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Da Redação
Publicado em 14 de novembro de 2019 às 12:58
- Atualizado há 2 anos
Olá carx leitxr. Tudo bem?>
Como é de seu conhecimento, Lula está em Salvador. E provavelmente deve morar na Bahia. Nada temos contra isso, muito pelo contrário. Mas ele precisa saber de algumas questões: nossa população está cansada de ser desconsiderada. O Afronte a Comunicação, coletivo de comunicadores e comunicadoras negros e negras escreveu uma carta para o ex-presidente. E abro espaço aqui para que essa mensagem circule até chegar no WhatsApp, dele, assim como as correntes de internet. E convido vocês também à reflexão do conteúdo. Boa leitura à todos e todas. >
Carta do Coletivo Afronte à Comunicação:Oi, Lula, bem-vindo a Salvador, Bahia. Bem vindo à cidade que, como você sabe, é a capital brasileira mais negra do país. Você não imagina a alegria para nós do Afronte, coletivo de comunicadores e comunicadoras negras que pautam a questão racial neste estado. Para nós, é uma honra te receber na Bahia, sobretudo em nosso município.>
Ficamos felizes e obviamente motivados quando soubemos que boa parte de suas leituras passaram por intelectuais negros que nos formaram ou são referências ao denunciar o racismo e suas múltiplas formas de atuação. Que bom que, enquanto preso político, você buscou formas de se manter informado sobre como nosso país estava sendo desmantelado e nos convidavam a reagir a cada linha. Um dos nossos grandes nomes intelectuais, Bantu Steve Biko, costumava dizer que a “arma do opressor é a mente do oprimido”. Essa frase nos faz entender a importância de honrar os nossos antepassados negros e negras e os seus legados muitas vezes invisibilizados na história política.>
A verdade Lula é que não existe nada neste país que não tenha a contribuição negra como parte do pacote. Seja balançando bandeiras, indo às ruas defender projetos políticos que não nos incluem ou incluiem a contento como os governos atuais de nosso estado e município. >
A verdade é que por mais que você tenha se informado sobre o que aconteceu e acontece neste país, algumas coisas lhe escapam por conta das velhas oligarquias partidárias brancas que, por motivos diversos, tinham mais acesso a você do que a nós, ainda que estivéssemos na mesma frente de batalha. >
Se hoje os partidos de esquerda têm alguma força, têm por nossa presença extrema, mas invisibilizada na hora da festa. Entendemos que não existe mais acordo para que a maioria da população seja invisibilizada e ignorada em nosso estado e município. >
Somos precisamente 82,7% da população soteropolitana que se declara como não branca. Estamos divididos em 36,5% de pretos e 45,6% pardos. Quem está dizendo isso não somos nós, querido líder, mas dados do IBGE. >
Por que trazer em uma carta para você algo tão óbvio? Simples, querido presidente, esses dados que parecem ser óbvios, não impedem a nossa invisibilidade, ainda que se lute e dispute espaço no dia a dia desta cidade e estado tão perverso e racista, independente do lado político que estejamos.>
A Bahia ainda é o estado onde a população negra segue apagada dos processos de decisão, mesmo que tenha balançado bandeiras e acreditado que os projetos políticos colocados em nosso estado tinham a gente como eixo de desenvolvimento. >
Nossas lutas estão nas ruas, a exemplo do Coletivo Makota Valdina, no combate à intolerância religiosa, e o coletivo Fórum Marielles, criado para ampliar a participação das mulheres negras na política e em outros espaços de liderança e a campanha que gostaríamos de destacar: A campanha Eu Quero Ela, que reúne os negros de esquerda de todos os partidos baianos em prol da representatividade negra no pleito eleitoral de 2020.>
Você deu um grande exemplo na esfera federal ao colocar nomes na linha de frente da gestão pública como Gilberto Gil, Marina Silva, Orlando Silva, Matilde Ribeiro, Ubiratan Castro e Zulu Araújo. É um absurdo que Salvador e a Bahia NUNCA tenham experimentado ter um chefe de executivo negro eleito pelo voto popular (destacando aqui que João Henrique nunca defendeu essa out como central, bens e posicionou como tal, então, não nos contempla). Meu querido presidente, o seu partido, em especial, precisa voltar a dialogar e ouvir o povo, trazer para o centro do debate esse percentual populacional ignorado. >
Não topamos mais ser os executores e fazedores de processos que nos ignoram e neste sentido a campanha Eu Quero Ela não pode ser alijada do centro do debate. Não aceitamos mais que o partido se mantenha no status quo e arrogância de achar que pode indicar uma candidatura não negra para a Prefeitura de Salvador no próximo ano.>
Temos nomes, sabemos quem marcha e marchou conosco ao longo de nossas lutas: Antônio Vovô, Vilma Reis, Olivia Santana, Silvio Humberto, entre tantos outros. Querido, as portas estão abertas para dialogar com os movimentos sociais negros e lideranças que têm construído a luta negra nas diversas perspectivas, inclusive partidária. >
A política baiana não pode mais ser representada em sua maioria por brancos. Não somos militantes que balançam a bandeira sem questionar. Enterramos muitos parentes, vivemos com dificuldades extremas para entender nossa elite partidária, seja ela intelectual ou econômica. E você, nem ninguém mais, nem nenhum partido pode mais ignorar nossos conhecimentos, desprezando ou colocado nossas pautas, opiniões e demandas em segundo plano.>
Assina essa carta ao presidente Lula>
Afronte a Comunicação Coletivo de comunicadores e comunicadoras negros>