entretenimento

Livro Conto dos Orixás transforma divindades africanas em super-heróis

Obra do quadrinista baiano Hugo Canuto será lançada hoje, no Teatro Sesi Rio Vermelho

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 06:20

 - Atualizado há um ano

. Crédito: .

Uma história em quadrinhos onde os heróis são divindades africanas. É esse o mote do livro Contos dos Orixás, do quadrinista baiano Hugo Canuto, que será lançado hoje no Teatro Sesi Rio Vermelho, às 19h, em evento com bate-papo e sessão de autógrafos. 

Em 120 páginas, a obra narra a criação do mundo segundo a mitologia yorubá, que influenciou a criação de religiões como o candomblé, a ubanda e a santeria. Tudo ilustrado de forma rica e editado em material de alta qualidade. O lançamento vem em um bom momento para o mercado, exatamente um ano depois de Pantera Negra quebrar recordes no cinema. Primeiro filme do universo Marvel com um super-herói negro, a produção atendeu a uma demanda por representatividade racial no universo das HQS e do cinema, que se refletiu em bilhões de dólares arrecadados e em uma experiência cultural única, com diversos “rolês” mundo afora. Hugo lembra, no entanto, que a ideia de fazer uma HQ em que os heróis fossem orixás tomou fôlego anos antes, em 2016, depois que ele fez uma releitura de ilustrações clássicas de heróis também da Marvel, numa homenagem ao quadrinista Jack Kirby. “Postei nas redes sociais e vi que com aquela primeira experiência a gente conseguiu mexer um pouco com as estruturas, as pessoas interagiram muito, perguntaram do que se tratava, como fazia para comprar. Vi como uma ponte para gente construir um discurso novo e, quem sabe, desfazer visões preconceituosas e intolerantes”, diz o quadrinista, que antes de se aventurar nesse universo, chegou a trabalhar como arquiteto. “Fui arquiteto, mas não era feliz. Sempre gostei de desenhar, sempre amei quadrinho, só que a gente cresce achando que essas coisas não são trabalho”, recorda.

[[saiba_mais]] Decisão tomada, uma preocupação foi como tratar o tema com o respeito e o cuidado necessários. Para isso, Hugo, que estava morando em São Paulo, decidiu voltar à Salvador para se cercar de gente que pudesse lhe orientar.  Dentre as importantes contribuições, estão a do professor Mawô Adelson S. de Brito, que ele conheceu durante o curso de língua e cultura Yorubá, e das sacerdotisas do Terreiro do Gantois. “Com muita generosidade, todos que foram consultados compartilharam um pouco de sua sabedoria, leram o material original e o acompanharam em momentos importantes e, desse somatório de forças positivas, nasceu o projeto”, conta Hugo.  Toda narrativa do Conto dos Orixás situa-se em uma África mítica, de muito tempo atrás, quando o céu e a terra eram como duas metades de uma grande cabaça e seres divinos caminhavam com os homens, trasitando entre o Orum (mundo espiritual) e o Aiyê (mundo físico). A partir do enredo principal, que tem Xangô como figura central, a história vai sendo amarrada à de outros orixás como Exu, Ogum, Oxóssi, Oxum e Iansã. A confecção da obra durou dois anos e meio, entre pesquisa e impressão. “Eram 14, 16 horas de trabalho por dia. O projeto exige uma vivência e houve dedicação e entrega para honrar essa história”, diz.  Parte dos estudos e histórias coletadas estão no extra do livro, que inclui ainda anotações sobre os penteados, arquitetura e indumentária, até o processo de criação da página.

No que depender do que viu na Comic Con, em São Paulo, mês passado, durante o lançamento nacional do livro, a demanda deve ser alta. Na primeira tiragem, foram 2 mil exemplares, quase metade vendida nos cinco dias de evento e outra parte destinada aos colaboradores do financiamento coletivo que viabilizou a produção. No início da semana, foi encerrada uma nova campanha, para a segunda tiragem, dessa vez com cinco mil exemplares.

Contos dos Orixás já têm dado bons frutos: é citado como referência em salas de aula, livros didáticos, pesquisas acadêmicas e exposições no exterior. "O retorno tem sido maravilhoso e muito emocionante. Gente que às vezes nunca leu um quadrinho, porque não escreveram um quadrinho para eles. A gente viu que nosso trabalho abriu a cabeça de muita  gente.. Nos momentos de ansiedade, olho para tudo isso e vejo que vale a pena. Fazer arte para transformar e ressignificar", comemora.