grandes crises recentes na região surgiram em torno da cidade santa: em 1996, com os protestos contra os túneis perto do Muro das Lamentações, em 2000, com a ascensão de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas (origem da Segunda Intifada), e em 2015 e 2016 com a onda de ataques após mensagens de que a Mesquita de Al-Aqsa estava ameaçada.>
Com informações da Agência Brasil. >