Luís Henrique e o corneteiro Lopes

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Nelson Cadena
  • Nelson Cadena

Publicado em 9 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

A primeira edição do livro A Independência do Brasil na Bahia, do professor Luís Henrique Dias Tavares - editora Civilização Brasileira (1977) - surpreendeu a crítica especializada pela base teórica da narrativa, fundamentada em farta documentação. O escritor e crítico mineiro Francisco Iglesias salientou o fato da obra do baiano contrastar com grande parte da produção historiográfica nativa onde “seus cultores pesquisam e até fetichizam o documento, mas não costumam ter base teórica que permitam extrair deles a riqueza de conteúdo... entregassem à interpretação sem domínio das fontes...consistência discutível, pois resultam da dedução pelo uso do modelo aplicado mecanicamente”.

Iglesias, apenas lamentou o tempo cronológico da narrativa que considerou poderia ter se estendido para além da Batalha de Pirajá. A mesma percepção teve o então diretor da ABI __no ano seguinte eleito presidente - o escritor Barbosa Lima Sobrinho, expressa em artigo publicado na sua coluna semanal do Jornal do Brasil com o título Uma Lenda Subversiva: “No meu entender as falhas que eu poderia apontar no excelente livro de Luís Henrique Dias Tavares, A Independência do Brasil na Bahia, estariam na limitação na faixa de tempo em que se ocupou. Chega-se a ter a impressão de que se está diante de uma lâmina de laboratório, ou de um segmento de anatomia, o que para mim, antes de ser defeito seria merecimento. Favorece o rigor da análise, tanto mais quanto a construção se baseia em alicerces de cuidada documentação, recomendando a fidelidade e os escrúpulos do historiador”.

Lima Sobrinho, destaca a abordagem em torno da lenda do corneteiro Lopes, foco principal de seu artigo, publicado no jornal do Rio de Janeiro: “Para mim a probidade de historiador que é Luís Henrique Dias Tavares está amplamente comprovada no trecho em que se refere ao papel desempenhado pelo corneteiro Luís Lopes, na Batalha de Pirajá. Diz ele: por que preferir o toque de corneteiro do cabo Luís Lopes, ao sangue dos que tombaram ao comando de Barros Falcão e à tenacidade dos oficiais e soldados brasileiros, regulares, milicianos e voluntários, àqueles que guardaram a linha de Cabrita-Campinas-Pirajá?”

“Responde com essa pergunta à lenda, provavelmente espalhada pelos inimigos de Labatut, ou de Barros Falcão, segundo o qual este último havia ordenado o toque de retirada e fora o cabo Luís Lopes que, com o toque de avançar, mudara a sorte das armas e abrira o caminho à vitória de Pirajá. A lenda tem o apoio dos historiadores baianos, de Titara a Acioli e a Braz de Amaral, sem falar nas conferências comemorativas que fazem desse episódio a peça de substância de explosões retóricas, tão ao gosto do temperamento baiano. Mas, tudo não passa de uma versão oral que não encontra amparo na documentação da batalha, que Pereira da Costa recorreu, com sua extraordinária paciência de investigador”.

“Não creio, aliás, que houvesse nenhum merecimento nessa alteração dos toques ordenados pelo comando da tropa, o que vale dizer pelo Coronel Barros Falcão. Fico mesmo a pensar como poderíamos classificar o episódio. Teria sido o medo que fez o corneteiro esquecer as notas da  clarinada? Ou seria, que ainda não estava ao corrente de todos os toques de comando? Eu sou dos que acreditam que, numa situação semelhante, a primeira providência do comando seria mandar prender um corneteiro, que podia expor a tropa a um desastre inexorável... creio que existe no bojo da lenda, que mais parece perfídia do que lenda, outro propósito, que é o de dar a impressão de que havia em Pirajá, um comando inepto, ou covarde”.