Lojas são interditadas por fiscalização da prefeitura em bairros com isolamento rígido

Só Plataforma teve oito interdições em três horas; Boca do Rio e Centro também registraram lojas abertas

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 12 de maio de 2020 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Max Haack/Divulgação

Nas três primeiras horas de operação para fiscalizar o cumprimento das medidas de isolamento mais rígidas em três bairros de Salvador, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) interditou 10 lojas classificadas como não essenciais em Plataforma, Boca do Rio e no Centro. Os estabelecimentos decidiram abrir mesmo com as medidas de isolamento nessas localidades.  

As medidas iriam começar no sábado, 9, mas com as fortes chuvas que atingiram a capital, foram adiadas para esta segunda-feira, 11. Por volta das 7h, agentes da Sedur e de outros órgãos municipais já estavam espalhados pelos bairros realizando uma série de atividades para controlar a disseminação do coronavírus nesses locais. Até a última atualização desta reportagem, mais de 20 estabelecimentos haviam sido flagrados descumprindo as novas regras nos três bairros, segundo informou a assessoria de comunicação da Sedur.

“Até às 10h, só no bairro de Plataforma, oito lojas foram interditadas. As duas outras foram no Centro e Boca do Rio”, disse o secretário da Sedur, Sérgio Guanabara. O CORREIO esteve em uma dessa lojas interditadas, o Frigorífico Eva, localizado na Rua Hélio Machado, na Boca do Rio.  

Os funcionários chegaram normalmente para trabalhar, pois não imaginavam que as medidas de restrição atingissem os frigoríficos - somente mercados, farmácias, bancos e agências lotéricas podem funcionar.  “Ninguém veio nos avisar antes que não era para abrir. A gente imaginou que, por ser alimento, não teria problema. Temos vários clientes que vieram até aqui e não puderam ser atendidos. Se tudo fosse feito com antecedência, poderíamos ter avisado aos clientes que iriam comprar em grande quantidade e o prejuízo não seria tão acentuado”, disse um funcionário do frigorífico que não quis se identificar.  O açougueiro relatou ainda que o advogado do estabelecimento tenta reverter a interdição e que os funcionários foram remanejados para outras unidades, para não perderem o emprego. A via onde o Frigorífico Eva está localizado é conhecida por ser o fim de linha dos ônibus que atendem o bairro da Boca do Rio, e também por sempre ter uma alta quantidade de ambulantes e de pessoas circulando no local, o que não diminuiu mesmo com a pandemia. 

“Aqui na Boca do Rio estava demais! O povo não estava respeitando o distanciamento. Logo quando começou a pandemia, eu até comprei máscara e comecei a usar e isso era motivo de chacota”, disse a moradora Vilma Sena, 54 anos. Ela afirmou que só tem saído de casa quando é necessário. Hoje, foi para fazer alguns pagamentos na lotérica. “Não sei mais qual vai ser o dia que vou sair de casa, pois já resolvi tudo”, afirmou.  Vilma Sena ficou contente com a adoção das medidas mais restritivas (Foto: Daniel Aloisio/CORREIO) Outra moradora que ficou feliz com as medidas adotadas foi Rosangela dos Santos, 48 anos. “Eu mesma acho a máscara um pouco sufocante, mas prefiro usar algo que incomoda do que ter que precisar de um respirador. É melhor ficar na nossa casa do que em um leito de hospital”, disse, enquanto esperava um motorista de aplicativo chegar para levá-la ao banco.  

Rosangela não sabia que os bloqueios impediam que os motoristas de aplicativo circulassem no bairro. Ela teve que caminhar até um dos pontos de interdição da pista. Com essa operação, só podem circular, nos três bairros determinados, veículos de moradores, apresentando o comprovante de residência, ou ônibus do transporte público. Não há restrição para pedestres.  

