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Murilo Gitel
Publicado em 27 de junho de 2022 às 06:00
Um velho problema de infraestrutura e logística causa preocupação em dois dos principais vetores econômicos da Bahia: a mineração e o agronegócio. Limitações históricas, como a escassez da malha ferroviária para o escoamento da produção contribuem, negativamente, para dificultar a ampliação do mercado de exportação e impedir um desenvolvimento ainda mais pujante.>
Para um estado de grande extensão como a Bahia (território equivalente ao da França), o transporte ferroviário de cargas é imprescindível, visto a sua capacidade de transportar grandes quantidades de produtos a granel, com eficiência energética e segurança. “Um vagão de seis mil toneladas equivale a 173 carretas que deixam de circular em nossas rodovias. Isso tem um impacto ambiental muito importante, pois é menos CO2 (gás carbônico) lançado na atmosfera. Isso tem um impacto também na infraestrutura das estradas, com menos carretas rodando”, compara o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), Humberto Miranda.>
Há 25 anos, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA/VLI) tem deixado diversos trechos em situação de precariedade. O abandono dos trilhos prejudica a logística comercial e gera desinvestimentos na malha. Ao longo dos anos, foram desativados os trechos Senhor do Bonfim-Juazeiro/Petrolina, Esplanada-Propriá, Mapele-Calçada, e parcialmente no Porto de Aratu, o que corresponde a perda de mais de 620 km.>
Cadê os trens? “Os trens sumiram, não transportam nem cargas e nem passageiros. Houve sucateamento da malha. São dez portos/terminais baianos sem acesso ferroviário. Enquanto isso, a FCA/VLI pleiteia a renovação do contrato de concessão por mais 30 anos”, aponta o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antônio Carlos Tramm.>
“O que se espera é que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não conceda a renovação até que a concessionária apresente as devidas explicações sobre o que foi feito por mais de duas décadas e o que será realizado em médio e longo prazo no futuro”, acrescenta o presidente da CBPM.>
Ações territorializadas Ex-secretário estadual de Planejamento e atualmente na coordenação de projetos do SENAI CIMATEC, Walter Pinheiro abordou o tema durante o II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, promovido pela CBPM neste mês de junho. Na ocasião, ele destacou que são necessários planejamento e investimento com foco na melhoria da vida das pessoas, e não apenas na dos negócios.>
“O conceito que estamos trabalhando é territorializar essas ações, mas temos carência de estrutura de logística entre o centro de produção e porto, e entre o centro de produção e a indústria, por isso esse debate é tão importante”, ressaltou Pinheiro, que também falou a respeito do potencial das fontes renováveis de energia, principalmente na região do Semiárido baiano.>
Portos impactados Sem uma malha ferroviária adequada, as cargas provenientes da produção mineral e agropecuária não conseguem chegar até os portos baianos, sendo destinadas para terminais de outros estados. O diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, defende que o corredor Minas-Bahia da FCA seja excluído dessa renovação, licitado ou autorizado. “Nós estudamos profundamente a renovação antecipada da concessão. Quando fomos olhar a proposta, constatamos que não existe a obrigatoriedade de investimentos. São apenas intenções, justificou Villa.>
A FCA alega que investiu, nos últimos anos, R$ 150 milhões nos trechos baianos da ferrovia, além de ter gerado 500 empregos diretos e indiretos. Caso consiga a renovação da concessão, a empresa estima que mais de R$ 3,5 bilhões serão aportados entre a malha que cobre o estado e o Sudeste do país.>
Estudo traçará diagnóstico Com o objetivo de traçar um diagnóstico da situação atual da malha ferroviária na Bahia, a CBPM realizará um estudo em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). Por meio das projeções das demandas atuais e futuras serão traçados cenários prospectivos indicando quais as melhorias e ampliações necessárias para que se viabilizem sistemas multimodais voltados ao transporte das diversas cargas com origem ou destino no estado.>
“O foco deste trabalho estará no transporte de produtos em ferrovias, bem como nos seus potenciais de escoamento nos principais portos da Bahia. Os estudos a serem executados tem foco na projeção de volume de cargas movimentadas no horizonte de curto prazo (cenário-base), médio prazo (2030) e longo prazo (2035)”, detalha o coordenador do projeto na FDC, Bernardo Figueiredo.>
Para identificar gargalos de infraestrutura, avaliar impactos de projetos de implantação de novas infraestruturas e formular planos de infraestrutura, a Fundação Dom Cabral utilizará um software de simulação aplicado à uma rede de infraestrutura cadastrada, georreferenciada e qualificada, que contempla 195 mil km de rodovias, 20 mil km de ferrovias, 17 mil km de hidrovias e 30 portos, além de uma rede de 5 mil km de dutos.>
Porto Sul será implantado pela BAMIN em Ilhéus (Foto: Divulgação) FIOL representa esperança Tanto no setor da mineração quanto da agricultura, existe uma expectativa também sobre a finalização das obras e funcionamento da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que vai ligar Ilhéus, no Sul da Bahia, ao Centro-Oeste para trazer a produção ao Porto Sul.>
A ferrovia está dividida em três trechos, com mais de 1.500 quilômetros. Segundo a ANTT, o primeiro trecho Ilhéus/BA – Caetité/BA conta com mais de 75% de execução física da obra, que desde abril de 2021 é conduzida pela BAMIN. “A FIOL vai tornar a Bahia o terceiro maior produtor nacional de minério de ferro, com potencial para duplicar essa produção”, projeta o CEO da companhia, Eduardo Ledsham.>
A BAMIN utilizará cerca de um terço da capacidade da FIOL. Os outros dois terços serão destinados ao transporte de outros minérios, grãos do agronegócio e fertilizantes, além de outros produtos.>
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