A fiscalização do comércio e bloqueio das vias são feitas pelos agentes da Transalvador, Sedur e Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), com o apoio da Guarda Civil Municipal (GCM) e da Policia Militar da Bahia. No entanto, funcionários de outras pastas também atuam nos locais, como os da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que entregam máscara para a população e realizam, em postos fixos, testes rápidos para o coronavírus, e a Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), com a desinfecção das ruas dos bairros Agentes da LImpurb realizam a limpeza das ruas (Foto: Max Haack/Divulgação) Escolhidos 

Segundo o prefeito ACM Neto, a escolha inicial da Boca do Rio, Centro e Plataforma para sofrer essas medidas mais restritivas da circulação foi com base em quatro critérios: 1) quantidade de novos casos de coronavírus no mês de maio; 2) aumento no número de passageiros no transporte público; 3) aumento da quantidade de veículos circulando nas ruas do bairro; e, 4) aumento no número de interdições de estabelecimentos que não estavam cumprindo os decretos municipais. 

“A gente faz um cruzamento diário desses dados e observa quais são os bairros que possuem um potencial de crescimento de novos casos de coronavírus. Por isso, essas intervenções podem chegar a outros locais da cidade”, disse Neto. A partir de quarta-feira (13), a Pituba será outro bairro atingido pelas medidas mais duras no comércio e funcionamento do calçadão da orla. No entanto, a circulação de carros continuará normalmente no bairro. “A Transalvador tem carta branca para analisar com os demais órgãos e decidir alguma mudança”, disse.   O prefeito ACM Neto acompanhou a implantação das medidas de restrição mais rigorosas no Centro de Salvador (Foto: Max Haack//Divulgação) No entanto, não foram todos os moradores dos bairros citados que ficaram felizes com a medida. O barbeiro Vinicius da Costa, 28 anos, da Boca do Rio, entende que a medida deve ser mais flexível. “Eu concordo que temos que fazer o distanciamento social, mas fico preocupado com a situação dos comércios”, disse.  

Os decretos municipais já determinavam que Vinicius não podia abrir seu estabelecimento antes dessas medidas mais duras. Mesmo assim, ele foi até o fim de linha da Boca do Rio para conferir o movimento. “Aqui tinha muitos ambulantes. Agora tem muitos profissionais da prefeitura”, constatou.  

Outro barbeiro que está preocupado com a sua classe é Silas Gianni, 32 anos, que possui uma barbearia na Fazenda Grande do Retiro, seu bairro de residência. Ele soube que ACM Neto estaria no centro da cidade, na manhã dessa segunda, para acompanhar a implantação das medidas mais rigorosas, e foi até o local só para falar com o prefeito.  

“Eu aproveitei a oportunidade para tirar dúvidas sobre a minha categoria, para saber se há um planejamento para retornar as atividades nos nossos estabelecimentos. Felizmente, ele disse que até o final desse mês vai anunciar esse planejamento, que deve ter algumas regras como o uso de máscara e álcool em gel”, disse Gianni.   Silas Gianni foi até o Centro só para falar com o prefeito ACM Neto sobre a sua categoria, dos barbeiros (Foto: Daniel Aloisio/CORREIO)  Pai de dois filhos e vivendo de aluguel, o barbeiro relatou que está com dificuldades para sobreviver nesse período. “Graças a Deus, eu e minha esposa conseguimos o auxílio, mas metade dele só foi para pagar o aluguel. O resto foi para fraldas e comida. Estamos sem trabalhar nesse período”, disse.  

Já outras pessoas ficaram tão contentes com a medida que desejam que elas continuem mesmo com o fim da pandemia. Esse é o caso da moradora Regina Reis, 62 anos, que mora na região da Avenida Sete há 30 anos. “Eu adoro isso aqui livre. A gente vive aqui, paga IPTU e não tem sossego com a quantidade de barracas. Inclusive, colocaram um toldo na minha rua que é foco de ladrão, por ser mais escuro. Minha filha já foi assaltada aqui”, disse Regina.   Moradora do Centro, Regina Reis deseja que a medida se estenda para depois da pandemia (Foto: Daniel Aloisio/CORREIO) Com as medidas, todos os ambulantes foram retirados do local onde costumavam atuar. A prefeitura fez um cadastro com aqueles que trabalham nesses locais e forneceu uma cesta básica para cada um. “A gente já tem um cadastro dos ambulantes, mas atualizamos e fizemos uma nova lista. Só na Avenida Joana Angélica são 426 ambulantes que podem retirar a cesta, independente de já ter recebido outro auxílio”, disse Marcus Passos, secretário de Ordem Pública.